Aquele que deixa para traçar planos importantes apenas na última semana de dezembro está, na verdade, pedindo desculpas ao futuro. A cena é a mesma: o calendário vira, o cansaço fala mais alto e as decisões objetivas se tornam sentimentais.
Meu ponto de vista é simples e firme: no navegar dos planos, o que sustenta a travessia é uma rota clara somada à disciplina para ajustar as velas. E sem trocar de destino a cada vez que o vento mudar um pouco de direção. Daí o planejamento.
O inimigo comum tem dois rostos. O primeiro é o romantismo operacional: gente séria escrevendo promessas perfeitas que desmoronam na primeira segunda-feira, porque exigem um grau de detalhe impraticável. O segundo, uma paralisia elegante: uma perigosa espera de um tal de “momento certo” que nunca chega.
Em ambos, o custo oculto é o mesmo — meses de esforço que empurram o barco, mas que não o aproximam do porto correto.
A lição eu aprendi no casco: no fim do ano passado, revi minha rota. Decidi mudá-la por uma questão de lucidez. Coloquei meu próprio barco na água, com menos enfeite e mais perspectiva.
Cá estamos novamente. No inevitável fim de ano. E a oportunidade agora é objetiva: utilizar estas semanas para produzir clareza. Decidir o que será feito e principalmente o que não será feito.
Ou como disse uma sábia voz num dos círculos que frequento: “clareza é saber a hora de parar de girar a chave na fechadura da porta”. Escolher o destino, nomear o próximo passo e assumir um ritual de leitura do vento que não dependa de humor. É medir avanço pela proximidade em relação ao destino, e não por quantidade de tarefas concluídas.
A trilha prática cabe numa frase: defina o litoral, estabilize o leme e cheque constantemente se o destino está mais próximo.
Afinal, um plano estruturado respeita a ordem correta das coisas.
Se você sabe que seu barco é bom, mas suspeita que a rota não entrega o litoral desejado, essa é uma excelente época para recalcular a rota.
Grandes líderes sabem a relevância de se fazer isso com perspectiva ampla e estrutura confiável: mais direção, menos improviso. O mar não espera. E o mercado observa com atenção quem sabe para onde está indo.
*Jefferson Wegermann é consultor jurídico-empresarial, advogado há mais de dez anos e especialista em planejamento e estruturação de negócios. Acredita que a perspectiva aliada à fluidez são elementos essenciais para quem deseja deixar um legado de excelência. @jeffwegermann
** Este texto também foi publicado na edição impressa do Diário dos Campos desta terça-feira (11).
