Se fosse preciso estabelecer uma região de Ponta Grossa, na qual tiveram início os atendimentos assistenciais à população em situação de vulnerabilidade social, essa região seria o Bairro Órfãs. Em 1935, o então prefeito Albary Guimarães viu que havia a necessidade de prestar serviço de acolhimento a crianças e adolescentes abandonados.
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Teria ele declarado: “Difícil tem sido aso poderes públicos de Ponta Grossa respeitar e fazer respeitar os textos legais atinentes ao amparo dos menores abandonados, devido à falta de um asilo que possa abrigar esses infelizes”. Desse pensamento, em comum acordo com personalidades ligadas à filantropia, a região recebeu a construção de um Abrigo de Menores. O educandário se tornou ponto de referência, popularizando o nome “Bairro das Órfãs”.
A descrição está no livro “História do Bairro Órfãs”, de autoria da escritora Isolde Maria Waldmann. Não foi a única iniciativa voltada ao atendimento em assistência social. Quase 10 anos antes, em 1926, o Asilo São Vicente de Paulo também já atendia esse público. Com o passar do tempo, seu foco passaria a ser os idosos, os quais são acolhidos até hoje no mesmo endereço, no Bairro Órfãs.
Eram tempos nos quais as rotinas eram totalmente outras na cidade. A Rua Balduíno Taques, uma das mais importantes ligações entre o bairro e o Centro, serviam para a formação de raia em linha reta para corrida de cavalos. Eram as chamadas “carreiras”. A localização era estratégica, oferecendo opção de lazer às famílias menos abastadas.
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A prática persistiu até final do século XIX, quando a via começou a ser usada para que a população jogasse futebol. Isso e o crescimento da cidade fizeram os carreiristas se instalarem em outros locais como Ronda, Oficinas e Uvaranas.
Asilo e paróquia
Além do Asilo São Vicente de Paulo, outra construção que se destaca e serve de símbolo para o Bairro Órfãs é a Paróquia São José, que ficou conhecida por muitos anos como “a Igreja de Pedra”, em função de sua arquitetura singular. É curioso, mas foi a capela do asilo que, em 1934, recebeu primeiro os Missionários Redentoristas. A comunidade cristã só foi ter a própria igreja em 1941, após quatro anos de obras.
Salgados para o clube
Nas proximidades da igreja também existiu o Clube Vasco da Gama, fundado em 1945 e que, por mais improvável que pareça, acabou promovendo a venda de empadinhas. Neusi Ribeiro de Souza, 76 anos, administra hoje as “Empadinhas Otto”, cujo salgado iniciava fama naquela época. “Meu pai, Otto Ewy, tinha acabado de ficar desempregado, e o compadre dele estava inaugurando o Clube Vasco da Gama. Convidou meu pai para servir alguma coisa no evento, e a escolha foi pelas empadas”, explica Neusi.
Hoje o clube não existe mais, mas a panificadora se manteve firme. Ainda hoje, é ponto de referência para quem busca se localizar no bairro.
Origem do nome
Há uma explicação alternativa para o nome do bairro. Em sua pesquisa, a escritora Isolde Waldmann entrevistou uma das moradoras, que relatou uma história que foi transmitida entre gerações. “No início do povoamento da região, um casal com três filhos era dono da maior parte do que hoje é a área compreendida pelo bairro. A mãe veio a falecer, entristecendo a cidade e deixando a região conhecida como ‘próximo à casa das órfãs’”, diz.
Coleção
Isolde Maria Waldmann escreveu 15 livros que contam parte da história dos bairros de Ponta Grossa. O DC realiza, com base em sua pesquisa, uma série de reportagens com o mesmo tema. Os livros da coleção são produção independente, e podem ser adquiridos diretamente com a autora, pelo telefone (42) 3222-2213.