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Eliane Fernandes: Com pouco é possível fazer muito

O ano era 1999. Naqueles dias, a maioria das pessoas estava preocupada com o bug do milênio: um colapso no sistema mundial de computadores que, diziam, faria a humanidade regredir à idade da pedra. Mas Eliane Aparecida Fernandes, então com 18 anos, tinha outra preocupação mais emergencial. A cidade de Teixeira Soares era um ótimo lugar para viver, mas Eliane estava desempregada, e em busca de uma oportunidade.

A procura a trouxe para Ponta Grossa naquele ano, e as coisas deram certo. Conseguiu emprego em uma padaria. Depois trabalharia ainda em outra panificadora, em restaurante, em cozinha industrial. Morou na Maria Otília, depois Vila Nova, vila Cipa e Jardim Amália. Gostou tanto da cidade, que acabou criando raízes. “No início, vim pra passar aqui um tempo, não para ficar. Mas fui gostando da cidade. Aqui arrumei emprego, tive meus filhos, e fui ficando”, recorda.

Hoje, aos 38 anos, Eliane tem três filhos e duas netas, mas se tornou querida por centenas de outras crianças. É que, há cerca de seis anos, ela decidiu que poderia, com a ajuda de amigos, acrescentar uma dose de alegria à vida das crianças.

“Em 2013, eu tinha acabado de me mudar para o Jardim Amália. Uma mãe veio pedir uma boneca para uma menina que não tinha brinquedo. Algumas amigas minhas trabalhavam em um banco, e disseram que estavam fazendo uma campanha para arrecadar brinquedos. A doação veio para nós, e aquele foi o primeiro ano”, conta Eliane.

Naquele Natal, não teve festa, mas cerca de 300 crianças se reuniram diante do portão da casa de Eliane. O tempo chuvoso não as intimidou, e todas esperaram sua vez para ganhar um brinquedo. No ano seguinte, foi possível fazer festa de Natal. No ano seguinte, também foi feita festa de Páscoa. Depois, foi acrescentado um Dia das Crianças. Amigos se tornaram voluntários para organizar tudo. A cada ano, novos voluntários surgiram, possibilitando que houvesse um evento em cada uma dessas datas, quando também se reúnem famílias para fazer um lanche, tomar sorvete, comer algodão-doce.

 

Voluntários

A média, agora, é de 600 crianças a cada Natal. No ano anterior, o mesmo Papai Noel que sentou em trono confortável do shopping veio abraçar as crianças. Muitas delas não ganhariam nada, talvez nem fossem apresentadas ao Natal, mas a ação de voluntários oferece chance para que elas sejam envolvidas pela magia que é própria da idade. Isso é possível graças à persistência de Eliane. “Não temos uma sede da associação de bairro. Todo o Natal é feito aqui mesmo, na varanda de casa, ou na praça. E não vêm crianças só do Jardim Amália. Vêm da vila Cipa, do Ibirapuera, e até da Vila Nova já vieram por dois anos, depois que souberam a data da festa”, diz Eliane, que é presidente da associação de moradores.

 

Simplicidade

Os envolvidos nessas festas não têm muito a oferecer, mas oferecem um pouco do que têm. Isso torna todos esses eventos especiais, explica Eliane. “Este é um bairro simples, mas cada um ajuda trazendo um refrigerante, um bolo, fazendo rifa para comprar sorvetes. No Dia das Crianças, cada criança recebe um pacote de doce. No Natal, tem um brinquedo para cada uma. Isso prova que, se cada um fizer um pouquinho, o mundo fica melhor”, comenta. O bug do milênio não aconteceu na proporção esperada no final de 1999. Mas houve mudanças que vieram para o bem.

Doações – Eliane está arrecadando doces para o Dia das Crianças. Quem quiser colaborar com o evento, pode ligar para (42) 99904-0704.

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Este texto integra a iniciativa do Diário dos Campos de participar da gincana municipal Princesa em Festa, cumprindo a terceira e última parte do item “escrever e ilustrar a história de três importantes ponta-grossenses”, como forma de marcar o aniversário dos 196 anos de Ponta Grossa.

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