Os crimes sexuais contra crianças e adolescentes registrados de janeiro a 17 de maio de 2021 em Ponta Grossa já representam quase 70% de todo o ano de 2020. Os dados são do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria). Na semana passada, uma operação do órgão no município cumpriu três mandados de prisão e um de apreensão de adolescente por abuso sexual de crianças.
As prisões são apenas a ponta do iceberg no que diz respeito aos casos registrados na cidade. De acordo com o Nucria, no ano de 2020, foram instaurados 74 inquéritos policiais para investigar possíveis casos de estupro de vulnerável. Neste ano, o Nucria já soma 51 inquéritos desta natureza. Em 2019, o total registrado foi de 156 investigações por parte da Polícia Civil.
A operação do Nucria foi realizada em alusão ao dia 18 de maio data em que é celebrado o Dia Nacional de Combate ao abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes onde um adolescente de 17 anos foi apreendido suspeito de abusar sexualmente da irmã de 8 anos. De acordo com a Polícia Civil, a vítima relatou que os abusos eram de conhecimento dos pais.
“Diante do relato da menina, a qual foi ouvida pela psicóloga deste Núcleo, representamos pela prisão preventiva dos genitores. Esta operação contou com o apoio da Delegacia do Adolescente, comandada pelo delegado Jairo Duarte, o qual teria realizado o pedido de apreensão do adolescente infrator, tendo sido este encaminhado do Cense”, disse a delegada Ana Paula Cunha Carvalho, responsável pelo Nucria.
Outra investigação resultou na prisão de um idoso de 72 anos que foi flagrado pela cunhada acariciando o corpo da sobrinha de 6 anos de idade. “A criança confirmou os fatos na delegacia e relatou outros episódios de abuso sexual pelo investigado. Foi feita a representação pela prisão preventiva do mesmo que irá responder pelo crime de estupro de vulnerável. É importante mencionar que esse homem já possui passagens por crimes sexuais”, apontou Ana Paula.
Preocupante
A delegada Ana Paula explica que o número de inquéritos registrados em 2020, ano em que pandemia começou, teve uma boa queda se comparado ao ano de 2019. “Não quer dizer que a violência diminuiu em 2020, pelo contrário, acredito que tenha aumentado justamente porque as partes envolvidas, criança e abusador, que geralmente é algum parente, acabaram ficando mais em casa. Dessa forma, as violências deixaram de ser comunicadas, especialmente no tange as escolas que eram a porta de entrada para notar se a criança estava sofrendo abuso”, explanou.
Retomada
Neste ano, houve uma retomada do número de denúncias e inquéritos instaurados, quase equiparado ao registro de casos do ano passado. “O ano de 2021 gerou uma boa perspectiva com relação à pandemia e as pessoas começaram a frequentar mais a casa de outros familiares. Isso ampliou o contato entre eles e, dessa maneira, a criança sentiu-se mais à vontade para falar sobre os abusos aos conhecidos. Acreditamos que agora com o retorno gradativo das aulas essas denúncias possam aumentar ainda mais. A escola é a segunda família das crianças e é o local onde elas mais se sentem à vontade para falar”, finalizou Ana Paula.
Total de inquéritos policiais instaurados em Ponta Grossa*
2019 – 224
2020 – 167
2021 – 75
*O total inclui crimes relacionados ao estupro de menores, abuso, violência física e sexual.
Inquéritos policiais de estupro de vulnerável
2019 – 156
2020 – 74
2021 – 51*
*Dados de 2021 referentes a 1º de janeiro a 17 de maio.
Fonte: Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria)
PR registra queda de 21,6% no registro de casos no primeiro trimestre
Agência Estadual
Os crimes contra crianças e adolescentes caíram 21,6% no Paraná no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2020 (de 7.019 casos para 5.502). A queda também foi observada na quantidade de denúncias anônimas sobre o tema recebidas pelo Disque Denúncia 181, que foi de 12,6% (de 512 foram para 447 chamadas).
A estratégia da Secretaria Estadual da Segurança Pública é aliar a colaboração da população com denúncias anônimas e usar as ferramentas disponíveis que facilitem o atendimento mais rápido quando ocorre o crime.
A redução de 21,6% no trimestre refere-se ao registro de ocorrências de diversas tipificações criminais relacionadas à violência contra crianças e adolescentes, entre elas estupro de vulnerável, lesão corporal (violência doméstica e familiar), importunação sexual, estupro ou atentado violento ao pudor, assédio sexual de vítima menor de 18 anos e aliciamento de criança para prática de ato libidinoso.
O estudo demonstra que alguns destes crimes tiveram redução maior que o total das tipificações analisadas. O aliciamento de criança para prática de ato libidinoso, por exemplo, registrou queda de 30,7% (de 52 para 36 casos). As ocorrências de estupro ou atentado violento ao pudor também tiveram uma queda significativa de 23,3%, com a redução de 103 para 79 casos no período analisado. As ocorrências de estupro de vulnerável também reduziram – de 889 para 802, ou seja, um decréscimo de 9,7%.
Disque Denúncia
O Disque Denúncia 181 é uma das principais ferramentas do Estado para que esses casos cheguem ao conhecimento das autoridades policiais.