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Na contramão inglesa

Sandro Ferreira

Na última década a frota de veículos no Brasil cresceu cerca de 400%, conforme o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), portanto, não há dúvidas que o trânsito de automotores e pedestres nas cidades, ou a mobilidade urbana como se diz atualmente, é um dos maiores desafios de gestores públicos, pois gera muito estresse, poluição, congestionamentos, custos de saúde, manutenção, etc. Entretanto, em Ponta Grossa, a Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT), num excesso de preciosismo, pretende reinventar a roda quando plagia uma versão ao molde inglês, para uma rua que realmente deve ser mão dupla, porém, sem a necessidade de inverter uma norma que inclusive, está prevista no Código Nacional de Trânsito, segundo a qual, em pista de mão dupla, automotores devem trafegar pela mão direita.

Com poucas intervenções positivas realizadas pela AMTT neste ano e um aumento abusivo de 66% na multa de estacionamento regulamentado, a atual diretoria está há oito meses na função e ainda sequer sincronizou os semáforos das mais conturbadas avenidas do município, ocasionando lentidão e engarrafamentos em cada 100 ou 200 metros. Sabe-se que novas ações serão implantadas pela AMTT, como a proibição de conversões à esquerda em vários cruzamentos, o que é uma medida eficiente, porém paliativa, pois o que Ponta Grossa precisa mesmo é de boas obras no que concerne ao trânsito, além de mais educação para motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres.

Recentemente o secretário municipal de Planejamento anunciou que o trânsito será focado a partir do bairro Uvaranas, devido ao seu tamanho, população e estágio de desenvolvimento. No entanto, isto deveria ser revisto, afinal, planejamento urbano que se preze deve iniciar pelo Centro, pois é o bairro que apresenta a maior confluência de automóveis e pessoas que por ali circulam diariamente; sendo também o mais ‘democrático’ dos bairros. É neste onde estão os maiores desafios da mobilidade urbana, portanto, não há como minimizar problemas de trânsito sem dar prioridade à área central e, a partir dali melhorar a integração de toda a cidade.

Mesmo politicamente impopular no curto prazo, é preciso extinguir estacionamentos em algumas ruas e avenidas, para servir ao aumento de passeios, às ciclovias e a faixa exclusiva de ônibus, priorizando os pedestres, o transporte coletivo e o alternativo. Convém pensar também em um novo contorno ferroviário destinado ao transporte de cargas (alô Santo de Casa), para que parte do modal atual que cruza o município sirva ao transporte público em futuro breve; ligações interbairros por novas ruas, pequenas pontes e trincheiras também são fundamentais.

Nos próximos anos Ponta Grossa vai experimentar um ciclo acelerado de crescimento econômico e populacional e, se hoje os problemas já beiram o caos, então fica claro que serão necessários investimentos pesados em infraestrutura viária. O que não precisamos é de ideias ‘pra inglês ver’.

O autor é cidadão ponta-grossensse.

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