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Bairro Neves e a história do caminho das tropas em Ponta Grossa

Moradora do Bairro Neves de Ponta Grossa.
Foto: José Aldinan

O Bairro Neves constitui uma das regiões de Ponta Grossa que mais cresceram, em população, ao longo dos últimos anos. O panorama é reflexo da criação de núcleos como Costa Rica, Jardim Londres e Jardim Panamá. No entanto, essa expansão vinha ocorrendo, ainda que a passos mais lentos, antes mesmo dos mais novos programas federais voltados à habitação, nem sempre com facilidade.

No final do século XIX, a proposta era povoar a região antes conhecida como Colônia Otávio, em núcleos formados por imigrantes que pudessem fortalecer a mão-de-obra na região. No local foram instaladas 16 núcleos colônias. O Núcleo Rio Verde, hoje localizado no centro do bairro, foi considerado fracassado em sua origem, conforme descrito pela pesquisadora Isolde Maria Waldmann em seu livro “História do Bairro Neves”.

“Só 30% dos imigrantes permaneceram, e não se dedicavam a nenhuma atividade econômica, vivendo na maior ociosidade (…). As autoridades estaduais atribuíram essa falta de iniciativa dos imigrantes ao costume adquirido na Rússia, nos meses de inverno, de permaneceram em casa, sem atividade agrícola”, diz a escritora.

A origem do nome

A exemplo de outras vilas e bairros de Ponta Grossa, o Bairro Neves adquiriu esse nome em referência ao nome de um dos proprietários das terras com chácaras que, mais tarde, deram lugar às moradias.

“Seu João Neves [ou Jean Néws, no original] foi um francês que veio para cá no final do século XIX e vendeu as terras para os italianos, entre os quais se destacaram as famílias Borsato e Nadal, que tinham suas casas perto do antigo Seminário Josefino”, diz Isolde, se referindo às imediações da atual Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora.

Jesuítas e tropeiros

A ocupação original da região remonta ao início do século XVIII, ainda em divisa com a atual região de Carambeí. Em 1724, os padres jesuítas foram alguns dos primeiros a fixar residência na localidade, ainda que em ponto mais distante. A Capela Santa Bárbara, imóvel tombado pelo Compac, ainda guarda as lembranças desse período. Nos séculos XVIII e XIX, as terras do Bairro Neves pertenceram a muitos sesmeiros. No final do século XIX, imigrantes russos e alemães ocuparam a região, financiados pela Província do Paraná. A região recebeu a estrada de ferro naquela época, no mesmo traçado já estabelecido como antigo caminho das tropas, já que as propriedades eram usadas como invernada para as tropas de muares em passagem pela região.

Panorama atual

O Bairro Neves conta com diversas vilas, entre as quais a 31 de Março se destaca, tendo um centro comercial e uma formação curiosa. Inaugurada em 1969, foi construída para atender à classe média, com estrutura de calçamento, iluminação elétrica, posto de saúde, posto policial, escola, igrejas. Era um dos conjuntos habitacionais mais completos na época. Hoje chama a atenção a largura estreita de suas ruas, muitas das quais permitem apenas a passagem de um veículo por vez.

Isso não incomoda Marilda Soares, 75 anos, que nunca teve vontade de dirigir. Ela se diz acostumada a viver na Vila 31 de Março. Veio de Arapoti morar com a família há mais de 30 anos. “Acho boa a estrutura da vila. A gente mora tranquilo aqui, e considero perto do Centro. Qualquer coisa, é só pegar o ‘Trinta e Um’”, diz, se referindo ao ônibus que faz a linha centro-bairro.

O bairro é predominantemente formado por moradias, com poucos prédios, e faz ligação com várias regiões da cidade, inclusive com municípios vizinhos como Carambeí, sendo rota para atrativos turísticos como a Represa de Alagados, a Cachoeira do São Jorge e a Capela Santa Bárbara.

Isolde Maria Waldmann

Isolde Maria Waldmann nasceu em Campo Alegre (SC), em 31 de Março de 1940. Mas foi em Ponta Grossa que viveu, estudou e trabalhou a maior parte de sua vida. Durante 26 anos trabalhou na Prefeitura de Ponta Grossa, onde atuou nos segmentos de Saúde (como auxiliar de Enfermagem), Educação e Cultura (assistente cultural). É professora de História, especializada em História do Brasil. Lecionou por vários anos em Pitanga e em Ponta Grossa. Tem 26 livros editados e 10 antologias de participação. É membro perpétuo da Academia de Letras dos Campos Gerais (ALCG) e membro efetivo da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes (APLA). Atualmente reside na Vila Ana Rita, no Bairro Uvaranas.

Foto da escritora Isolde Maria Waldmann, autografando um de seus livros
Isolde Maria Waldmann, escritora e pesquisadora dos bairros de Ponta Grossa / FOTO: José Aldinan

Coleção

Isolde Maria Waldmann escreveu 15 livros que contam parte da história dos bairros de Ponta Grossa. O DC realizou, com base em sua pesquisa, uma série de reportagens com o mesmo tema. A autora considerou legislação em vigor até o início dos anos 2000, motivo pelo qual deixou de abordar o Bairro Piriquitos (vizinho aos bairros Chapada e Boa Vista), cuja criação legal só ocorreu em 2009. Os livros da coleção são produção independente, e podem ser adquiridos diretamente com a autora, pelo telefone (42) 3222-2213.

Confira a história dos bairros de Ponta Grossa

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