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Um morto, duas baleadas e carros em chamas: indícios da guerra do tráfico em PG

Em menos de 24 horas, Ponta Grossa foi cenário de dois crimes semelhantes que deixaram um homem morto, duas mulheres gravemente feridas e dois carros em chamas. São indícios da retomada da guerra de facções criminosas (do tráfico) em PG. Os casos aconteceram em vilas diferentes: Jardim Califórnia e Santa Paula 3. No entanto, os autores executaram o mesmo modo de operação, o que sugere ligação entre os fatos. A Polícia Civil tenta montar o quebra-cabeça.

Eram 10h30 da manhã desta quarta-feira (15) quando dois homens desceram de um carro e invadiram um pequeno casebre de madeira no final da Rua Guaçatunga, na Santa Paula 3. O alvo era Jonathan Willian da Silva, um ex-presidiário de 30 anos de idade. Os policiais não confirmaram por quais crimes Jonathan já havia sido preso.

Jonathan William da Silva. Foto: Arquivo Pessoal

O que se sabe é que os algozes acertaram pelo menos cinco vezes na cabeça do rapaz à luz do dia e fugiram no mesmo veículo. Quando chegou ao local, a Polícia Militar encontrou Jonathan morto dentro da pequena casa e mais oito estojos de 9mm.

Mesmo calibre de arma que atingiu mãe e filha no dia anterior, às 18h, no Jardim Califórnia. Ambas estão internadas no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais. A filha (S.S.B) tem 23 anos de idade e o ferimento que sofreu chegou a expor massa encefálica. Ela corre risco de morte. A mãe (R.D.A.L.D.S) tem 52 anos, levou tiro no tórax e também deu entrada com risco à vida.

Jardim Califórnia na noite de terça-feira (14). Foto: José Aldinan

No entanto, elas não eram o principal alvo dos atiradores. Quando eles chegaram à Rua Luiz Otávio Viana de Holleben estavam atrás do namorado da mulher de 52 anos. Ele seria a vítima, mas conseguiu escapar dos disparos e fugiu. O mesmo não ocorreu com a namorada dele e com a enteada. Estojos de pistola 380 também foram achados.

Uma quadra à frente da cena deste crime um Ford Ka foi encontrado em chamas. Era o mesmo em que os bandidos haviam fugido.

Os carros

No Jardim Califórnia, a quadrilha usou o Ford Ka para começar a fuga e incendiou o carro logo em seguida. Depois teriam fugido em outro veículo. Modelo e marca não foram confirmados à reportagem pela Polícia Civil.

O que chama a atenção é que no dia seguinte, enquanto a Polícia Militar isolava o local de morte de Jonathan na Santa Paula, os bombeiros eram acionados para um carro que estava pegando fogo na estrada entre o Parque do Café e o Taquari dos Polacos. Cenas que possivelmente estão interligadas.

O local em que Jonathan foi assassinado fica a 5km de onde o carro foi abandonado e incendiado. No entanto, o trajeto pode ser feito rapidamente por três vias do Santa Paula até chegada na estrada de ligação com o Parque do Café.

Lá os criminosos largaram o carro em meio a uma plantação. O automóvel ficou destruído e quase irreconhecível. Era um Fiat Mobi. Uma das placas ficou quase intacta e foi possível descobrir que se trata de um carro de Londrina sem alerta de furto, ano 2021, com documentação em dia, mas mais de R$ 700,00 em multas.

Carro queimado por criminosos entre o Parque do Café e a estrada do Taquari. Foto: José Aldinan

Uma testemunha disse à polícia que depois de incendiarem o Fiat Mobi os criminosos fugiram em um VW/Gol de cor cinza e iniciais da placa BKW.

Quadrilha

Uma das imprecisões em relação aos dois casos é o número de indivíduos que agiram. No Jardim Califórnia seriam quatro integrantes, enquanto no Santa Paula 3 só dois homens desceram do carro para os disparos.

Também não se tem informações oficiais sobre o veículo que foi usado na fuga no Jardim Califórnia. Poderia ser o Fiat Mobi, queimado no dia seguinte, ou o mesmo VW/Gol cinza com iniciais BKW. São fatores que facilitariam o elo entre as duas graves ocorrências.

Tráfico em guerra

No segundo semestre, Ponta Grossa convive com onda de homicídios. A Polícia Civil elucidou que quase 90% dos assassinatos foi causado pela disputa por territórios para a comercialização de drogas.

“O número de mortes aumentou em Ponta Grossa no primeiro semestre deste ano e a motivação, que em 50% dos casos eram ligadas ao tráfico de drogas, passou a 90%. Os outros 50% eram em decorrência de brigas em festas, traição e outros fatores. Pelas estatísticas percebemos nitidamente um acréscimo de homicídios direta ou indiretamente ligados às drogas, com algumas peculiaridades”, afirmou o delegado Nagib Nassif Palma em entrevista recente à reportagem.

Local do homicídio no Santa Paula. Foto: Felipe Liedmann

Após o avanço das investigações, a quantidade de homicídios apresentou leve queda em Ponta Grossa. Os dois grupos envolvidos teriam se ‘aquietado’. Mas o assassinato de Jonathan e os graves ferimentos em mãe e filha ligam o sinal amarelo no setor de segurança mais uma vez. Há indícios da volta de disputa pelo mercado da droga.

“Sabemos que o pano de fundo é dinheiro para o tráfico, mas queremos descobrir o que motivou essa disputa, que culminou em pessoas mortas com muitos tiros, invasões de residências e outras situações que são realmente típicas de brigas de associações para o tráfico”, observou o delegado.

Três homens são suspeitos de 24 assassinatos

A Polícia Civil divulgou no final de outubro que três homens são suspeitos de 24 homicídios em Ponta Grossa, sendo 21 deles cometidos neste ano. Desde então o trio está foragido. Os 21 homicídios que teriam sido praticados pelos suspeitos representam 38% do total desse tipo de crime ocorrido em 2021 na cidade. Os três procurados são Erick Henrique da Silva Rocha, José Raylan de Lima e Eduardo Ferreira.

Nas investigações foi apurado que alguns integrantes das facções criminosas também foram mortos. Um caso citado pelos delegados é o de Ismael Onhir Nascimento Júnior, que seria o autor do homicídio de Paulo Ricardo de Freitas no Núcleo 31 de Março. O rapaz foi morto com tiros à queima-roupa, em frente ao estabelecimento comercial da família, à luz do dia.

Um dos adolescentes que integrava a organização também foi morto recentemente· Ele estaria envolvido com atos infracionais análogos a homicídios, inclusive em uma execução em Carambeí, algumas semanas antes de sua morte.

Em outro caso, um integrante da facção teria sido morto pelos próprios comparsas. Seria o caso de Renan Wesley Santos. A motivação teria sido o fato de ter recebido uma mensagem da namorada de outro membro do grupo.

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