O Clube de Leitura Companhia das Letras traz para o debate deste mês (neste sábado, às 14 horas), o livro 'Compre-me o céu', da jornalista de origem chinesa Xinran Xue, que faz um relato pungente e revelador sobre a política do filho único na China. O livro-reportagem fala de homens e mulheres nascidos no país depois de 1979 – as gerações recentes criadas sob a política do filho único.
"Xinran conta, em cerca de dez histórias de vida, a realidade de mais de 100 milhões de filhos únicos da China, resultantes de uma política aplicada entre 1979 e 2015 para evitar a superpopulação. Como pano de fundo, a autora apresenta um país que é, ao mesmo tempo, uma cultura com mais de cinco mil anos e também a segunda maior economia do mundo", contextualiza o mediador do projeto, jornalista e professor da UEPG, Ben-Hur Demeneck.
De acordo com ele, embora a política do filho único tenha garantido prosperidade para o país, trouxe uma geração marcada por dificuldades em estabelecer relações interpessoais, em cumprir tarefas domésticas simples e, sobretudo, em se responsabilizar pelos próprios problemas. "Lembrando que a política do filho único voltou à discussão em 2011, quando o jovem Yao Jiaxin assassinou uma garçonete com medo que ela identificasse o seu carro após um atropelamento", destaca.
Amanda Milleo participa das atividades do Clube e é uma grande admiradora da obra. Ela afirma que não é tão simples ter a completa noção do que é ser filho único em um país onde não existem, por pelo menos duas gerações, irmãos, tios e primos. Especialmente em um país onde, por mais que a taxa de natalidade tenha diminuído significativamente nas últimas décadas, não chegou a predominância de filhos únicos.
"Por isso que a China, além de fisicamente, nos parece tão distante socialmente. Mas Xinran soube explicar essa intrincada relação entre pais e filhos, filhos e sociedade, e China e países ocidentais de uma forma muito clara. As histórias de relações conturbadas, crianças e adultos mimados demais, com dificuldades nas questões mais básicas, como cozinhar o próprio alimento, nos assustam, mas servem de alerta também", pontua. Amanda recomenda a leitura da obra tanto para quem se interessa pela cultura contemporânea chinesa, quanto para estudantes de comunicação, especialmente jornalismo.
Sobre a autora:
Xinran nasceu em Pequim, em 1958. Trabalhou em Nanquim até 1997, quando a impossibilidade de publicar na China o seu relato fez com que se mudasse para Londres com seu filho. Casada com um inglês, leciona atualmente na School of Oriental and African Studies da Universidade de Londres.
Serviço:
Clube de Leitura debate 'Compre-me o céu'
Data: 19 de maio (sábado)
Horário: das 10h às 11h45
Local: Clube de Leitura Companhia das Letras (Av. Vicente Machado, 779)
Participação gratuita