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Vacina contra a covid-19 deve chegar à população em janeiro

Testes de dois tipos de vacinas desenvolvidos na China e pela Universidade de Oxford já estão sendo realizados no Brasil, inclusive no estado do Paraná, em profissionais de saúde que são linha de frente nos hospitais. A chamada fase clínica, de testes em humanos, representa um avanço para que a imunização chegue o quanto antes até à população.

 

Em participação no Quadro DC Entrevista, a farmacêutica bioquímica, Elisangela Gueiber Montes, doutora em Ciências Farmacêuticas e professora dos cursos de Medicina e Farmácia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) nas áreas de Microbiologia e Imunologia destacou que existem cerca de 160 estudos de vacinas que estão sendo realizados e que as testagens já estão bem à frente se comparados a outras vacinas que levaram anos para serem desenvolvidas e chegarem até a população.

 

Segundo a especialista, ainda não se sabe quando a vacina para imunizar contra a covid-19 chegará até a população. No entanto, existe uma previsão de que o Brasil passe disponibilizar doses a partir de janeiro de 2021. Confira a entrevista completa.

 

DC – Para começarmos a nossa entrevista, eu gostaria que a senhora explicasse como se produz uma vacina? Sabemos de testes com animais, testes em humanos, mas qual o passo a passo para isso ocorrer?

 

Uma vacina depende de várias fases porque, inicialmente, temos que pensar no antígeno. Então, de primeiro momento, eu coloco partes desses agentes do vírus em contato com as células ao processo que chamamos in vitro.

 

Esse processo é realizado em laboratório onde colocando determinado organismo em contato com essa célula vai responder alguma forma contra esse agente. A partir disso, eu sei como o sistema imunológico combate esse microrganismo. Esse seria o primeiro momento do desenvolvimento de uma vacina.

 

No segundo momento, eu posso eu fazer os testes em animais, mas não é tão simples, porque não são todos os animais que eu posso utilizar para essa finalidade. Precisa ser em animais que tenham o sistema imunológico semelhante ao dos humanos e de forma bastante fiel ao que eu quero ter no indivíduo no futuro. Por isso, as testagens são realizadas em chipanzés e macacos, por exemplo.

A terceira fase, bastante complexa, é a chamada de fase clínica onde eu preciso verificar se eu tenho uma vacina segura, verificar a sua eficácia, se se ela produziu uma resposta significativa e a reação da eficácia da vacina em humanos.

 

Aqueles indivíduos na fase clínica vão produzir anticorpos neutralizantes que, em contato com o vírus, vão reconhecer esse vírus em estudo fazendo com que ele não se ligue a sua célula onde, eventualmente, iria infectar. Então ele está lá ocupando o local da infecção e criando anticorpos.

 

– E quais os riscos desta fase clínica?

 

Atualmente, os riscos de infecção são praticamente nulos nestes testes porque se avalia quem será a população. Nessa fase, normalmente, não se avaliam as gestantes, pois correm o risco de se levar uma infecção ao feto e as pessoas de grupos de risco que não devem entrar nas testagens porque têm o sistema imunológico comprometido.

 

E o risco maior, na verdade, seria alguns efeitos colaterais que vêm se mostrando em algumas vacinas que é aquele efeito como uma febre que dura de 12 a 24 horas, dores no corpo, sintomas leves que podem ser tratados com analgésicos.

 

DC- Com relação à vacina da covid-19, sabemos de estudos que têm sido desenvolvidos e divulgados nas últimas semanas. Como, por exemplo, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford. Com base neste assunto, qual vacina seria realmente eficaz para evitar a propagação da doença?

 

Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que se tem mais 160 candidatas a uma vacina possível para a covid-19. Temos nessa fase clínica cerca de quatro vacinas. E cerca de seis vacinas próximas a entrar nessa fase de testes.

 

No Brasil, nós estamos usando a vacina de Oxford e a vacina chinesa. Nenhuma vai conseguir dar conta de toda a população mundial nesse primeiro momento. Então, é importante que tenhamos essas cartas na manga, várias vacinas atuando ao mesmo tempo. Mas que só serão aprovadas mesmo a partir do momento que elas demonstrarem realmente segurança.

 

No Brasil, a China fez um acordo com o Instituto Butantan para que, além das doses serem enviadas para cá, de que ela envie a mesma tecnologia para que possamos desenvolvê-la aqui no Brasil e distribuir para a população. Mas, ainda assim, nós não teremos já de início para todos ao mesmo tempo.

 

Já a vacina de Oxford também está sendo testada aqui no Brasil. Existem acordos com a Fiocruz para que uma parte desta vacina seja enviada para cá. Só não existe nada definido ainda sobre termos também esta tecnologia como a China vai fazer.

 

– E como estas duas vacinas são compostas?

 

Começando pela vacina chinesa, ela é uma vacina que usa uma tecnologia bastante antiga. Ela utiliza um vírus que foi enfraquecido e isso impede que cause infecção no indivíduo. O objetivo dessa vacina é que ela leve o indivíduo a desenvolver uma resposta contra esse vírus.

 

Alguns pontos negativos é que essa vacina é contraindicada em gestantes e em indivíduos que tenham uma situação imunológica comprometida e que possa a vir não ter uma resposta adequada aumentando a chance do indivíduo desenvolver uma infecção.

 

 

O ponto positivo seria a facilidade de se reproduzir isso em outros locais, espalhando a mesma tecnologia para o mundo, pois é uma vacina de produção rápida se comparada com as outras. Pelos estudos estão avaliando duas doses: uma dose inicial e outra após 14 dias. Isso se justifica porque nos estudos foi verificado que esse tempo é o ideal para que o pico de anticorpos neutralizantes seja maior neste período.

 

A vacina de Oxford é uma vacina totalmente inovadora onde você introduz o material genético que é o RNA do coronavírus no adenovírus do macaco que é um vírus que não causa doença em humano.

 

E, com isso, esse vírus do macaco passa a mostrar na sua superfície partes que compunham o coronavírus. E quando ele é introduzido nos indivíduos, ele não causa a doença, pois o sistema imunológico reconhece e passa a produzir anticorpos.

 

Pesquisadores estudam também a aplicação de duas doses para melhorar o tempo de resposta. Mas, ainda não se sabe se essa uma única dose será suficiente. É uma tecnologia nova e para copiar essa tecnologia talvez não seja fácil.

 

– Estas duas vacinas já estão sendo testadas no Brasil?

 

Sim, as duas estão tendo testagens. A de Oxford está sendo testada em três estados sendo então realizados 5 mil testes. E a vacina chinesa está sendo testada em cinco estados e um deles é o Paraná. Também tem um acordo da Anvisa com a vacina americana para ser testada no Brasil.

 

– E aqui no Paraná, quem são as pessoas que estão sendo testadas?

 

São os profissionais de saúde que estão na linha de frente e estão em contato com uma carga viral muito maior que aquele indivíduo que circula na rua, como os idosos, por exemplo, que não estão em contato com muitas pessoas e acabam tendo uma carga viral mais baixa.

 

DC- E após todas as fases de testes, quais os prazos para que as vacinas cheguem efetivamente até a população?

 

Após todas as fases de testes, é necessário passar pela aprovação de todos os órgãos da Anvisa e ainda depende dos acordos entre os países entre a disponibilização de doses e a oferta da mesma tecnologia. Além disso, para controlar uma pandemia, precisamos de produção em massa para chegar até toda a população.

 

DC- E nós estamos próximos de uma vacina que seja ideal e eficaz no combate à doença?

 

Acredito que sim, se compararmos a outras vacinas que foram desenvolvidas e que levaram 10 anos para ficarem prontas, então isso é algo inédito. A dificuldade de se trazer isso em massa é ter locais para produzir para todos. Portanto, terão que ser feitas algumas escolhas para os primeiros grupos que receberão a vacina. Não estamos tão longe, mas não será algo para amanhã, pois elas estão em fases de análises.

 

– A partir do momento que ela for aprovada, a previsão seria ainda para este ano?

 

Para este ano aqui no Brasil é bastante difícil, porque sempre tem essa questão da prioridade do país que está produzindo. As chances para o Brasil seriam estas duas vacinas mas, mesmo com a China produzindo as doses, elas ficariam naquele país mesmo. Por isso, o Instituto Butantan teria que conseguir produzir em grande quantidade.

 

Então, talvez, lá no final do ano pode ser que essa vacina chinesa ou essa de Oxford chegue no Brasil por meados de dezembro mas a população poderia começar a receber em janeiro. Porém, essa é uma pergunta muito difícil de ser respondida. A OMS já lançou uma informação alegando que essa vacina não chegaria neste ano. Eles estão sendo mais cautelosos para que a população continue se cuidando. Quando essa vacina chegar, a população deve estar saudável para recebê-la.

 

DC- A partir da disponibilização da vacina, quanto da população brasileira precisaria ser vacinada para que a doença fosse controlada?

 

O ideal é que você proteja 100% da população. Mas quando você chega a mais de 50% da população vacinada, você consegue um controle maior e diminui a circulação do vírus.

 

DC – Sabemos que o uso de alguns medicamentos, se usados com frequência, o organismo acaba criando resistência. Com a vacina para a covid-19 seria a mesma coisa? Ou seja, a vacina precisaria ser modificada todos os anos para oferecer imunidade às pessoas?

 

Não seria bem uma resistência à vacina. É o vírus que sofre mutação. E como é um vírus novo, já vimos que ele sofreu uma mutação com relação aos outros países. Sabe-se que o perfil genético do vírus é diferente daquele que apareceu na Itália e na Espanha, por exemplo. Isso pode desencadear reforços anuais da vacina, assim como ocorre com o vírus do H1N1.

 

– Então, esta questão da testagem das vacinas da China e de Oxford no Brasil, poderia não ter a eficácia devida por conta desta mutação do vírus?

 

Não acredito que seja a esse ponto porque eles estão fazendo testes em populações e por isso a testagem. A China testando aqui é excelente porque já se sabe que o vírus sofreu mutação lá e aqui. Por isso que as pessoas precisam ter paciência nesse período de observação para que essa vacina seja eficaz em todos os lugares.

 

– Quanto tempo essa vacina começaria a fazer efeito no organismo?

 

O estudo da vacina chinesa aponta uma resposta em torno de 14 dias com anticorpos neutralizantes importantes. O que eles não conseguiram verificar é por quanto tempo isso se manteria. A Oxford também verificou um tempo de 14 dias, mas eles estão testando um reforço para ver se teria um aumento nessa resposta.

 

DC – E enquanto a vacina não fica pronta, quais seriam os principais riscos de contaminação caso esses cuidados deixem de ser tomados?

 

Com a máscara eu me protejo e protejo o indivíduo que está próximo de mim. A diminuição do contágio é quando o indivíduo deixa as suas partículas na máscara. Se você está usando, você tem uma barreira. É uma questão é de pensar no outro.

 

A lavagem de mãos, limpeza de superfícies, utilização de máscaras, distanciamento social e isolamento são as únicas formas de prevenção que nós temos.

 

O vírus é estável e permanece por muito tempo em superfícies de plástico, madeira e sacolas. Por isso, é importante deixar calçados do lado de fora. São medidas importantes a serem tomadas até que essa vacina venha. Tudo pode ser higienizado de forma simples. Basta uma colher de sopa de hipoclorito em um litro de água para limpar todas as superfícies.

 

 

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