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A Lei e o lixo

 

Em pleno século XXI, o Brasil continua dando pouca ou nenhuma importância para a questão do lixo, a qual já foi devidamente encaminhada há mais de meio século nos países desenvolvidos. Por aqui somente nos últimos anos foi aprovada a Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), dando novas diretrizes e normas para coleta, destinação e tratamento de todo o lixo reciclável, orgânico, hospitalar e descartável produzido em território brasileiro, bem como a logística reversa e a corresponsabilidade entre poder público e cidadãos.

Entretanto, a adequação à Lei foi solenemente ignorada pela maioria das prefeituras do país, e só agora os prefeitos começam a se atentar para o problema, sempre tratado com negligência pelos mesmos. Ponta Grossa não foi nem é exceção, considerando que há mais de 30 anos destina-se o lixo produzido pelos munícipes no inadequado, mal localizado e ilegal ‘Aterro’ do Botuquara. Vários prefeitos fizeram promessas de solucionar o caso com novos aterros sanitários, usinas de energia, entre outras ideias imaculadas, no entanto, tudo se resumiu à empulhação para empurrar o problema com a barriga e nada ser resolvido.

Neste ano, porém, com a previsão de responsabilizações eleitorais e penais aos prefeitos que não enfrentarem a questão, parece que alguns estão percebendo que o lixo não pode mais ser varrido para debaixo do tapete, ou melhor, enterrado indiscriminadamente para sempre. Nações desenvolvidas e raras cidades no Brasil, já se deram conta de que o lixo pode valer muito mais do que um benefício ambiental, pois quando bem gerido, o lixo pode criar centenas de empregos sustentáveis, renda para milhares de pessoas, mais saúde para os habitantes locais, menos gastos públicos e até mesmo uma ótima propaganda turística, pois cidades mais limpas se constituem num forte ativo para o setor do turismo.

Infelizmente, na semana passada viu-se um juiz de Direito dar liminar favorável ao funcionamento de um aterro privado da PGA (Ponta Grossa Ambiental), embasado somente num parecer concedido pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná), o qual desmoraliza ainda mais esta instituição que deveria zelar pela defesa do meio ambiente no estado, desenterrando o caso que já estava encerrado, mas que devido ao poder econômico de empresários que nunca tiveram uma preocupação ambiental genuína, faz com que novamente o tema venha à tona, obrigando a sociedade organizada engajada na questão ambiental a também levantar a voz, sob o risco deste aterro vir a ser aprovado pelo atual prefeito Marcelo Rangel, que em outro momento, como deputado estadual, já se posicionara contra tal empreendimento, o qual inclusive localiza-se numa das áreas com maior potencial turístico de Ponta Grossa, o Distrito de Itaiacoca.

Já passou da hora de termos uma coleta seletiva abrangente e reunir os municípios vizinhos para criar um consórcio intermunicipal de tratamento e destinação adequada do lixo, afinal, este não pode servir apenas a um famigerado monopólio privado. Ponta Grossa está precisando ser passada a limpo e que tal começarmos pelo lixo?

Sandro Ferreira, turismólogo pela UEPG e cidadão ponta-grossensse.

 

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