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Bairro Oficinas guarda marcas das ferrovias de Ponta Grossa

Leondino recorda os tempos que consertava locomotivas no pátio das oficinas (Foto: José Aldinan )

É de se admirar que, em uma cidade com topografia tão acidentada, tenham sido as ferrovias que impulsionaram o desenvolvimento de Ponta Grossa no início do século XX. Mas os trilhos percorriam justo os locais mais planos da cidade. Com a retirada das linhas férreas, principalmente nos anos 1990, algumas marcas permanecem, especialmente no Bairro Oficinas, em Ponta Grossa.

História do Bairro Oficinas em Ponta Grossa

Essa importância é descrita no livro História do Bairro Oficinas, de autoria da professora Isolde Maria Waldmann. Ela conta que o povoamento na localidade se origina ainda no início do século XVIII, quando os primeiros tropeiros passavam pela região, que estava na margem do Caminho das Tropas, em um tempo que Ponta Grossa ainda não era freguesia, e pertencia a Castro.

Segundo a pesquisadora, na região havia sido estabelecida uma mina de ferro, fazendo com que a área se configurasse em trajeto plano e sem árvores. Esse aspecto deu à região o nome inicial de “Pelados”, tal qual ocorreu na região de Serra Pelada, no Pará, onde o garimpo de ouro fez a paisagem ficar sem vegetação.

Já nos tempos de expansão das ferrovias, a área foi escolhida para a criação de um complexo de manutenção de ferrovias para o trecho entre São Paulo e Rio Grande. O local era destinado a manobra de máquinas, armazenamento de comboios, estações de cargas e passageiros, depósito de vagões, tratamento de dormentes e oficinas de locomotivas e vagões. Esse último serviço, e o fato de muitos trabalhadores das ferrovias virem morar no entorno, conferiu ao bairro o nome Oficinas, e criou a Vila dos Ferroviários.

Parque Linear

Quando o uso da ferrovia estava consolidado, uma locomotiva apelidada de “Ildinha” transportava os funcionários das ferrovias do Centro da cidade para o Bairro Oficinas, várias vezes ao dia, até um antiga estação de passageiros. Conforme narrado por Isolde, numa manhã, após a colisão de um trem, a estação ficou danificada. Posteriormente, o espaço foi deixando de ser utilizado. Hoje, restos dessa estação podem ser vistas por aqueles que praticam caminhada no Parque Linear. O parque foi instalado nos últimos quatro anos, no espaço onde antes passavam os trens. Em alguns pontos, ainda é possível ver os dormentes encobertos pela vegetação.

Crescimento do bairro

Nessa trajetória, o Bairro Oficinas se tornou um dos mais completos, recebendo posteriormente a instalação de igrejas, escolas, comércio. O time de futebol da cidade, Operário Ferroviário Esporte Clube, nasceu e foi formado pelos operários das ferrovias. O Estádio Germano Krüger está a poucos metros do local onde ainda estão os restos de imóveis e de vagões que compunham as antigas oficinas da extinta Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). Motoristas mais antigos ainda reduzem a velocidade ao subir pela Rua Emílio de Menezes e acessar a Avenida Visconde de Mauá, onde os trilhos de trem ainda estavam até poucos anos atrás. O bairro, predominantemente residencial, agora começa a receber edifícios.

Manutenção de locomotivas

Leondino Ricardo, 86 anos, trabalhou por 35 anos fazendo a manutenção de locomotivas. Ele lembra de ter atuado no conserto da locomotiva “Isoldinha”, entre outros serviços que desempenhou. À época, a empresa de ferrovias oferecia moradia aos funcionários, o que deu origem à Vila dos Ferroviários e ao endereço de Leondino que, mais tarde, adquiriu o imóvel. Ele mora no mesmo endereço até hoje.

Isolde Maria Waldmann

Isolde Maria Waldmann nasceu em Campo Alegre (SC), em 31 de Março de 1940. Mas foi em Ponta Grossa que viveu, estudou e trabalhou a maior parte de sua vida. Durante 26 anos trabalhou na Prefeitura de Ponta Grossa, onde atuou nos segmentos de Saúde (como auxiliar de Enfermagem), Educação e Cultura (assistente cultural). É professora de História, especializada em História do Brasil. Lecionou por vários anos em Pitanga e em Ponta Grossa. Tem 26 livros editados e 10 antologias de participação. É membro perpétuo da Academia de Letras dos Campos Gerais (ALCG) e membro efetivo da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes (APLA). Atualmente reside na Vila Ana Rita, no Bairro Uvaranas.

Foto da escritora Isolde Maria Waldmann, autografando um de seus livros
Isolde Maria Waldmann, escritora e pesquisadora dos bairros de Ponta Grossa / FOTO: José Aldinan

Coleção

Isolde Maria Waldmann escreveu 15 livros que contam parte da história dos bairros de Ponta Grossa. O DC realizou, com base em sua pesquisa, uma série de reportagens com o mesmo tema. A autora considerou legislação em vigor até o início dos anos 2000, motivo pelo qual deixou de abordar o Bairro Piriquitos (vizinho aos bairros Chapada e Boa Vista), cuja criação legal só ocorreu em 2009. Os livros da coleção são produção independente, e podem ser adquiridos diretamente com a autora, pelo telefone (42) 3222-2213.

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