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À espera de um novo sucessor para a cátedra de Pedro

                Fábio Antonio Gabriel

                        www.fabioantoniogabriel.com

professor de filosofia, bacharel em teologia pela PUC PR

 

 

 

O leitor que se perguntasse a respeito do valor do pontificado de Bento XVI teria que, inicialmente, eleger um critério para tal avaliação. Defensor dogmático das verdades da fé, do depósito da tradição, Bento XVI não poupou esforços em sua luta vigilante pela proteção das verdades da fé, no afã de preservá-las inquestionáveis, propósito a que se dedicou intransigentemente desde que ocupava uma função na Sagrada Congregação Doutrina da Fé.  Certamente que aqueles que comungam uma visão de igreja em acepção eclesiástica, que defendem que a função da Igreja é manter inalterado o depósito das verdades reveladas, terão nele o marco renitente de um apóstolo vigilante. O leitor que desejasse avaliar as qualidades intelectuais de Bento XVI, certamente encontraria nele um homem que domina diversos idiomas, que dispõe de uma vasta cultura e conhecimento profundo de mundo e certamente sua catequese, uma vez compilada, desvelará uma fonte de doutrinação extremamente relevante e de profundidade inquestionável.

Por outro lado, com sua renúncia, surgem esperanças de um pastor para a diocese de Roma que dê continuidade aos anseios que movem o desejo de ’novos ares’, de um aggiornamento proposto pelo papa João XXIII no início dos trabalhos conciliares do Vaticano II.  Surgem esperanças de escolha de um pastor que conheça melhor a vida cotidiana das pessoas comuns, que se preocupe mais com as verdades do coração do que com as verdades da razão. Esperanças de um pastor que abra diálogo com as ciências, sem desprezar nenhum dos ensinamentos da fé cristã. Esperanças de que assuma o posto um pastor experiente no trato como pároco que conheça o cotidiano dos fiéis. Esperança de um pastor que debata com teólogos do mundo todo sem necessidade de excomungar ou de perseguir aqueles que, na defesa de pontos de vista diferentes, manifestem divergência teológica. Afinal, a teologia também é uma ciência e é espaço para estudos e pesquisas, e os questionamentos devem ser sempre bem-vindos e por meio deles podem surgir posturas mais adequadas ao mundo de hoje.

Tempos atrás li uma frase muito infeliz de um bispo nomeado por Bento XVI, dizendo que a única obrigação de padres em uma paróquia consistia em celebrar missas e demais sacramentos, e a paróquia não tinha nenhuma obrigação social. Com a renúncia de Bento XVI, surge a esperança de que o Direito Canônico seja considerado sobretudo na sua última norma a mais importante: ’a salvação das almas’.  Esperanças de um bispo de Roma menos preocupado com a doutrina e mais com a vivência cristã. Esperança de um sucessor de Pedro que chame a Igreja a parar de esconder suas feridas e assuma-se como instituição humana disposta ao diálogo.

Não queremos emitir juízos porque eles seriam sempre parciais, mas expressar o sonho de uma Igreja Católica na perspectiva eclesiástica do Concílio Vaticano II: Igreja como Povo de Deus.  Uma Igreja em que cada fiel realmente assuma uma participação maior, até mesmo em decisões, em que os ensinamentos dos bispos venham ao encontro do evangelho de Mateus, que certamente é o ‘exame final’ da vivência cristã: Estive com fome e me deste de comer. Enfim, sonhamos com um pastor que proponha mais caminhos e que condene menos, mais pastores na Igreja Católica e menos burocratas no governo da barca de Pedro.  

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