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A poesia em Ponta Grossa: uma interpretação (Parte VIII)

 

            Fabio Anibal Goiris

            O professor do Curso de Letras da Uepg, Sérgio Monteiro Zan, herdeiro do simbolismo, incorpora em sua obra poética alguns elementos como a exclusão do realismo e do naturalismo e grande ânimo aplicado aos temas místicos, imaginários e subjetivos. O simbolismo redimensiona, pois, a subjetividade, a imaginação e a espiritualidade, numa espécie de ‘obsessão pelo branco’ (ou seja, pelo indefinido e impreciso) presente nos poemas do simbolista Cruz e Souza. 

            O crítico Renato Suttana escreveu: Há (em Sérgio Monteiro Zan) uma espécie de desaparecimento da linguagem imediata – aquela que tendemos a compreender como sendo a linguagem justa e a única possível para o uso de todos os dias –, que é substituída por outra, cujos contornos são vagos ou escarpados. Habita-se, aqui, uma região de atmosferas rarefeitas e contornos poucos nítidos, repleta, porém, de uma luminosidade cegante que, num extremo, poderia atordoar nossos sentidos.

                Em 2001 Sérgio Zan lançou o livro de sonetos As horas sonâmbulas (Editora da Uepg). Na sua poesia alguns autores encontram traços de Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa) como a constante busca da ataraxia (a quietude epicurista). Na obra de Sérgio Monteiro Zan é possível perceber também nuanças da corrente individualista (ou intimista), inclusive como herança do simbolismo:

                        Signo que irrompe a espaços e imprevisto

                        Permeia a plúmbea contrição bendita

                        Da mente, ilhado claustro em que persisto.

            Mas, como todo poeta, Sérgio Zan não esconde a vertigem de certo romantismo que não abandona completamente seu trabalho, como se pode ver no seguinte soneto:

                        Absorvo o fixo afago silencioso,

                        O sereno fulgir glauco e amoroso

                        Desses olhos de outrora, que me fitam.

            A poesia de Sérgio Zan se alinha à erudição do próprio autor. Poliglota e literato não pretende simplificar seus versos (e tampouco enveredar pela senda do vanguardismo ou das ideologias), antes incorpora um léxico por vezes complexo, mas, que denota a intuição do artista que se alia a um sofisticado código metalinguístico. Sérgio Monteiro Zan é um ícone regional dos poemas que combinam mitos, ilusão e uma simbologia certamente permeada de abstrações. O soneto abaixo corrobora este conceito:

                        Por infindáveis, tétricos in-fólios,

                        O ultraje imemorial de altos espólios,

                        Fraude ou verdade antiga, sua e alheia,

                        Escoam-lhe na noite fria e quieta,

                        Mortas, à sombra enorme da ampulheta,

                        As horas e as palavras com a areia… 

 

                                                           O autor é cientista político e professor da UEPG. 

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