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A poesia em Ponta Grossa: uma interpretação (Parte XI)

 

                        Fabio Anibal Goiris

                        Outro representante da poesia ponta-grossense é Kleber Bordinhão que teria encontrado sua primeira inspiração no poeta e ensaísta Décio Pignatari, um ícone do concretismo. Nesse contexto, no Brasil, a expressão ‘poesia concreta’ a rigor só surgiu em 1955, criada pelo poeta e tradutor Augusto de Campos e compartilhada com seu irmão Haroldo. A obra de Kleber, certamente na esteira dos irmãos Campos, pode ser entendida como pós-moderna e de viés concretista. Porém, não no sentido ideológico ou contracultural, mas, quanto à sua complexidade discursiva ou metalinguística que mistura poemas concretos, haicais e epopeias contemporâneas.

                        Kleber Bordinhão inspirou-se também em Paulo Leminski; o poeta paranaense que defendia no seu célebre ‘Catatau’ a ideia romanceada de que Descartes poderia ter vivido nos trópicos.  Este simbolismo certamente acompanha as obras de Kleber a tal ponto de inspirar-se na curitibana Alice Ruiz (que era esposa de Leminski). Incluem-se também Arnaldo Antunes, Luiz Antônio Solda, além de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Pode-se acrescentar também entre as inspirações de Kleber o trabalho poético, inteligente e irônico de Millôr Fernandes (ver o haicai deste):

            ‘Nos dias quotidianos

            É que se passam

            Os anos’.

            Em 2010 Kleber Bordinhão publicou o livro ‘Distancias do mínimo’ onde pode ler-se um belo poema no qual o autor faz uma construção de palavras e conceitos (do cotidiano) tendo como pano de fundo o próprio tempo:

 

            Ontem quis escrever uma dor

            mas, fosse hoje, já não podia.

            Hoje, virou alegria

            e quando tocar o papel

            será heresia

            será escândalo

            será poesia,

            não há dia que eu não tema

            ficar lembrando da vida

            sem viver um poema

 

            Kleber Bordinhão, vencedor do Concurso Nacional de Poesia, da editora ‘Taba Cultural’ com o poema Pecados Essenciais, publicou recentemente outra obra poética: ‘Ano Neon’ (2013). Sua poesia transita pela desconstrução da linguagem; entremeada com alguns elementos discursivos que incluem uma metalinguística que não duvida em mostrar um mundo em caos. Pode-se concluir que o autor constrói e envereda sua arte fortemente influenciada pelo concretismo brasileiro (da tríade Augusto, Haroldo e Décio), pelos haicais leminskianos e certamente por uma plástica lírica jovem, urbana e pós-moderna.

 

                                                           O autor é cientista político e professor da UEPG

 

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