Expressões consideradas racistas devem ser excluídas de nosso vocabulário. Assim se manifestou, por exemplo, o professor Paulo Sérgio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Estácio/RS, em artigo do Jornal do Comércio, Porto Alegre, publicado em 13.11.2021.
Diz o professor que é preciso combater essas expressões através da disseminação de informação. “Mulata”, por exemplo, faz parte dos sete termos separados por ele. A palavra, que faz referência ao animal mula, deveria ser substituída apenas por mulher negra. “Denegrir” também entra na lista. Usada como sinônimo de difamar, ela relaciona a negritude com algo negativo.
Paulo cita ainda a expressão “fazer nas coxas”, que vem da técnica utilizada pelos escravizados para fazer telhas e é utilizada para caracterizar trabalhos mal feitos. Muito usada até hoje, “doméstica” também carrega traços racistas. A palavra, que se refere às mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas, remete a pessoas selvagens que foram domesticadas.
Mais um termo herdado do período escravocrata é “meia tigela”. Naquela época, os negros que não conseguiam cumprir as metas de trabalho recebiam apenas metade da porção de comida. Hoje, é aplicado para descrever algo sem valor. “A dar com pau”, ainda nessa linha, faz alusão à alimentação dosada em colheres de pau nos navios negreiros e significa algo que não é digno de consideração.
Por fim, o professor menciona “Inhaca”. Usada para falar de algo com cheiro forte e desagradável, a palavra significa o nome de uma Ilha de Moçambique, na África Oriental. A expressão reforça preconceitos ao associar o lugar, onde a população é majoritariamente negra, a algo nojento.
Com todo o respeito ao professor, a sua proposta é uma tolice. O combate ao racismo deve ocorrer de forma positiva através de educação no seio familiar e escolar. A exclusão vocabular de palavras ditas preconceituosas não elide o problema. O preconceito está arraigado no caráter dos indivíduos, inclusive de negros, portanto, é matéria de complexa solução. Em países considerados de Primeiro Mundo o preconceito existe.
Logo, a forma preconceituosa de agir é uma característica do caráter de muitos indivíduos e ela estará sempre presente em qualquer tempo e em qualquer lugar.
O sentido deformado ou preconceituoso das palavras está na maneira como o indivíduo se refere ao seu semelhante com o objetivo de ofendê-lo. Muitas vezes em divergências as pessoas procuram atingir os seus oponentes com palavras duras. O falecido compositor gaúcho, Luís Wagner, compôs “Nega veia” e era negro.
Vejam o absurdo: obra infantil do escritor Monteiro Lobato “Caçadas de Pedrinho” é censurada pela ditadura do politicamente correto por ser considerada de conteúdo racista.
Agora, pretender-se rotular de preconceito o que já está consagrado na linguagem popular, letras musicais, livros, dicionários oficiais etc. é perder tempo com tamanha bobagem.
Instalou-se no país uma doentia corrente minoritária do “politicamente correto”. Doravante, temos que nos policiar ao falar para não sermos tachados de racistas, misóginos, homofóbicos etc.
Júlio César Cardoso
Servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC
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