em

Diretas já, 30 anos depois

Luiz Carlos Hauly

Nos meus mais de 40 anos de vida pública já vivi e participei de alguns momentos históricos. Um deles, sem dúvida, foi a campanha pelas “Diretas Já”, movimento democrático que buscava quebrar a espinha dorsal da ditadura militar por meio da garantia da participação do cidadão na escolha do Presidente da República. E foi há 30 anos, no dia 12 de janeiro de 1984, na Boca Maldita, em Curitiba, que ocorreu o primeiro comício em defesa das “Diretas Já”. Me lembro como se fosse hoje: as milhares de pessoas naquele ato público, numa quinta-feira, foi a senha para a deflagração de um movimento nacional a partir do entendimento de que o povo queria mudança.

A escolha da capital paranaense para esse primeiro comício não ocorreu por acaso. Tínhamos no Paraná, sob a liderança do Governador José Richa um estado de oposição ao regime militar. Tínhamos em Curitiba, sob a liderança do prefeito de Curitiba Maurício Fruet, uma capital de oposição ao regime militar. E justiça seja feita: Álvaro Dias, então presidente do diretório estadual do PMDB, juntamente com outros correligionários do “velho MDB de guerra”, trabalhava nos bastidores para viabilizar em Curitiba a primeira grande mobilização nacional.

O ato público na Boca Maldita também serviu para quebrar uma espécie de paradigma na vida nacional. Depois de 20 anos de ditadura militar, de repente, milhares de pessoas se uniram para cobrar o sagrado direito de participar ativamente da vida pública. Foi a oportunidade de soltar o grito que estava contido na garganta, sufocado pelo medo que imperava por meio dos atos das leis de exceção. O resultado desta mobilização em Curitiba, somado a outras que ocorreriam em diversas cidades, serviu para mostrar que havia uma luz que apontava para o fim do túnel da escuridão.

Para contextualizar, é importante lembrar que, em 1984, havia uma emenda constitucional do Deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) que pedia o restabelecimento das eleições diretas para presidente, cuja votação estava marcada para abril daquele ano. O movimento das ruas buscava justamente fortalecer o clamor pela aprovação desta emenda, o que era muito difícil porque essa proposta contrariava os interesses dos militares que governavam o País. E mesmo com apoio de grupos dissidentes do PDS, a emenda não foi aprovada. Obteve 298 votos a favor ( 22 a menos que o necessário), 65 contra, 3 abstenções. A tática do grupo do PDS que era fiel ao regime foi faltar a votação, registrando-se 112 ausências de deputados do PDS.

Em meio a tantas lideranças nacionais como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, José Richa, e de artistas como Martinho da Vila, Raul Cortez, Ruth Escobar e Dina Sfat, além de dezenas de políticos e autoridades paranaenses, fui convidado, como prefeito de Cambé, para falar em nome dos prefeitos do interior. Logo após ser anunciado pelo radialista Osmar Santos, tive a oportunidade de defender, em praça pública, a volta do Brasil à democracia e ao estado de direito.

O resultado de toda essa pressão popular não veio de imediato, mas culminou com a eleição de Tancredo Neves para presidente, pela via indireta, com a aprovação em 1988 da nova Constituição, e no ano seguinte com as eleições diretas para presidente. Não podemos nos esquecer dos brasileiros que deram à própria vida na luta pela liberdade.

Sabemos que há muito por fazer neste País para melhorar a Saúde, Educação, Segurança, Infraestrutura, Reforma Tributária com inclusão social e tantas outras medidas necessárias, porém, cada brasileiro tem hoje o direito de exercer a plena cidadania, e o voto, mas do que nunca, continua sendo o instrumento de mudança, graças àquela mobilização pioneira que ocorreu em Curitiba e que depois contagiou o Brasil.

O autor é Deputado Federal e ex-secretário da Fazenda do Paraná (1987-1990 e 2011-2013).

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.