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Eleições: Um novo momento político (XV)

  

Fabio Aníbal Goiris

 

 

 

As alianças políticas representam a base sobre a qual se sustenta o sistema partidário brasileiro. De modo geral – e infelizmente – as alianças políticas consideram apenas a obtenção de dividendos políticos – leia-se votos-, especialmente no segundo turno de eleições, antes do que a consecução de projetos nacionais sustentados na cidadania. Contrariamente, a presidente Dilma, por exemplo, desenvolveu o conceito de que a governabilidade deve sustentar-se não apenas numa ‘base aliada’ que favoreça a aprovação de projetos do governo, mas, sobretudo, que seja favorável aos temas nacionais como o combate à fome e à miséria.

Assim, aliança, não pode ser apenas uma palavra que represente uma relação de compra e venda sem sustentação ética. É preciso defender a existência de um desiderato que possa unir pessoas e projetos com alcance popular e democrático.

A cientista social Zillah Branco escreveu textualmente que o grande salto político introduzido pelo governo Lula foi o da necessidade e possibilidade de alianças políticas entre partidos e representantes de diferentes ideologias que contenham aspectos antagônicos na formulação do sistema de poder na sociedade, mas que tenham um mesmo objetivo em relação ao desenvolvimento do país.

Um exemplo de aliança que tenha por base os projetos nacionais por encima dos votos e dos partidos ocorreu numa reunião entre a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), e o governador do Paraná, Beto Richa (PMDB). A ministra pediu ao governador ajuda para complementar o Bolsa Família no Paraná, visando à erradicação da extrema pobreza, que hoje é de 3% da população paranaense (é preciso considerar que a média do país é de 8,5%). Não obstante, o número absoluto de pessoas em situação de pobreza extrema (isto é, cidadãos que vivem com menos de 70 reais por mês) no Paraná causa preocupação: são nada menos do que 306 mil almas. Mais ainda: 56 municípios (das 399 cidades do Estado do Paraná) têm índices de pobreza maiores do que o resto do país. Assim, sob os holofotes do Índice de Gini (que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita) estão as cidades de Doutor Ulisses e outras próximas a Ponta Grossa como Pinhão, Ortigueira, Reserva e Prudentópolis.

 A postura de Gleisi Hoffman é louvável, porém, as ações contra a pobreza devem ser equacionadas sem sobreposições. O governador Beto Richa, conforme relatam os jornais, já desenvolveu seu próprio programa de ajuda aos mais necessitados: a tal ‘família paranaense’. Não se trata, dizem, de transferência de renda como o Bolsa Família, mas, haverá distribuição de comida e produtos de limpeza para as famílias cadastradas, no valor de 50 reais por pessoa. Por fim, o ponto crucial, da aliança Gleisi/Beto, está na liberação de 100 milhões de reais na forma de empréstimo pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Pode-se imaginar que a esperança dos que vivem abaixo da linha de pobreza no Paraná é tão grande quanto o valor daquela espécie de ‘mútuo de coisa fungível’.

 

 

 

O autor é cientista político e professor da UEPG

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