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A TRANSFORMAÇÃO DA URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE PONTA GROSSA (Primeira parte)

Carlos Mendes Fontes Neto*

 

É incontestável que a imigração europeia contribuiu para modificar os hábitos na forma de ocupação do espaço urbano causando uma revolução principalmente na segunda metade do século XIX quando um número significativo de alemães, poloneses, italianos e ucranianos aportou na cidade. Segundo o relatório do Presidente da Província, Joaquim d´Almeida Faria Sobrinho, de 30 de outubro de 1886 a população de Ponta grossa havia quase dobrado nos últimos anos com a vinda dos alemães do Volga. Além de outros imigrantes que haviam aportado na cidade na década anterior.

Antes o espaço urbano seguia o modelo urbano colonial vigente, com construções baixas, edificadas com pedras e taipa, sem forro, com a frente no alinhamento da rua, com ocupação do terreno sem se preocupar com aberturas convenientes para iluminação ou ventilação e o espaço comum exclusivamente voltado ao uso das tarefas domésticas. O que de certa forma atendia as necessidades do cotidiano até então. Mas com a chegada dos europeus, principalmente os de origem germânica, naturalmente se imprimiu na forma de edificar e na própria conformação dos espaços e usos das moradias um novo modelo que começou a modificar a urbanização da cidade. A frente das moradias se afastou do arruamento criando espaço para ajardinamento, além de haver preocupação de ocupar os espaços livres do terreno com plantas, hortas e pomares. Antes se relegava a ideia de espaço para cultivo para além do perímetro urbano. Existia então uma sociedade de perfil rural que mantinha propriedades no entorno e logo não se preocupava com esse aspecto no perímetro urbano. Não que os imigrantes também não tivessem esse costume, mas sem abrir mão da forma de ocupação urbana ligada ao aproveitamento de espaço livre por menor que fosse para plantar e ajardinar.

As moradias então começaram a sair do rés do chão, ganhando telhados com inclinação acentuada, mansardas, águas furtadas, lembrando as origens de terras onde o acumulo de neve devia ser evitado. Ainda considero que mesmo sendo um elemento dispensável no nosso clima, esse espaço criado sob o telhado ocupava uma função útil na divisão do espaço doméstico. Era o sótão,

onde eram acomodadas as crianças da casa. Quem não identifica como um elemento ¨sui generis¨ nas edificações que ainda vemos pela cidade, as casas com sótão (e era muito comum os alemães provenientes da região do Volga chamarem de ¨soti¨).

*Mestrando em Planeamento e Projecto Urbano na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal.

As fotos que ilustram o texto são do acervo pessoal do autor.

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