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Fora Copa?

 

Com tristeza e profunda sensação de fracasso, soube que alunos do curso para o qual dou aulas na universidade reuniram-se nesta quarta-feira para discutir a participação em encontro anual a realizar-se em Curitiba neste final de semana. E nessa reunião comentou-se da conveniência dos participantes levarem vinagre, lenços e outros aparatos. Para possíveis batalhas campais em manifestações contra a copa, em que gás lacrimogêneo e outros repressivos possam vir a ser utilizados.

Entristeci-me e deprimi. Pareceu-me que nossa juventude perdeu o rumo, o senso de discernimento, tornou-se incapaz de pensar com a própria cabeça, tornou-se massa de manobra na mão de manipuladores, estes ou ensandecidos raivosos ou imbuídos de inconfessáveis propósitos. Assim me parece! Pois no momento em que o mundo nos observa, ao invés de mostrarmos civilidade, teimamos mostrar a face de vira lata revoltado e violento, complexo diagnosticado por um brasileiro que talvez como nenhum outro tenha compreendido o âmago do nosso povo. Somos capazes de nos juntar num bando de vândalos, mas não de nos organizar para conquistar a transformação da jovem e imperfeita democracia em que vivemos.

Sou sexagenário, no meu tempo somente os quatro primeiros anos do estudo fundamental eram obrigatórios. Para se entrar no ginásio para mais sete anos até completar o ensino médio, era necessário fazer um exame de admissão para as escolas públicas. As vagas eram poucas, e o ensino era então de melhor qualidade. O governo, o estado, na época, era fora da lei. Não se podia manifestar opinião diversa dele, nem na rua, nem nas escolas, nem em escritos em jornais ou revistas, nem numa conversa entre amigos. Em nome de uma forasteira segurança nacional que na verdade entendia como perigoso qualquer pensamento de emancipação e autonomia, o estado arrogava-se o direito de prender, espancar, torturar, desaparecer, suicidar… Quem quer que fosse. E foi assim que desgraçadamente os pensadores e idealistas do país ou desapareceram ou exilaram-se em outros países, deixando-nos um legado de vazio de ideias e ideais que talvez seja a raiz de muitos de nossos desatinos atuais.

Naquele tempo, quem entrava na universidade pública, a melhor, como hoje, estudava muito. Acreditava-se ser um caminho certo para a vida digna do trabalho profissional, com independência econômica e as liberdades que daí advêm.

Mas e hoje, como procede parte significativa dos alunos de nossa universidade? Negligenciam tarefas, não leem, inventam pretextos para faltar ou cancelar aulas, não conseguem organizar os diretórios e centros acadêmicos para terem participação efetiva na vida acadêmica, não sabem reivindicar melhoria de condições às vezes precárias do ensino, são complacentes com mediocridades, desmandos e assédios de alguns professores, não sabem zelar pelos equipamentos e materiais de uso coletivo, nem mesmo livros, carteiras de aula, sanitários…

Não seria mais fecundo se, ao invés de contra a Copa, os jovens fossem contra estas tantas iniquidades cotidianas?

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