O Bairro Ronda, em Ponta Grossa é, para muitos, a primeira impressão da cidade aos viajantes que chegam, a partir da rodovia BR-376. Quando o ônibus de viagem está próximo da rodoviária, é a Avenida Visconde de Taunay que o passageiro vê, ainda sonolento, ao abrir a cortina que o separa da janela do veículo. Para João Abib, 92 anos, o cenário foi visto à exaustão. Isso porque ele viveu a maior parte de sua vida trabalhando como caminhoneiro.
Bairro Ronda
Abib recebeu a reportagem do Diário dos Campos e portal dcmais para contar algumas de suas lembranças do Bairro Ronda, como parte da série que revela aspectos do surgimento dos bairros de Ponta Grossa. O diálogo contou com a ajuda da cuidadora Elisabete Andrzejeski, que mediou a entrevista.
Pela Visconde de Taunay, Abib passou diversas vezes de caminhão, até chegar a sua residência após longas viagens. Estacionava diante da moradia, na Rua Marquês do Paraná, onde nasceu e se criou. Mas, das primeiras décadas do século XX para a segunda década do século XXI, muita coisa mudou.
“Agora é tudo moderno. Antigamente era só carroça. Morei em uma casa antiga, quando tinha só meia dúzia de casas na Avenida Visconde de Taunay, e duas ou três casas simples, de madeira, na Marquês do Paraná”, recorda Abib, se referindo à rua paralela à avenida endereço da prefeitura municipal, conhecida popularmente como “Palácio da Ronda”, e que fica ao lado da Câmara Municipal de Vereadores.
Ladrões
Em volta da casa, cavalos pastavam soltos. Não tinha problema de roubo de animais, mas Abib sabe que não foi sempre assim. “O nome do bairro é Ronda, porque tinha muito ladrão. Então, tinha que fazer rondas pra evitar o roubo”, disse, contando o que sabia sobre um tempo ainda anterior à sua lembrança, porque a ampliação do policiamento fez com que o problema fosse gradativamente controlado.
Pouso de tropeiros e soldados
A escritora Isolde Maria Waldmann explica que o roubo de animais foi tão comum, no início da formação do bairro, que fixou o nome da localidade. “O roubo de animais era frequente no início dos anos 1700. A Ronda era um dos locais de pouso dos tropeiros, e uns precisavam ficar acordados para cuidar do gado e do rebanho, enquanto outros dormiam”, conta a professora. Em seu livro “História do Bairro Ronda”, ela também recorda que o local abrigou soldados que vinham de São Paulo para Florianópolis, no intuito de impedir que a Espanha tomasse a ilha de Santa Catarina, em 1876.
Isolde Maria Waldmann
Isolde Maria Waldmann nasceu em Campo Alegre (SC), em 31 de Março de 1940. Mas foi em Ponta Grossa que viveu, estudou e trabalhou a maior parte de sua vida. Durante 26 anos trabalhou na Prefeitura de Ponta Grossa, onde atuou nos segmentos de Saúde (como auxiliar de Enfermagem), Educação e Cultura (assistente cultural). É professora de História, especializada em História do Brasil. Lecionou por vários anos em Pitanga e em Ponta Grossa. Tem 26 livros editados e 10 antologias de participação. É membro perpétuo da Academia de Letras dos Campos Gerais (ALCG) e membro efetivo da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes (APLA). Atualmente reside na Vila Ana Rita, no Bairro Uvaranas.
Coleção
Isolde Maria Waldmann escreveu 15 livros que contam parte da história dos bairros de Ponta Grossa. O DC realizou, com base em sua pesquisa, uma série de reportagens com o mesmo tema. A autora considerou legislação em vigor até o início dos anos 2000, motivo pelo qual deixou de abordar o Bairro Piriquitos (vizinho aos bairros Chapada e Boa Vista), cuja criação legal só ocorreu em 2009. Os livros da coleção são produção independente, e podem ser adquiridos diretamente com a autora, pelo telefone (42) 3222-2213.
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