em

Por que os preços dos alimentos estão subindo tanto? Especialistas explicam

Uma série de fatores tem impulsionado o encarecimento dos produtos básicos; cesta básica subiu 4,14% em Ponta Grossa no último mês e variação do arroz chegou a 30,3%

O encarecimento dos produtos básicos tem pesado no bolso da população, que relata procurar alternativas para conseguir fechar as contas do mês, como é o caso do casal Eliane e Inácio Vidal Pereira (Foto: José Aldinan/DC)

Se você faz compras regularmente já deve ter percebido que as idas ao supermercado têm ficado cada vez mais caras. O estudo que o Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas (Nerepp) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) faz mensalmente em Ponta Grossa a respeito do preço dos 33 produtos que compõem a cesta básica foi divulgado nesta quinta-feira (10) e aponta que, em um mês, houve uma variação geral média de 4,14%, que chega a 48,24% em produtos específicos como o tomate, a 40,7% no óleo de cozinha e 30,3% no arroz, por exemplo. Mas por que os preços estão subindo tanto?

Em entrevista à reportagem do Diário dos Campos, o economista Alexandre Roberto Lages, que assina o estudo do Nerepp, elencou alguns dos acontecimentos que motivam esse comportamento do mercado.

“São vários os motivos que influenciam no preço dos produtos básicos. Nos casos específicos do arroz e do óleo [feito com soja], com o aumento do dólar houve um direcionamento da produção interna para as exportações. Aliado a isso, estamos na entressafra desses produtos”, cita o professor da UEPG, referindo-se ao fato de que os produtores estão fazendo mais vendas para outros países porque o pagamento em dólar está mais lucrativo do que o em real – o que pressiona os preços nacionais através da lei da oferta e da demanda.

A quebra na produção agrícola em outros países devido, principalmente, a fatores climáticos, também é um motivo citado pelo especialista. “A China, por exemplo, está tendo uma demanda maior de compras – e apenas ela representa 30% das exportações brasileiras”, afirma Lages.

Nesta semana o vice-presidente Hamilton Mourão atribuiu a alta no preços dos alimentos ao pagamento do auxílio emergencial – que já somou mais de R$ 179 bilhões pagos, segundo a Caixa. “Esse aumento da demanda por parte dos subsídios que o governo está ofertando também motiva essa variação. A partir do momento em que se coloca pessoas com faixas de renda inferiores com poder de consumo isso pode aumentar a demanda por alimentos”, avaliou o economista ponta-grossense.

Pandemia

Conforme verificado pelo DC, até julho o preço de produtos básicos de Ponta Grossa cresceu 25 vezes mais que inflação – segundo dados dos estudos do Nerepp, enquanto que a cesta básica subiu 11,8% desde janeiro, a inflação foi de 0,46% no mesmo período. O economista Alexandre Roberto Lages destaca que, porém, durante a pandemia como um todo os aumentos não foram tão significativos. “Quando começou a pandemia os preços cresceram, mas não tivemos mais uma variação mensal tão alta, a não ser no último mês [4,14%]. Os alimentos não só estão subindo mais que a inflação, mas também são apontados como o principal fator gerador da inflação no país”, categoriza o professor.

Efeitos no bolso

De acordo com o estudo do Nerepp, o arroz, que ficou 30,3% mais caro no último mês, está presente em 99,82% das casas ponta-grossenses e o óleo de cozinha, que subiu 40,7%, é usado por 95,07% das famílias da cidade. Com os produtos pesando mais no bolso dos consumidores, alternativas são buscadas durante as compras.

Eliane do Rocio Pereira tem 59 anos e perdeu a sua renda durante a pandemia. Os serviços de limpeza doméstica que fazia foram suspensos e desde então ela e o marido se mantém com um salário mínimo, proveniente da aposentadoria do esposo. “Está tudo muito caro. Arroz, óleo, feijão, carne… Estamos mudando as marcas e comprando as mais baratas, porque se não não tem como viver”, disse ela à reportagem do DC após sair de um supermercado.

Já Rosalina Chagas dos Santos, de 50 anos, tem a sua família composta por cinco pessoas. Ela trabalhava como atendente de uma escola infantil, mas, devido a uma doença, teve que se afastar. Esperando o auxílio doença do INSS desde o começo do ano – processo atrasado pela suspensão do atendimento presencial das agências do órgão – ela faz as compras básicas com a pensão da filha e o salário da mãe.

“Antes eu comprava muita carne para o mês, agora pego opções mais baratas e apenas para a semana. Também deixei de ir pela marca e vou mais pelo preço, porque não tem condições de comprar o que estava acostumada”, afirmou a consumidora.

Rosalina Chagas dos Santos destaca que mudou hábitos de consumo devido ao encarecimento dos produtos (Foto: José Aldinan/DC)

O que dizem os produtores rurais?

Como o aumento das exportações tem sido um dos fatores mais discutidos popularmente como motivador da alta dos preços, a reportagem do Diário dos Campos ouviu o presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, Gustavo Ribas Netto, para saber o que dizem os produtores sobre esse assunto.

“É uma questão de mercado, não de oportunidade. Se você vai vender o seu celular e uma pessoa oferece 10 e outra fala que paga 15, para quem você vende? Ninguém vai vender algo para o mais barato. Todo mundo vê quando o preço aumenta, mas quando abaixa e o produtor tem prejuízo ninguém reclama”, ressaltou o produtor.

Na avaliação do representante do setor falta uma política governamental para os produtos considerados básicos e com alto risco na produção que incentive a produção dessas culturas. “O governo precisa ter linhas de crédito mais baratas para safras de risco – como a do feijão -, subvenção do seguro agrícola, utilizar a Conab para fazer toques reguladores que não permitam que o preço suba demais nem caia demais, para evitar prejuízos… São necessidades”, lista Netto.

Governo zera imposto de importação do arroz

O governo federal decidiu nesta quarta-feira (9) zerar a alíquota do imposto de importação para o arroz até o final do ano – até a então a taxa chegava a até 12% no caso do arroz beneficiado. O objetivo é conter o aumento expressivo no preço do arroz ao longo dos últimos meses – de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), o preço do arroz variou mais de 107% nos últimos 12 meses; em alguns supermercados brasileiros, o produto, que custava cerca de R$ 15, no pacote de 5 kg, está sendo vendido por até R$ 40.

A medida é paliativa e imediata. Para o presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, para evitar o encarecimento recorrente deveria haver uma política de médio a longo prazo. “Por que o recurso dessa isenção não foi voltado a incentivos para os produtores daqui plantarem mais? Precisamos tirar a carga tributária da agricultura”, opinou Gustavo Ribas Netto.

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.