Os 46 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Ala Covid do Hospital Universitário (HU), referência para pacientes covid do Sistema Único de Saúde nos Campos Gerais, permaneceram 100% ocupados dos dias 15 a 22 de fevereiro. É isso que mostram os informes emitidos diariamente pela mantenedora da instituição, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Nesse mesmo período, cinco pessoas com suspeitas de covid-19 ou casos confirmados morreram na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Santa Paula e uma no Pronto Socorro Municipal (PSM), que são apenas portas de entrada para os pacientes covid. Não contam com UTIs e também, em tese, não fazem internamentos.
Os registros de falecimentos do Serviço Funerário Municipal informam que os seis corpos foram encaminhados diretamente para o cemitério e sem permissão para serem velados, conforme estabelece o protocolo de segurança em saúde para a pandemia.
O fato dos óbitos terem ocorrido em unidades de pronto atendimento, em dias que o hospital de referência para a doença estava com todos os leitos de UTI ocupados, sugerem que os pacientes não foram encaminhados ao HU justamente porque não haviam vagas disponíveis.
Respostas
Questionada se houve algum pedido de transferência dos pacientes que foram a óbito na UPA e no PSM para um hospital equipado com UTI, a Fundação Municipal de Saúde respondeu, por meio de nota, que “a transferência de pacientes acontece através da Central de Leitos, serviço ligado ao Governo do Estado”.
Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde informou que iria verificar se houve pedido de transferência dos pacientes que faleceram na UPA e no PSM e que daria um retorno assim que possível. O retorno foi que, na manhã desta quarta-feira (24), uma diretora da Sesa vai conceder entrevista para tratar pessoalmente do tema.
A assessoria da UEPG, que atende o HU, também foi procurada. O retorno veio em forma de nota: “O reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa e a direção do Hospital Universitário farão um pronunciamento amanhã (24), às 10h30, na área interna do HU – mesmo local da coletiva ocorrida com o governador na última segunda-feira. O objetivo é esclarecer sobre as taxas de ocupação da Ala Covid nos últimos dias. Após o pronunciamento, o reitor e os diretores estarão disponíveis para perguntas da imprensa.”
Paraná
A situação alarmante com relação à ocupação dos leitos de UTI não ocorre somente em Ponta Grossa e se estende ao Paraná como um todo. No dia 19 de fevereiro, a taxa de ocupação no estado chegou a 89% e não baixou mais, chegando a 91% no domingo (21) e a 92% na segunda-feira (22).
A macrorregião região Oeste é a de índices mais altos desde o último dia 20, com variações entre 95% a 97%.
Vidas perdidas em unidades que não fazem internamentos
A primeira morte da série no recorte de uma semana ocorreu na UPA, na noite do dia 16 de fevereiro, terça-feira de Carnaval. Trata-se de um idoso com as iniciais P.Z., de 90 anos. O sepultamento foi no cemitério da Colônia Dona Moema. O sepultamento ocorreu na manhã de quarta-feira, 17, sem a possibilidade de velório.
Na quinta-feira (18) ocorreu mais um óbito na UPA, outro idoso, um motorista aposentado de 81 anos. O corpo de O.C.S. foi sepultado no cemitério São João Batista, às 10h30 do mesmo dia.
Dois dias depois, no sábado (20), faleceu L.C.S., de 60 anos, no Pronto Socorro Municipal. O corpo foi encaminhado ao cemitério Santa Luiza no mesmo dia e o sepultamento ocorreu às 17 horas.
No último domingo (21), outras duas vidas se foram na UPA Santa Paula por complicações que teriam sido causadas pelo novo coronavírus. A inspetora escolar M.M.N, de 51 anos, foi encaminhada ao cemitério São João Batista e o corpo sepultado às 17 horas. Já a senhora A.P.R, de 54 anos, faleceu à noite e, na segunda-feira (22), foi sepultada no cemitério Santo Antônio, sem velório.
Na segunda-feira (22), a zeladora T.M.R., de 38 anos, também faleceu na UPA Santa Paula e foi encaminhada ao cemitério Parque Jardim Paraíso para sepultamento imediato.