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Despacho silencioso

O secretário Reinaldo de Almeida César deixou a Segurança Pública da mesma forma que entrou e permaneceu por mais de ano e meio: sob a égide da discrição. Aceitou o convite do governador Beto Richa e passa a responder pela Ouvidoria, setor capacitado ao Acesso á Informação e de Inquéritos Administrativos. Em seu lugar, o promotor de Justiça Cid Vasques.

Os pesquisadores poderão confirmar, mas em principio seria a primeira transferência de um setor tão importante como a Segurança Pública para uma função administrativa, ainda que importante, como se estima seja realizado um bom trabalho pelo novo titular da SESP.

Até meados do século passado, os governantes tinham duas prioridades em suas gestões e muitos enfrentavam ainda que problemas de toda a ordem os impedissem de cumprir à risca a proclamada preferência: a saúde e a educação. Há já algum tempo, anos, se insere a Segurança Pública daquelas duas prioridades. Provas, se necessárias fossem, estão aí os números da violência, as cadeias abastadas de gente, e toda a sorte de desrespeito às leis e fazendo de cada paranaense sempre um assustado, um caminhante preocupado com a própria sombra, comerciantes, farmácias, estabelecimentos variados, todos enfim, ameaçados em horários diversificados mas repetitivos, inclusive à luz do dia para se usar chavão dos tempos em que os registros dessa ordem ainda provocavam surpresas.

Almeida César, com todos os seus conhecimentos obtidos na prática da Polícia Federal, veio ao seu Estado natal para combater o crime e aqui usar de meios capazes de amenizar a intranquilidade da sua gente. Implantou as Unidades Paraná Seguro de repressão ao crime em alguns bairros da capital com a promessa de imprimi-los ao interior também. Fez como seu colega secretário da Segurança no Rio de Janeiro, outro destacado cidadão da Polícia Federal.

O Rio hoje, dizem, é outro. O combate é sistemático e causa espanto um ou outro ato violento dentre as unidades implantadas na antiga capital da República, nos morros tidos como os mais violentos. O trabalho lá, prossegue. Aqui, consta, também. Há diferença entre os dois, perguntar-se-á? Sim, claro. Há a peculiaridade de cada cidade, há o prestigiamento dos governantes, há a divulgação dos feitos formulados para incentivar a população a sair de casa e contar com maior dose de segurança.

O que se viu em Curitiba, na verdade, não se viu. Uma Unidade Paraná Seguro é implantada, batalhão são movimentados, oficiais destacados e seus comandados prontos para aproximar a população com a segurança que sempre lhe devemos, governo a governo através dos tempos. Por isso, desafia-se o leitor a lembrar os nomes dos bairros onde essas unidades estão instaladas, com uma advertência – não vale o leitor que serve à própria segurança.

Ora, um projeto de tal ordem, de tal vulto, precisa ser acompanhado de um incentivo capaz de causar admiração em todos. Mostrar o que se faz, sobretudo nessa área de segurança, é, por razões óbvias uma obrigação governamental. É uma satisfação à opinião pública. Isso tudo cheira à fritura. O secretário Almeida César ou não soube encaminhar os problemas surgidos e as iniciativas tomadas dentro do próprio governo, ou ficou abandonado entre as paredes de seu escritório de despachos. Talvez um dia se saiba porque foi despachado.

 

Ayrton Baptista, jornalista

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