Outro destacado poeta da cidade de Ponta Grossa é Miguel Sanches Neto que nasceu em Bela Vista do Paraíso (Paraná). Escritor consagrado, professor de literatura na UEPG e crítico literário, sua obra tem grande influencia acadêmica.
A prosa sob a forma de romances (e contos) representa sua maior contribuição para a literatura brasileira. Alguns dos seus livros incluem: Chove sobre minha infância (2000); Hóspede secreto (2003 ganhador do Prêmio Cruz e Souza), Um amor anarquista (2005) e A máquina de madeira, 2013.
No campo da poesia lançou em 2006 o livro Venho de um país obscuro (Editora Bertrand-Brasil). Antes mesmo apareceu Abandono uma coleção de poemas dominados por haicais e publicados em 2003. Em 2006 a editora da Uepg publica o seu livro de poesias Pisador de Horizontes. Em 2010 sai à luz outra coletânea de poemas: Alugo palavras (editora Edelbra). Sobre Miguel Sanches Neto o grande crítico paranaense Wilson Martins escreveu: A ironia é o condimento de seu espírito, sem prejuízo da inclinação nostálgica e memorialística que lhe completa o perfil de escritor.
A poesia de Miguel Sanches Neto se inscreve num calidoscópio que combina lirismo, confissões pessoais e alguma crítica de conteúdo social. O Apolíneo emerge nos seus poemas, mas, antes o que se sobrepõe é um universo dominado por Dioniso. O autor tem o entusiasmo de lembrar a infância (alinhando-se a Freud que definiu este processo como memória incontornável). A infância nos seus poemas (na esteira de Gabriel García Márquez explicitado em Vivir para Contarla) é entendida como a pátria dolorosa do escritor. Por isso, simbolicamente estaria vivendo no exílio. No poema intitulado Revendo uma foto antiga Miguel Sanches Neto proclama:
Nesta foto do tempo de criança
o que mais me encanta
não é nossa alegria de infantes
mas a réstia de luz de uma manhã
brilhando no chão da varanda.
A obra de Miguel Sanches Neto assume por vezes um viés parnasiano (face à escrita densa, estetizada e perfeita) e, como foi explicitado, quase sempre se aproxima de Dioniso, o deus grego dos ciclos vitais (ou da sofrivel condição humana na esteira de Hannah Arendt). Além disso o acaso, o súbito e o imprevisto estão também presentes nos seus poemas:
Súbito me lembro de um antigo telefone.
Seu número irrompe em minha memória
e não sei de quem é, nem quando nem onde,
sei apenas que é um endereço que dói.
Miguel Sanches Neto tenciona também dissecar em suas obras alguns equívocos e anfibologias da vida em sociedade, mas, não deixa de transparecer um modo otimista e idealizante de enxergar a existência e quem sabe a própria história. Sua vitalidade, seu alento poético e seu admirável talento como escritor convergem para corroborar este axioma.
Fabio Anibal Goiris, é cientista político e professor da UEPG