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Vacinas vencidas? Divergência no registro de sistemas causa confusão

Foto: José Aldinan/Arquivo DC

Os repórteres Estêvão Gamba e Sabine Righetti, do UOL/ Folha de São Paulo, publicaram nesta sexta (2) a informação de que 26 mil brasileiros receberam vacinas da Astrazeneca com prazo de validade vencido. A informação foi obtida após cruzamento de dados dos sistemas DataSUS e Sage. O Paraná seria o estado com maior número de ocorrência e Maringá lideraria o ranking de cidades. Quatro municípios dos Campos Gerais aparecem na lista: Castro, Curiúva, Piraí do Sul e Ortigueira. Diante das informações, a reportagem do DC foi atrás de representantes das administrações públicas a fim de esclarecer a situação.

Supostamente, o problema seria na aplicação do imunizante, o que é responsabilidade dos municípios. Desde janeiro acompanhamos diariamente a chegada e distribuição de doses. Elas são enviadas do Ministério da Saúde para a Secretaria de Estado da Saúde e, em questão de dois dias, estão em posse das Regionais de Saúde. São as Regionais que distribuem para as cidades. Todo esse processo costuma levar poucos dias.

No caso de Ponta Grossa, por exemplo, assim que as doses chegam elas são conferidas e registradas. Logo na sequência a Fundação de Saúde abre o agendamento. De forma geral é um ciclo rápido.

Em nota à imprensa, a Secretaria de Estado da Saúde (SESA-PR) reforça a agilidade do sistema. “Todos os lotes que chegaram ao Paraná pelo Ministério do Saúde foram, e continuam sendo, rapidamente descentralizados para todos os 399 municípios. A logística de distribuição tem sido um diferencial na estratégia estadual de vacinação”, enfatiza.

Apesar de destacar a agilidade, o órgão afirma que vai apurar se houve algum erro por parte das cidades. “As informações sobre os possíveis imunizantes vencidos serão verificadas junto às secretarias municipais, que são responsáveis pelo controle final da aplicação. O Estado também aguarda um posicionamento do Programa Nacional de Imunizações (PNI) sobre o caso”, explica.

“A Secretaria ressalta que é preciso ponderação neste momento e que todas as vacinas são seguras. Os municípios podem continuar o processo de imunização”, avisa a SESA-PR. Em caso de dúvida, a população pode verificar a carteira de vacina.

Lotes

Dos oito lotes mencionados pela Folha, o Paraná afirma ter recebido dois. O primeiro foi distribuído aos municípios no dia 23 de janeiro, com validade até 14 de abril. Foram 86,5 mil unidades. O segundo, com 38,6 mil, foi enviado às cidades no dia 26 de março, com validade até 31 de maio.

“O período mínimo entre a distribuição e a validade dos imunizantes foi de 66 dias. O máximo, de 81 dias. Considerando que os municípios recebem as doses e realizam, de maneira geral, aplicação instantânea, é improvável algum tipo de aplicação fora da data no Estado”, diz o Governo.

Segundo o setor de Imunizações da Secretaria, trata-se de problema de registro no sistema nacional, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). “O Estado orientou os municípios nesta sexta-feira (2), mais uma vez, para que corrijam os registros no sistema, ressaltando que a funcionalidade de correção, por parte do Ministério da Saúde, só foi disponibilizada há 15 dias”.

Sistema

Desde o início da pandemia existem divergências entre os sistemas federais, estaduais e municipais. Exemplo é a contabilização de óbitos. A morte por covid que é relatada pelo Município em determinado dia não é registrada pelo Estado na mesma data. De forma geral há um atraso para repasse.

Argumento com o mesmo sentido é usado pelo secretário de Saúde de Maringá. A cidade do norte paranaense teria aplicado 3.536 doses vencidas da Astrazeneca, segundo a Folha de São Paulo.

“O lançamento no Sistema Conect SUS está diferente do dia da aplicação da dose. Isso porque, no começo da vacinação, a transferência de dados demorava a chegar no Ministério da Saúde, levando até dois meses. Portanto, os lotes elencados são do início da vacinação e foram aplicados antes da data de vencimento. Concluindo, não houve vacinação com doses vencidas em Maringá e sim erro no sistema do SUS”, justifica Marcelo Puzzi.

Campos Gerais

A reportagem do DC tentou contato com as quatro Prefeituras da região que aparecem na lista da Folha de São Paulo e obteve retorno de apenas uma: Castro. A Secretaria de Saúde também nega possibilidade de ter aplicado o imunizante com a data vencida.

Castro

De acordo com o levantamento da Folha, Castro teria fornecido uma dose após a data de vencimento. Ela pertenceria ao lote 4120Z005, com vencimento em 14 de abril, e teria sido aplicada na Unidade Básica de Saúde Bom Jesus.

No entanto, a secretária de Saúde, Maria Lídia Kravutschke, afirma que a informação não procede. “Esclarecemos que as doses do referido lote foram aplicadas na Unidade Básica do Bom Jesus na data de 26 de janeiro. Reiteramos, portanto, que as mesmas foram aplicadas antes do prazo de vencimento”, diz em nota.

Ainda em contato com a Redação, Maria Lídia enviou foto comprovando que o lote foi aplicado em 26 de janeiro. “Sei até o grupo que foi vacinado”, argumenta.

Curiúva

A cidade teria aplicado 13 doses do lote CTMAV520, que vencia em 31 de maio, somente no mês de junho. É o que indica o cruzamento de dados da Folha. A imunização ocorreu no Centro de Saúde do Município. Curiúva seria a cidade da região com mais ocorrências da situação.

Piraí do Sul

O município teria vacinado 4 pessoas no Centro Municipal de Imunização com doses vencidas da Astrazeneca do lote 4120Z005, de vencimento no dia 14 de abril.

Ortigueira

A cidade vizinha de Telêmaco Borba teria aplicado duas doses vencidas. Elas pertenceriam aos lotes 4120Z005 (com vencimento em 14 de abril) e CTMAV520 (com vencimento em 31 de maio). Ambas aplicadas no Centro de Saúde de Ortigueira. Assim, a região dos Campos Gerais contabilizaria o total de 20 doses vencidas, conforme o levantamento da Folha.

Mesmo regular, Ponta Grossa emite comunicado

Ponta Grossa não aparece na lista de cidades que teriam fornecido vacinas com prazo de validade expirado. No entanto, diante da repercussão nacional, a administração pública reforçou o recado. Em nota à redação do DC, a Fundação de Saúde afirma manter “processo de verificação da validade das vacinas que começa no recebimento da nota fiscal das mesmas, inserção no sistema e verificação no envio para os locais de imunização e no momento da aplicação que tornam quase impossível o uso das mesmas fora do prazo de validade. A carteira de vacina informa os dados da aplicação da dose: lote e data de vencimento”.

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