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O Tal Pleno Emprego

 

Marcelo Maulepes

 

 

Graças à realidade econômica que o Brasil vem construindo desde 1994, a última crise mundial, que começou em 2008 e mostra seus efeitos até hoje, não trouxe resultados catastróficos ao Brasil. Comemoramos a quebra de um ciclo de insegurança econômica. Nas inúmeras crises anteriores, qualquer sinal de problema no exterior já levava a economia brasileira a paralisar investimentos, reduzir custos – frequentemente com demissões – e ser acometida por uma paralisia de investimentos e de esperança.

De qualquer forma, mesmo em tempos muito difíceis ao redor do globo, o Brasil tem muito a comemorar. As taxas de desemprego são as menores. Em 1986, segundo dados da Economia e Sociedade, publicação da Unicamp, o percentual de desocupados era parecido com o atual, mas a economia ainda sofria com os altos e baixos de uma realidade castigada pela inflação. Mas depois do plano real, não há relato de índices de desemprego tão favoráveis. Mesmo com o leve aumento em março, os 6,2% deste mês são os melhores para o período nos últimos dez anos.

A queda do desemprego, por outro lado, traz uma série de consequências, como o ‘apagão de mão de obra’. Faltam líderes, técnicos e engenheiros de várias especialidades para dar velocidade aos projetos de expansão que as empresas planejam. A falta destes profissionais é evidenciada em todos os setores, porém é mais evidente nos que requerem conhecimentos e habilidades mais específicas. Até mesmo o setor da construção civil, que sempre foi tido como berço de mão de obra com baixa qualificação, enfrenta escassez e supervalorização de trabalhadores.

Se, em tempos passados, a falta de oportunidades gerava uma falsa sensação de oferta abundante de profissionais o que implicava em baixa preocupação com a preparação e retenção de profissionais, agora a tônica é outra.

Políticas de retenção de talentos, benefícios abundantes, planos de formação profissional, universidade corporativa e estrangeiros migrando para o Brasil em busca de oportunidades, contribuem para o clima otimista que chega com as obras do PAC, Copa do Mundo e Olimpíadas. Já em novembro do ano passado, com a economia ainda mais aquecida pela proximidade do Natal, deu-se nome à criança: o pleno emprego.

Passada a euforia do espírito natalino, em fevereiro, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada contestou o nome dado. Para o Ipea, ainda estamos longe de comemorar o pleno emprego. Para que cheguemos lá de maneira sustentável, fundações sólidas são necessárias para que a economia se desenvolva sem medo de percalços como os gargalos da infraestrutura. Planejamento que atenda demanda futura e não a demanda passada, é igualmente importante para que esta era de progresso não seja soterrada pela falta de competência na gestão pública.

O comunicado do Ipea também toca em outro ponto interessante: o mercado de trabalho brasileiro tem um aspecto de heterogeneidade muito acentuado se comparado aos países ditos desenvolvidos. O nível de tecnologia, produtividade e até das condições de trabalho ainda é muito diverso. Outro sintoma que caracteriza a realidade do mercado de trabalho brasileiro é a falta de contrapartida do alto nível de impostos, normas e conquistas trabalhistas. Para cada real de salário pago pela indústria ao colaborador com emprego formal, os impostos, taxas, normas e obrigações devoram, em média, outros 80 centavos do empregador e 20 centavos do trabalhador.

As conquistas são inegáveis, mas não se pode deixar de questionar se o progresso que vivemos é sustentável ou fruto de uma bolha de otimismo inocente. Na comemoração do dia do trabalho, muito mais do que falar das conquistas passadas, há que se falar do que falta para garantir reforma trabalhista que desonere o empregador, que beneficie o trabalhador e que incentive a geração de valor pelo ganho de produtividade e investimento em tecnologia e pesquisa.

 

 

 

 

O autor é sócio-fundador da Relatom, consultoria em RH e presidente do capítulo paranaense da International Coach Federation

 

 

 

 

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