No dia 20 de novembro de 2023, um forte temporal atingiu diversas regiões de Ponta Grossa, provocando destelhamentos e quedas de energia. Entre as imagens mais emblemáticas deixadas pelo vendaval esteve a queda de árvores com décadas de existência. Duas delas desabaram, com raiz, na Praça Duque de Caxias. Outra caiu na Praça Barão do Rio Branco, no Ponto Azul. Na última quinta-feira (21), novo vendaval atingiu a cidade, e outras árvores caíram. Uma delas, novamente, no Ponto Azul.
Duas coisas chamam a atenção nisso: a primeira delas é que, no Ponto Azul, as duas árvores que caíram, com intervalo de quatro meses, foram ao chão em circunstâncias muito parecidas. Ambas estavam plantadas em uma espécie de vaso de concreto, e as duas tinham quase nenhuma raiz (leia matéria a respeito). Ou seja, poderiam ter caído a qualquer momento, talvez até atingindo uma pessoa.
O segundo item que merece destaque é que, passados quatro meses do temporal anteriormente mencionado, não houve replantio de árvores nas praças, nos locais de onde foram arrancadas.
Esses são indicativos claros de que ainda falta em Ponta Grossa uma política pública focada em arborização. O Diário dos Campos e portal DCmais já estampou diversas reportagens, inclusive com estudo de pesquisadores da UEPG, apontando o deficit de árvores na cidade. Também destacou, em outras reportagens, iniciativas importantes de arborização, mas que foram pontuais, como o Parque Ambiental e o Parque de Olarias. No entanto, nunca se observa um planejamento claro relativo à arborização de vias públicas, nem ao cuidado no que se refere à reposição de árvores derrubadas, seja pela força do vento ou por necessidade.
Algumas obras recentes de infraestrutura viária também demonstram a dificuldade em colocar a arborização como prioridade.
A Avenida Monteiro Lobato e a Avenida Eusébio Batista Rosas, no Jardim Carvalho, foram revitalizadas e convertidas em binário há cinco anos. Receberam passeio, ciclovia, pista de caminhada, e nenhum plantio de árvore.
Em 2020, foi oficialmente instalado binário formado pelo prolongamento da Rua João Ribeiro, no Bairro Uvaranas. A nova avenida foi estabelecida cruzando o 13ºBIB, com calçadas de largura acima da média observada no município, ciclofaixas, e nenhuma árvore.
A Avenida Bispo Dom Geraldo Pellanda nem é recente. Foi aberta na segunda metade do século passado, tem um enorme espaço verde e pouquíssima árvores, apesar de intervenções recentes de paisagismo.
Há importantes iniciativas de distribuição de mudas. Mas o município não parece ter um departamento responsável por selecionar as vias que permitem arborização e tomar a dianteira na tarefa de plantio, por exemplo.
Ao esperar que os munícipes façam o plantio por conta própria – muitas vezes de espécies exóticas ou de porte inadequado – a cidade deixa de ter a instalação de árvores indicadas para cada situação. Falta, também, a garantia de poda especializada e periódica, de forma a preservar a sinalização viária e a fiação elétrica.
Pode ser um ponto a ser discutido neste ano eleitoral: o planejamento de uma cidade mais arborizada na qual, quem sabe, seja possível caminhar sob sombra em dias quentes como os que sentimos nesse último verão.
*Texto originalmente publicado na versão impressa do DC, no dia 22/03/2024