O povoamento do atual Bairro Nova Rússia, em Ponta Grossa, é um dos mais antigos da cidade. Ocorreu ainda no final do século XVIII, quando os tropeiros passavam pela região. Miguel Ferreira de Rocha Carvalhais fixou residência no local em 1804 e foi um dos cidadãos que requisitaram a elevação de Ponta Grossa à condição de freguesia.
Nos anos seguintes, a região foi se tornando próspera na construção de moradias, o que foi ocorrendo na medida em que os governos municipais e estaduais investiam em melhorias na infraestrutura, e comerciantes ofereciam novos produtos e serviços. Isaura Carvalho Pauluk, 85 anos, é testemunha ocular de boa parte dessa mudança. Ela mora diante da Praça Getúlio Vargas desde muito antes de existir o local.
Bairro Nova Rússia, em Ponta Grossa
“Quando viemos morar aqui, não existia praça, havia só um campo por onde passavam os porcos, trazidos até um portão grande no final da atual Avenida Ernesto Vilela. Os animais eram trazidos de Guarapuava e Pitanga, por uma gente que vinha a pé. Não havia nem calçamento. A ‘porcada’ vinha pela atual Rua Dom Pedro II, os porcadeiros recolhiam a manada até o ‘portãozão’, bem em frente onde hoje está a rotatória”, recorda, se referindo ao equipamento que hoje coordena o trânsito, não de porcos, mas de veículos.
Segundo ela, os porcos eram confinados em espaço onde havia diversos olhos d’água. Ali os animais esperavam até serem sacrificados para a fabricação de banha, na empresa que ficava ao lado. “Era tudo muito divertido, se não fosse triste”, diz Isaura, bem humorada, que trabalhou como comerciante, dando seguimento ao ofício de seu pai, que foi dono de um boteco chamado Bar Feliz.
Mudanças na praça
O local de chegada dos porcos só começou a ganhar equipamentos na década de 1940, quando consolidou a instalação da Praça Bernardo Garcez. Em 1957, o prefeito Albary Guimarães reformou o local, que recebeu jardim botânico e zoológico, que deu ao local o apelido de Praça dos Bichos, o que deixou a história dos porcos um pouco de lado. O zoológico foi extinto por volta de 1985. Segundo Isaura, uma pequena estrutura ainda mantém características da primeira praça, instalada no local onde hoje está a Praça Getúlio Vargas, na qual idosos se reúnem para jogar damas.
Origem do nome
O Bairro Nova Rússia popularizou seu nome de forma quase instintiva. Como muitos dos que ocuparam primeiro a localidade eram russos e descendentes de russos, o apelido se tornou nome oficial, fixado por força de lei municipal em 1984. Parte da história foi registrada no livro “História do Bairro Uvaranas”, de autoria da escritora Isolde Maria Waldmann. No texto, ela revela que houve tentativa de mudar o nome do bairro, mas que se manteve a homenagem a essa importante parcela de imigrantes que ajudaram a formar o município.
Perfil atual
O bairro hoje reúne um shopping center, supermercados, O Hospital Bom Jesus, igrejas entre as quais se destaca – com sua arquitetura singular – a Igreja Católica Ucraniana da Transfiguração. O bairro conta com importantes centros comerciais, especialmente no entorno da Praça Getúlio Vargas, perto de onde está um dos terminais de ônibus. É caminho para a rodoviária, e conta com a presença de diversas empresas e lojas.
Isolde Maria Waldmann
Isolde Maria Waldmann nasceu em Campo Alegre (SC), em 31 de Março de 1940. Mas foi em Ponta Grossa que viveu, estudou e trabalhou a maior parte de sua vida. Durante 26 anos trabalhou na Prefeitura de Ponta Grossa, onde atuou nos segmentos de Saúde (como auxiliar de Enfermagem), Educação e Cultura (assistente cultural). É professora de História, especializada em História do Brasil. Lecionou por vários anos em Pitanga e em Ponta Grossa. Tem 26 livros editados e 10 antologias de participação. É membro perpétuo da Academia de Letras dos Campos Gerais (ALCG) e membro efetivo da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes (APLA). Atualmente reside na Vila Ana Rita, no Bairro Uvaranas.
Coleção
Isolde Maria Waldmann escreveu 15 livros que contam parte da história dos bairros de Ponta Grossa. O DC realizou, com base em sua pesquisa, uma série de reportagens com o mesmo tema. A autora considerou legislação em vigor até o início dos anos 2000, motivo pelo qual deixou de abordar o Bairro Piriquitos (vizinho aos bairros Chapada e Boa Vista), cuja criação legal só ocorreu em 2009. Os livros da coleção são produção independente, e podem ser adquiridos diretamente com a autora, pelo telefone (42) 3222-2213.
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