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A busca pela autonomia das mulheres

Ana Maria Branco de Holleben

Quatro questões principais impedem que a mulher conquiste seu devido espaço na sociedade brasileira, a falta de autonomia nas áreas econômica, cultural, pessoal e política. Com isso, saem perdendo o país, a convivência familiar e a distribuição de renda.
Ainda que nas últimas décadas tenham acontecido muitos avanços, ainda há um longo caminho a percorrer na questão econômica. O país tem uma tradição cultural machista que não remunera o trabalho de muitas mulheres, ou seja, as atividades domésticas como a administração da casa e o cuidado com os filhos são considerados como uma espécie de dom natural da mulher, uma coisa que nasce com elas e que faz parte da sua própria natureza. Conclui-se daí que não é necessário que ela receba por esse trabalho. Esse pensamento atrasado faz com que haja ainda mais diferenças na distribuição de renda, com a concentração dos recursos nas mãos dos homens, direcionando os gastos preferencialmente para as suas necessidades e demandas. Já foi dito que no Brasil, a pobreza tem a cara da mulher.
Esse cenário acaba contaminando toda a cadeia do trabalho, pois se o que as mulheres fazem em casa não vale nada, o que elas fazem nas empresas também vale menos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para cada R$ 100 pagos aos homens no mercado de trabalho, são pagos R$ 76 às mulheres. E apesar de receber menos, são as mais bem preparadas, tendo em vista que as mulheres têm mais tempo de estudo do que os homens, estudando em média, 8,6 anos, quando a média nacional entre a população ocupada é de 7,6 anos.
No que diz respeito às questões pessoais, a violência contra a mulher no Brasil ainda é uma chaga da sociedade e o pior lado disso é que os maus tratos são originados em sua maioria pelos próprios companheiros, ou seja, dentro de casa. Outra estatística mostra que 72% das mulheres assassinadas no país são vítimas de seus parceiros. A Lei Maria da Penha tem contribuído para inibir isso, mas os aparatos legais não tem sido suficientes para dar segurança a todas as agredidas. Com o recente entendimento do Superior Tribunal Federal de que o Estado é obrigado a instaurar processos nos casos de agressão à mulher mesmo sem a denúncia da vítima, as nossas perspectivas de que a violência diminua são otimistas.
Por fim, é necessário pensar numa maior participação política das mulheres em todas as instâncias. Na Câmara Municipal de Ponta Grossa, por exemplo, somos apenas duas entre 15 representantes. O cenário não é diferente nas Assembleias Legislativas, na Câmara dos Deputados e no Senado.
Há que se destacar que o sucesso da mulher na política é sinônimo de solidão. Grande parte das mulheres em postos avançados na política é de solteiras, viúvas ou separadas, pois não teriam condições de desenvolver uma carreira nessa área devido ao fato de que, culturalmente, o país considera o cuidado da casa e a formação dos filhos uma tarefa exclusivamente feminina, sem a solidariedade dos parceiros.
É fato que na semana da mulher comemoramos nossas conquistas, mas a data serve muito mais para que nos mobilizemos por nossos direitos além de qualquer coisa.

Vereadora em Ponta Grossa

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