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Péricles: “Se mudarmos o sistema político, seria um salto de qualidade”

Deputado estadual e membro do PT, Péricles de Holleben Mello faz um balanço das atividades e do ano político e da crise que sua legenda protagonizou

Divulgação
Péricles: “Eu, sinceramente, não desejo sair como candidato”

 

Um dos sete integrantes da bancada de oposição ao governo Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o deputado ponta-grossense Péricles de Holleben Mello (PT) admite que fazer o papel de oposição no Legislativo estadual não é fácil. “Não conseguimos coletar um número mínimo para abrir uma CPI”, se resigna.

Uma das figuras mais importantes do PT na região, admite a crise institucional e econômica (“uma crise moral”, define ele), e só enxerga uma saída para o fim da corrupção: a mudança do sistema político. “Se não mudarmos o sistema político, isso não vai se resolver”, analisa.

Ex-prefeito e ex-candidato ao Executivo municipal, Péricles não pensa em se candidatar nas próximas eleições, e defende um diálogo com outras legendas para compor uma frente de oposição em Ponta Grossa. Confira trechos da entrevista exclusiva do deputado estadual ao Diário dos Campos, em que ele também faz um balanço da atividade parlamentar.

Balanço do primeiro ano de mandato

“Primeiro foram as ações do governador Beto Richa desde que se reelegeu, os chamados ‘pacotes da maldade’, a violência contra os professores, esse fatos marcaram profundamente a conjuntura política no Paraná. Minha atuação ficou marcada pela resistência, ao aumento do ICMS, do IPVA, mas principalmente dos fundos de previdência. E resistência do pacote que ia prejudicar muito a educação, que conseguiu ter uma vitória. O governo recuou, iria fechar várias escolas. Continuo trabalhando muito na questão da cultura de paz, tive vários projetos nesse sentido, como um que inibe a venda de armas de brinquedo, incentiva as lojas a não venderem esse tipo de produto, por exemplo. Cada vez mais eu acho que esse é um tema de suma importância. Coloquei emendas no plano estadual de educação, e em alguns projetos. Também atuei na defesa dos interesses de Ponta Grossa, em duas questões muito importantes: a da Souza Naves e da Codapar. Com relação à Codapar, apresentei uma emenda, que teve a colaboração dos deputados Plauto Miró Guimarães (DEM) e Marcio Pauliki (PDT), e tiramos o terreno do governo estadual, que queria vendê-lo, e fizemos com que ele fosse repassado ao município. Agora cabe ao prefeito negociar com o governo para que esse terreno seja transferido. E ele pode fazer ali o que achar melhor, uma usina para o lixo, porto seco, uma central de reciclagem, um condomínio industrial, um Ceasa. Mas é um terreno estratégico, um dos melhores do Distrito Industrial, com vários barracões e silos, que podem ser importantes para Ponta Grossa. Também fiz uma proposta com relação à Souza Naves, através de um aditivo contratual concessionário, no qual haveria um pequeno aumento da tarifa. Mas pela dimensão da importância daquela avenida, onde passa todo um tráfego de Ponta Grossa e todo o Estado, nós poderíamos, no atual contrato, fazer um aditivo, que teria algumas vantagens, onde as obras saíram mais baratas e teríamos um pequeno aumento na tarifa, mas isso seria nas seis praças, não só em Ponta Grossa e deixaríamos para discutir lá para frente o Contorno Norte, uma discussão para o futuro. O prefeito também conseguiu uma verba para Souza Naves, isso é bom, porque o que se está pedindo imediatamente é que se faça o canteiro central, passarela e terceira faixa na região da vila Romana. Se tivermos o aditivo e esse dinheiro, podemos fazer até o viaduto ali e resolver definitivamente o problema da Souza Naves.”

Crise institucional no país

“Tenho trabalhado com dedicação contra o impeachment. Acho que não há motivo, não há ilegalidade. As pedaladas fiscais todos os governos fizeram, e o Brasil não vai ganhar absolutamente nada tirando a presidente. Contra a Dilma, pelo menos até agora, não houve nada na Lava-Jato, nenhuma citação do nome dela. E não vejo motivos para tirá-la e colocar o vice, isso vai abrir um precedente muito ruim para nossa democracia. Um impeachment sem legalidade faz com que o nosso sistema político, que é de coalizão, fisiológico, valorize ainda mais o impeachment como um instrumento para negociar. Acho que o governo precisa achar uma saída para a crise econômica que é grave, que além de econômica e política também é uma crise moral. Acho que as pessoas que tiveram envolvimento comprovado devem ser punidas, e o lado bom é que o poder judiciário teve um salto de qualidade, isso é uma conquista da sociedade brasileira. Mas se não mudarmos o sistema político, isso não vai se resolver. Hoje se tem um escândalo, e daqui uns anos acontece outro. Porque nosso sistema político induz à corrupção, é imanente, que é um sistema que é administrado por interesses privados. Um governo de coalizão, que se elege como minoria e tem que negociar e abre a porteira para a corrupção. Temos que mudar o sistema, essa é a grande questão nacional. O PT sempre apontou o caminho para isso, através do financiamento público, o voto em lista, uma proposta que também é da CNBB, que é o voto em duas etapas, primeiro você vota na lista, depois na pessoa. O que acontece hoje é um o descompasso, se vota no presidente, naquela candidatura que mais representa os interesses coletivos, e para deputado vota no indivíduo que mais conhece, e aí acontece essa representatividade totalmente equivocada. Por exemplo, o agronegócio, que tem um número pequenas de famílias, mas que tem mais de 150 deputados. Já o agricultor familiar, que são milhares de famílias no Brasil, tem uma pequena representação. Ou seja, há um erro na representação. Enquanto nós não reconhecermos isso, essa distorção do sistema político, o processo de corrupção vai ser permanente, como sempre foi. Se mudarmos o sistema político seria um salto de qualidade para o Brasil.”

Acontecimentos em frente a Alep em abril

“Houve uma série de equívocos, tanto que caiu o secretário de segurança. Acho que o governador cometeu um erro grave, e o próprio Legislativo também. Nós deveríamos ter discutido mais com os servidores, dado mais tempo ao processo, as coisas não precisavam acontecer como ocorreram. Houve precipitação, é uma mancha que ficou, tanto que para o Executivo como para o Legislativo. Houve um massacre, as pessoas ficaram mais de dez horas sendo atacadas com cassetete, bombas. Foi uma marca negativa para a história do Paraná, muito ruim, muito triste, que não precisava ter acontecido. Um pouco mais de calma, de diálogo, e isso não precisava ocorrer, tenho certeza.”

Atuação da oposição e união da bancada de Ponta Grossa

“Hoje não temos votos necessários para abrir uma CPI em duas questões gravíssimas que estão acontecendo aqui: uma é o episódio de corrupção na Receita Estadual, que envolve vários setores do governo do Estado; e a outra é das escolas, onde uma empresa recebeu os recursos e não fez as obras, isso tem que ser investigado. E infelizmente a oposição com sete deputados consegue no máximo doze assinaturas, com parte dos independentes. Mas em algumas questões, como é o caso da Codapar, nós conseguimos um acordo, mesmo com setores do governo, e com os deputados de Ponta Grossa, que estão unidos nos assuntos de interesse dos Campos Gerais, conseguimos algumas vitórias.”

Eleições para prefeitura

“O partido ainda não tem uma definição, estamos conversando, o que estamos fazendo é buscar um diálogo com alguns setores. Eu acho que nós devemos continuar conversando com o PCdoB, buscar dialogar com o Psol, com a Rede, com o PMDB, mesmo com o PDT, com o objetivo de consolidar uma candidatura forte de esquerda, ou centro-esquerda, em Ponta Grossa, de oposição. Eu, sinceramente, não desejo sair como candidato. Por vários motivos, tenho um mandato como deputado estadual. É claro, isso tem que se conversar com o partido.”

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