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Por que Vargas deixou o lenço branco em Ponta Grossa?

Getúlio Vargas chegou a Ponta Grossa com um lenço branco, mas saiu usando um lenço vermelho

No dia 17 de outubro de 1930, às 14h35, Getúlio Vargas entrou festivamente em Ponta Grossa, recebido por cerca de seis mil pessoas em seu caminho rumo ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Líder da Aliança Liberal e da Revolução, vinha pelos mesmos trilhos que, 40 anos antes, trouxeram Gumercindo Saraiva, chefe militar na guerra federalista. 

Muito antes, em 1835, emissários farroupilhas também visitaram a cidade polo dos Campos Gerais. À sua chegada com as tropas revolucionárias, depois de discursos e homenagens, foi ele colocado num “Chevrolet – Pavão” com a tolda arriada e empurrado pelo povo por diversas ruas, até o centro. Paralelamente, forças governistas e aliancistas travavam violentos combates na fronteira do Paraná com São Paulo, disso resultando a morte do rapaz ponta-grossense Latino Magalhães Bravo, engenheiro agrônomo e funcionário do Banco Pelotense, comissionado no posto de tenente. 

Sua morte gerou intensa comoção na cidade, não só porque se tratava da primeira vítima fatal das forças rebeldes, mas também porque o morto e seus familiares gozavam de vasto círculo de amizade. Por isso mesmo, o prefeito Jorge Becher mandou abrir as portas do Paço Municipal, a fim de que ali acontecesse o guardamento.

O lenço branco de Getúlio Vargas em Ponta Grossa

Getúlio, logo na manhã do dia 18, sabedor do que ocorrera, saiu dos vagões que lhe serviam de alojamento e, juntamente com seu Estado Maior, dirigiu-se até a Prefeitura, aproximando-se da urna funerária que era ladeada pelos pais de Latino. Num gesto instintivo, rumou para o lado da mãe do jovem que, ao vê-lo, olhos enxutos e braços distendidos, disse-lhe com voz embargada mas firme: “Dr. Getúlio, peço-lhe que não lamente a morte do meu filho. Se eu tivesse outro, mandava-o logo ocupar o lugar deste para ajudá-lo a vencer e a chegar o mais depressa ao Catete”.

Conta Luiz Vergara, secretário particular de Vargas que a tudo assistira, que a mãe de Bravo, em seguida, segurou-se a Getúlio num amplo abraço, prorrompendo em soluços: “a cena causou profunda comoção. A fisionomia de Getúlio Vargas contraiu-se, mas ele se manteve sereno e não se mexeu. Deixou paternalmente que aquela mãe, trespassada por profunda dor, continuasse chorando com a cabeça encostada ao seu peito…”.

Getúlio Vargas chegou a Ponta Grossa usando um lenço branco no pescoço

Vencido esse instante, o líder aliancista se aproximou do ataúde, retirou do pescoço o lenço de seda branca de republicano riograndense (= farrapo), depositando-o sobre o peito de Latino como se fora uma condecoração. Então, alguém se acercou dele e colocou-lhe no pescoço um lenço vermelho, marca e sinal dos maragatos/federalistas que, a partir desse instante, passou a ser o “símbolo da Revolução de Outubro”.

*Este texto integra a coluna Memória Viva, de autoria do pesquisador Josué Corrêa Fernandes, e publicada semanalmente no jornal Diário dos Campos. Clique aqui para ler alguns outros textos do autor no DCmais

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