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Após desapropriação, famílias vivem em barracos insalubres

As oito famílias que, em abril deste ano, foram retiradas de casa em uma área de invasão, no Jardim Atlanta, em Ponta Grossa, não estão em melhor situação do que há três meses. Removidas de moradias improvisadas por meio de ordem judicial, dezenas de pessoas, homens, mulheres e crianças, ficaram temporariamente no Ginásio Oscar Pereira e, mais tarde, foram orientadas pela Prefeitura a ocuparem quatro lotes localizados na região do Jardim Gralha Azul. Novamente no improviso, o grupo reergueu suas casas de madeira reutilizada, na esperam de poder chamar de lar um espaço coberto apenas pelo mato. No entanto, até agora, não receberam sequer a liberação para que sejam instaladas luz e água.

Priscila da Veiga veio viver numa pequena casa com seu marido e três filhas. A mais nova, de dois meses, precisou deixar de mamar no peito nesta semana. “Eu não podia ficar com as crianças aqui. Uma vizinha está cuidando delas, aqui perto, porque na nossa casa nem água tem”, diz Priscila, que montou um banheiro com fossa do lado de fora de casa. O banho é com caneco e usando água de origem duvidosa. “Tem duas bicas de onde a gente pega água. Em uma delas eu já achei até a cabeça de um cachorro. Na outra, de onde pego água para lavar prato, dizem ser de um tanque de peixe”, conta Dalva Aparecida de Pereira.

As famílias chegaram a fazer a ligação de luz em um relógio de imóvel que fica em frente, e que estava desocupado. Mas foi cortada recentemente. A água, que também tinha sido obtida por meio de ligação clandestina, foi igualmente cortada. Agora, todos vivem nos quatro lotes no escuro, em sem água. “Nós não estamos pedindo nada de graça. A gente dá um jeito e paga a água e a luz. Só queremos um poste e um relógio de água. A gente não é bicho. Somos seres humanos, temos família e não temos outro lugar para ir”, diz Dalva, que afirma que a Prefeitura não tem feito nada pelas famílias desde que foram viver no local.

 

Burocracia

As famílias já foram cadastradas junto à Companhia de Habitação de Ponta Grossa (Prolar), mas até o momento não tiveram a situação regularizada. Em nota, a Prefeitura explica que o problema é a burocracia. Desde a relocação das famílias em lotes disponibilizados no Gralha Azul, a Prefeitura vinha trabalhando na desafetação do terreno, procedimento jurídico para converter o bem público em área das famílias (já que não foi uma colocação habitacional dentro do procedimento convencional). Entretanto, a Prefeitura encontrou entraves burocráticos para realizar esse procedimento, e as concessionárias de energia e água não realizam a ligação dos serviços para as famílias que ‘ocupam’ terrenos públicos, ainda que, nesse caso, as famílias tenham sido encaminhadas pela própria Prolar.

 

Prolar

Em decorrência dessas dificuldades burocráticas, a equipe da Prolar está trabalhando para resolver a situação o quanto antes e espera que nos próximos dias, as famílias estejam instaladas com as ligações de água e luz. De acordo com o presidente da Prolar, Dino Schrutt, o mais provável é que eles sejam realocados em outro imóvel, dessa vez em caráter definitivo. “Essas famílias estavam em área particular, e o Município resolveu ajudar fornecendo um imóvel público para que ficassem, em caráter emergencial. A Prolar possui uma reserva técnica para onde essas famílias devem ser encaminhadas, no próprio Gralha Azul, ou outros conjuntos habitacionais já existentes”, diz Schrutt.

 

Fábio Matavelli
Priscila e Dalva retiram água de “bica” para usar em casa

 

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