A Locomotiva 250, um dos principais monumentos e patrimônios históricos de Ponta Grossa, no interior do Paraná, está sendo agora alvo de uma discussão inesperada: afinal, a quem pertence a Maria Fumaça em PG? A locomotiva é tombada pelo Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (Compac), e é referência importante no que se refere à história das ferrovias e sua influência no crescimento da cidade. Do ponto de vista do interesse público, a Maria Fumaça em PG é de toda a comunidade ponta-grossense. No entanto, em termos documentais, a coisa é um pouco mais complicada, e dificulta a preservação da locomotiva. Entenda:
Maria Fumaça em PG
Com aparentes dificuldades para obtenção de recursos e profissionais que fizessem o restauro do Locomotiva 250, no segundo semestre de 2019 a Prefeitura de Ponta Grossa aceitou o apoio do Exército Brasileiro, que designou uma equipe para executar recuperação estética da máquina. A entrega das obras ocorreu em setembro daquele ano, como presente de aniversário do Município.
A Estação
Três meses depois, a Estação Saudade foi revitalizada pela Fecomércio PR e passou a abrigar uma unidade do SESC. No passado, o prédio foi estação de passageiros que chegavam pelas ferrovias. Como forma de respeitar essa história, a Fecomércio informou que a Locomotiva 250 seria transferida para diante da Estação Saudade, onde teria abrigo e segurança terceirizada. A principal dificuldade seria logística. A locomotiva estava a poucos metros de distância, ao lado da também histórica Estação Paraná, mas a estrutura da Maria Fumaça em PG poderia ceder durante o transporte.
Locomotiva 250
No entanto, mais de dois anos depois, não houve o transporte da locomotiva para a área protegida junto da Estação Saudade. Exposta ao tempo e aos vândalos, a pintura feita pelo exército na madeira começou a se deteriorar, peças de metal sumiram durante a madrugada, incluindo a placa dourada com a inscrição “250”, que identificava a Maria Fumaça. A reportagem do Diário dos Campos e portal dcmais questionou a Fecomércio sobre quando e como seria o transporte do monumento. A resposta surpreendeu.
É com a cultura
Pela primeira vez, desde que revitalizou a Estação Saudade, a Fecomércio optou por não se pronunciar sobre a Locomotiva 250. A resposta da assessoria de imprensa foi “Nossa sugestão é que você converse com o Sr. Alberto Portugal, secretário de Cultura. Ele vai saber te pontuar com quem está a posse da Maria Fumaça e o que já foi conversado entre prefeitura e SESC”.
Então, de quem é a Locomotiva 250?
Então, a propriedade da Locomotiva 250 não está com o Município? Aparentemente, não. Questionada a respeito, a Secretaria Municipal de Cultura enviou resposta através de sua assessoria de imprensa:
“A Prefeitura de Ponta Grossa informa que está buscando, junto ao Patrimônio da União, ações urgentes para preservar o imóvel mais importante do nosso acervo, o complexo da Estação Saudade, que inclui a locomotiva 250, também objeto de tratativas com o Governo Federal. Além dessas ações, o Município também mantém um diálogo junto ao Sistema S, para adoção e remoção da locomotiva, medidas que ainda dependem de um articulação entre os envolvidos que está em curso. Por fim, a Prefeitura ressalta o interesse em preservar não só a Locomotiva, mas todo o Complexo e seguirá desenvolvendo um plano de ação integrado para este fim”.
Portanto, a Locomotiva 250 está sob posse da União, como ocorre com muito daquilo que se refere às ferrovias. Ela foi cedida ao Município em regime de comodato, durante gestão do então prefeito Pedro Wosgrau Filho, em 1992, e esse comodato nunca foi desfeito. É o que aponta cópia de documento cedido por Francisco Pavelec, defensor da história das ferrovias.
O documento prevê que ela deve permanecer no local onde está hoje, e só pode ser movida com autorização da União. Sendo assim, qualquer novo restauro da Maria Fumaça, seu transporte e instalação em espaço adequado dependem agora de acordo entre três esferas governamentais: Município, Estado e Governo Federal.