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A dor e o sofrimento não toleram discriminação

 

Só posso considerar como mais um ato de desrespeito ao povo do Paraná o anúncio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, que liberou R$ 140 mil para a assistência às vítimas das chuvas no nosso Estado. Depois, em um ato que talvez considere de extrema benevolência, fez um segundo aporte de R$ 206 mil.

Mais de 492,5 mil pessoas foram afetadas pelos temporais. Dez pessoas morreram, 30 ficaram feridas e dez estão desaparecidas devido às enxurradas. O número de pessoas desalojadas é de 27 mil, e há 4.698 desabrigados. Mais de 8,4 mil residências foram danificadas e 131 municípios estão em situação de emergência. Ao todo, 142 municípios foram atingidos pelo mau tempo, que infelizmente não dá sinal de recuo e aumenta os riscos e a tensão da população. O drama de muitas famílias é quase irreparável, principalmente para quem perdeu um parente ou viu sua casa se desmanchar com a força das águas arrastando o sacrifício de uma vida inteira.

Para ajudar a diminuir esse sofrimento, a solidariedade é um dos remédios. O outro, que considero uma obrigação, é o pronto atendimento que toda a estrutura pública – prefeituras, governo do Estado e governo federal – deve oferecer. Estamos falando de ajuda material e financeira para reerguer as pessoas, alimentá-las e oferecer uma estrutura básica de abrigo. E, em um segundo momento, criar condições para que a vida volte ao normal, com acesso ao trabalho, escola, serviços básicos e a reconstrução do que foi perdido.

A ajuda que o governo federal anunciou para o Paraná, mesmo com a segunda remessa, soma R$ 346 mil e representa mísero R$ 0,70 por cidadão prejudicado pelas chuvas. Ora, esse valor é insuficiente sequer para comprar um litro de água ou um litro de leite, itens essenciais de que muitas famílias desabrigadas estão precisando com extrema urgência.

A notícia sozinha já seria uma afronta, um desrespeito, um escárnio para com o sofrimento dos paranaenses, mas ela fica ainda pior quando vejo no mesmo site da Agência Brasil, do governo federal, que o repasse para ajudar as vítimas da chuva em Santa Catarina será de R$ 3 milhões.

Sob hipótese alguma estou pedindo ou sequer pensando que os nossos irmãos catarinenses deveriam receber menos. As mesmas tragédias que causaram dor e prejuízo aqui repetiram-se em igual desgraça em Santa Catarina e são inteiramente justas a atenção e os cuidados que o governo federal dispensa ao estado vizinho. Mas não podemos compreender as razões do tratamento (tratamento?) tão absurdo dispensado ao Paraná. Não posso aceitar calado este preconceito.

Que o governo federal há muito vem tratando o Paraná com perseguição, isso é um fato público. Agora, porém, chegou ao limite o requinte da crueldade para com o povo trabalhador deste meu estado. Talvez falte sensibilidade. Talvez falte maior representação política ao nosso estado. Talvez a contribuição diária do Paraná seja insuficiente para que a União nos veja com maior atenção. Ou, pior ainda, talvez a dor e o desespero daqueles que perderam o pouco que tinham não mereça maior solidariedade das autoridades confortavelmente instaladas em Brasília.

Como otimista, vou continuar acreditando que ainda dá tempo de as coisas mudarem. Que o pensamento de quem está planejando essa ajuda se transforme e que a ajuda digna aos paranaenses ainda venha de Brasília. O Paraná aguarda essa mudança.

 

Valdir Rossoni, deputado estadual, é presidente da Assembleia Legislativa do Paraná

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