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As lições de Maslow e o pequeno imperador

Robson Couto da Silva

Doutor em Engenharia de Produção pela UTFPR

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            Abraham Maslow (1908-1970) foi um psicólogo humanista norte-americano responsável pela Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas, também conhecida como Pirâmide de Maslow.

Nessa teoria as necessidades humanas são divididas em cinco categorias, que vão desde nossos anseios mais básicos (relacionados à nossa sobrevivência) na base da pirâmide até a autorrealização, em seu topo. Segundo Maslow, cada indivíduo somente tende a desejar um novo estágio quando satisfaz os desejos da categoria onde se encontra.

Primeiramente, as principais necessidades a serem atendidas são as fisiológicas, tais como: sono, alimentação, sexo e excreção. Nessa fase a pessoa procura evitar a fome, a sede, a falta de moradia e outros fatores que colocam em risco sua sobrevivência. A segunda categoria se remete à segurança (emprego, saúde, bem-estar da família).

As duas próximas etapas são relacionadas às necessidades psicológicas: sociais (elevar o nível de relacionamento com outras pessoas) e estima (procura-se a aceitação, respeito, reconhecimento, admiração, prestígio e poder).

Finalmente, a última categoria é ligada à realização pessoal, em que se busca aproveitar todo o seu potencial para fazer o que se gosta e alcançar o autocontrole. Nessa fase também se atinge a maior moralidade e se busca resolver problemas relacionados à injustiça e desonestidade.

Apesar da Teoria de Maslow ser criticada por alguns estudiosos, os quais defendem que cada indivíduo atua de maneira distinta ou que não se necessita satisfazer uma necessidade para que se busque a seguinte, muitos trabalhos na área de recursos humanos e gestão de pessoas ainda se baseiam em suas contribuições.

A partir da pirâmide de Maslow podemos gerar um paralelo entre os diferentes comportamentos das pessoas ao longo das nossas gerações mais recentes. Por exemplo, a população que viveu antes da metade do século XX passou por guerras e consequentemente escassez de recursos, inclusive de alimentos. Grande parte dessas pessoas se encontrava na base da pirâmide e a necessidade de garantir as necessidades fisiológicas e posteriormente a busca por segurança financeira para a família criou indivíduos muito fortes psicologicamente e comprometidos.

Até hoje percebemos nas indústrias pessoas com idades mais avançadas que são extremamente responsáveis quanto às suas obrigações e ao mesmo tempo com receio da perda do emprego, o que levaria a não se poder arcar com o orçamento familiar. O grande efeito colateral dessa geração foi que se criou um excessivo apego aos bens materiais e acúmulo de riquezas e muitas vezes o lazer e a socialização ficavam em segundo plano.

Com o avanço da tecnologia e da industrialização, a facilidade de se obter bens de consumo e também informação aumentou. Com isso, as novas gerações não tiveram que passar por problemas da base da pirâmide e muitas vezes o comprometimento dos pais impediu que tivessem também qualquer insegurança financeira ao longo de sua infância. Dessa forma, esses indivíduos frequentemente já ingressaram de forma direta no centro da pirâmide, onde se procura maior inter-relacionamento e aceitação na sociedade. Com isso, vemos pessoas com maior sensibilidade e menor apego financeiro.

Porém, talvez por essas pessoas não terem passado por estágios anteriores da hierarquia elencada por Maslow, não estão preparadas psicologicamente para grandes pressões e responsabilidades da vida adulta. É aí que vemos nos últimos anos o crescente número de pessoas com depressão e crise de ansiedade, além da falta de motivação para realização de atividades que não são atrativas.

O psicoterapeuta brasileiro Leo Fraiman em seu livro A Síndrome do Imperador relata que estamos tão engajados em satisfazer as vontades de nossos filhos, que estamos criando, de certa forma, pequenos imperadores que não aprendem a esperar, negociar e principalmente a se frustrar. Com isso, criam-se pessoas que no futuro tendem a ser gastonas, ansiosas e às vezes até neuróticas. Dessa forma, esses indivíduos não estão preparados para lidar com rejeições em relacionamentos, cobranças por resultados em seu emprego e com negativas vindas de outras pessoas.

É a partir desse ponto que temos a crescente procura por drogas lícitas e ilícitas, além do suicídio como soluções para os problemas atuais. Mas então, qual seria a maneira de enfrentarmos e tratarmos essas situações tão delicadas em nossos dias? Discutiremos isso em nosso próximo artigo. Até lá!

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