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Hospital Universitário enfrenta crise na direção em plena pandemia

Profissionais do HU se reuniram em frente ao hospital, com roupas pretas e cartazes, em sinal de protesto. José Aldinan

Em plena pandemia, a direção do Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HURCG), hospital de referência no tratamento de pacientes com covid-19, enfrenta crise na direção desde a exoneração da então diretora geral, a enfermeira Luciane Patrícia Andreani Cabral, na última quinta-feira (1), pelo reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Miguel Sanches Neto.

A situação gerou revolta entre os servidores do hospital que alegaram que a retirada de Luciane do cargo aconteceu sem justificativa plausível. A saída da então diretora também provocou o pedido de desligamento de outros dois diretores técnicos, os médicos Tatiana Meneses e Fernando Torres, bem como a do supervisor do hospital, Everson Krum, que também é vice-reitor da UEPG, por solidariedade à colega. Já uma nota emitida pela Reitoria da UEPG informou que a exoneração ocorreu no sentido de melhorar o relacionamento entre o hospital e a universidade.

Na manhã de sexta-feira (2), profissionais do HU se reuniram em frente ao hospital, com roupas pretas e cartazes, em sinal de protesto contra a saída da enfermeira. De acordo com os servidores, a exoneração do cargo durante um período de pandemia pode prejudicar os atendimentos à população.

“Nós colegas da Luciane não vemos motivos para essa dispensa tão fria ainda mais nesse momento de pandemia. A retirada de uma cabeça do cargo maior do hospital está sendo incompreensível e esperamos que haja bom senso, justamente porque precisamos pensar nos cuidados com as pessoas”, disse uma servidora que não quis ser identificada.

“No meio de uma pandemia, com a abertura de novos leitos clínicos e de UTI, além da administração de mais uma casa hospitalar, o Hospital Universitário Materno Infantil (HUMAI), a saída dela será extremamente prejudicial à população. A mudança de uma gestão impacta diretamente nos atendimentos aos pacientes”, comentou outra profissional do HU.

Conforme apurou a reportagem, um dos estopins para a exoneração foi após o HU ter assumido o Hospital Universitário Materno Infantil. Com isso, os servidores tiveram aumento na carga de trabalho, mas continuaram com os mesmos salários, fator que teria sido apontado pela própria diretora em reunião com a Secretaria Estadual de Saúde no mês de agosto.

Segundo Luciane Cabral, o sentimento pela exoneração é de luto. “Fiquei bastante emocionada com a manifestação de hoje cedo. Mas estou emocionalmente abalada com tudo que aconteceu. O sentimento é de luto e o pronunciamento do reitor acerca do assunto de que a justificativa seria para uma maior aproximação entre o HU e a UEPG foi muito vago. Nas redes sociais é possível ver a manifestação dos Centros Acadêmicos se solidarizando com o fato. E sempre tive bom relacionamento com os outros departamentos. A minha preocupação é com o Hospital Universitário e toda a população”, lamentou.

Veja o que diz a nota da UEPG

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) emitiu uma nota, na manhã de sexta-feira (2), sobre o assunto. Confira o texto na íntegra.

A administração da UEPG, responsável pela gestão do Hospital Universitário, agradece a contribuição da enfermeira Luciane Cabral, que desempenhou a função de diretora acadêmica do HU e, mais recentemente, de diretora geral, sucedendo à médica Tatiana Meneses, que ocupava até ontem (1) a direção acadêmica, e que pediu seu desligamento. Durante todo o período desta gestão, o reitor delegou ao vice-reitor a supervisão do HU e o mesmo continua nesta supervisão. A administração esclarece ainda que o principal motivo da substituição é no sentido de melhorar o relacionamento entre o HU e a UEPG, visando uma maior integração com os cursos da instituição, tal como consta no programa de campanha da chapa eleita. Queremos cada vez mais cursos atuando no HU. Ato, portanto, eminentemente administrativo, esta decisão busca fortalecer o trabalho colaborativo da UEPG com toda a sociedade. A administração demonstra em público o maior respeito pelas profissionais e espera poder continuar contando com elas em outras funções, sempre no sentido de melhor atender a comunidade e melhor formar os nossos acadêmicos e as nossas acadêmicas”.

Três diretores do HU pedem exoneração em solidariedade à diretora

Desde a exoneração da enfermeira Luciane Cabral, três diretores do Hospital Universitário pediram exoneração de seus cargos entre a noite de quinta-feira (1) e a manhã de sexta-feira (2) em solidariedade à colega demitida. A primeira a pedir exoneração do cargo foi a médica professora do curso de Medicina, Tatiana Cordeiro.

“Em solidariedade à professora Luciane e em protesto à atitude unilateral e desmedida do atual reitor, que, em meio a uma pandemia e a absorção de um novo hospital, exonerou, sem justificativa, a nossa diretora geral, comunico minha solicitação de exoneração do cargo de diretora acadêmica”, informou.

Ainda na manhã de sexta, o médico e diretor técnico do HU, Fernando Torres, também pediu o seu desligamento. “Com o mais profundo sentimento de tristeza, na condição de diretor técnico médico, informo a este Conselho Regional de Medicina do Paraná a minha solicitação na presente data de afastamento do cargo de diretor técnico do Hospital Universitário. É meu dever ético informar que as motivações deste ato estão funadas na arbitrária exoneração da diretora geral Luciane Cabral”, disse Torres.

Já o vice-reitor da UEPG e supervisor do HU, Everson Krum, emitiu nota no final da manhã de sexta e informou que também deixará o seu cargo frente a casa hospitalar. “Esclareço que a decisão de afastar a diretora geral do HU, Luciane Cabral, com a qual não concordo e que acarretou nos pedidos de demissão da diretora acadêmica, Tatiana Cordeiro, e do diretor técnico, Fernando Torres, foi tomada pelo reitor Miguel Sanches Neto e é de sua total e exclusiva responsabilidade. Quando informado da intenção do reitor, me posicionei contra tal medida. Desta forma, em solidariedade aos colegas, afasto-me da supervisão que faço com tanto amor e dedicação”, disse Everson em nota.

Os profissionais Everson Krum e Tatiana Cordeiro deixaram os cargos imediatamente. Já o médico Fernando Torres deverá permanecer por mais 30 dias, pois seu cargo está diretamente ligado aos pacientes internados até que outro profissional possa assumir a vaga.

Com o afastamento dos demais profissionais, o HU que antes contava com sete diretores, segue apenas com três: o diretor clínico Rogério Clemente que possui seu cargo ligado diretamente ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e não integra a direção de gestão oficial do hospital, além da diretora administrativa, Maria Cristina Roque Ferreira e a diretora financeira Keyla Cristina Procópio.

A reportagem procurou novamente a Reitoria da UEPG para falar sobre o assunto e foi informada de que ainda está em processo a nomeação dos novos diretores que irão assumir os cargos que estão em aberto.

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