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Miguel Sanches lança livro de poemas

Foto: Divulgação

O autor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Miguel Sanches Neto lança a obra A Ninguém e Poesia Reunida, pela Editora Patuá. O volume reúne uma seleção de poemas produzidos pelo autor nos últimos 30 anos.

O lançamento é aberto ao público, e acontece no Sesc Estação Saudade, às 18 horas, em Ponta Grossa, no Paraná. Terá também exposição de desenhos de Massaharu Fukushima, que já fez ilustrações para os livros do Jamil, e ilustrou um dos mais belos álbuns de literatura do Paraná, Encontro das Águas (Travessa dos Editores, 1994).

Confira entrevista com o autor Miguel Sanches:

Em primeiro de março de 2023, o senhor completa 30 anos como professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, instituição da qual agora é reitor. Como foi esta trajetória?

Foi uma trajetória inesperada. Eu havia terminado em dezembro de 1992 o mestrado em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina, em uma época em que havia poucos mestrados no Brasil, e queria começar a minha carreira universitária, uma vez que já atuava como professor da rede estadual. O primeiro concurso que abriu foi aqui. Eu me inscrevi, preparei os dez temas e acabei aprovado. No dia primeiro de março fui recebido, junto com os aprovados de outras áreas, pela equipe da reitoria e desde então tive uma participação ativa nas funções as mais diversas da Universidade. Estive em várias comissões, fui coordenador da Editora da UEPG, pró-reitor, trabalhei no vestibular etc. A reitoria acabou sendo o caminho natural para mim, pois desde o começo me integrei às questões da universidade que generosamente me recebeu.

E este lançamento acontece quando Ponta Grossa completa 200 anos. Isso tem uma grande simbologia?

Pois é, faço parte de 15% do tempo histórico do município de Ponta Grossa. Sempre tentei ler sobre esta história que, em grande medida, me representa, e me sinto integrado a ela. É uma honra ter o meu lançamento incluído nesta data cheia da cidade.

A Universidade foi importante na sua carreira de escritor? Geralmente as obrigações de sala de aula e de pesquisa atrapalham a escrita literária.

A atividade como professor de literatura foi fundamental. Permitiu que a minha vida fosse dedicada majoritariamente à literatura. Como professor, pude estudar teorias, analisar livros, fui crítico literário por muito tempo, e principalmente pude estar sempre perto das obras mais importantes da cultura ocidental. O cuidado que eu tomei foi separar bem o professor que produz textos acadêmicos do escritor, que tem uma linguagem mais viva, mais contaminada pela fala. Na hora de escrever literatura, não podemos ser professores.

E as atividades administrativas? Hoje o senhor faz a gestão do segundo maior orçamento dos Campos Gerais. Isso não rouba o tempo do escritor?

Desde o ensino médio, que iniciei no ano de 1980, me dediquei à política estudantil, fui da União Mourãoense de Estudantes Secundaristas, fui do Centro Acadêmico, participei de congressos, estive em movimentos a favor da anistia. Ou seja, em paralelo aos estudos, às leituras e à escrita, assumi responsabilidades em outras áreas. Ao chegar ao cargo máximo da UEPG, mantive a mesma rotina. Levantar de madrugada, a partir das 4 horas da manhã, ler e escrever, além de usar finais de semana e feriados para estas atividades. Também não tenho vida social, então ou estou na universidade trabalhando ou estou em casa lendo, escrevendo e convivendo com os familiares. O tempo da literatura a gente tem que inventar a cada dia. E em nenhum momento descuido dos assuntos da Universidade. Quem trabalha comigo sabe disso. Até uso aquele slogan de um canal fechado de tevê: sou um reitor que nunca desliga. Vale também para a literatura: sou um escritor que nunca desliga.

Poderíamos dizer que o livro “A ninguém e poesia reunida” se confunde com a sua trajetória na UEPG?

Com certeza. Embora o primeiro livro que publiquei (“Inscrições a giz”, 1991), seja anterior ao meu ingresso como professor no curso de Letras, os poemas seguintes foram todos produzidos enquanto eu desempenhava minhas atividades didáticas e administrativas. Então, no dia em que completo trinta anos como professor da UEPG lanço o volume que reúne trinta anos de poesia. Neste livro, há uma coletânea de inéditos e as demais que publiquei. É um acerto de contas com o poeta que sou. Quando chegamos perto da aposentadoria, e a minha está próxima, nós pedimos para contabilizar o tempo de contribuição. Este livro é a contabilidade do que escrevi na área da poesia até os dias atuais.

A vida universitária é propícia à inspiração?

Toda função que um artista exerce em paralelo à sua arte sempre contribui para dar uma visão interna da sociedade. Ficamos dentro de relações sociais reais, com suas grandezas e misérias. A atividade universitária coloca o artista em contato com outras pessoas que professam o mesmo credo, são movidas pela produção de bens culturais. É muito gratificante ser professor na área em que atuo como escritor. Aprendi muito estudando e ensinando autores e autoras fundamentais da nossa cultura, e em trocas com alunos e colegas e trabalho.

Como surgiu a ideia deste volume?

Eu já pensava em reunir minha poesia havia algum tempo. Geralmente escolhemos datas especiais. Quando vi que completaria 30 anos de estreia (2021), comecei a trabalhar na organização do volume. Era no meio da pandemia, então as chances editoriais se tornaram remotas, mas encontrei o editor ideal. Cada livro tem um editor ideal. Conversei com o Eduardo Lacerda, o maior editor de poesia da história do livro no Brasil, e ele aprovou imediatamente a proposta. O volume sai agora, pela Editora Patuá, graças à generosidade do Eduardo. Quando aceitou publicar a obra, ele se lembrou do momento em que me descobriu. Ele me escreveu: “No curso de Letras da USP, Venho de um país obscuro foi um dos primeiros livros de poesia contemporânea que li e adorei. Desde então acompanho seu trabalho.” O resultado é o volume de 500 páginas com toda a minha poesia e com alguma crítica sobre ela. Queria destacar ainda o trabalho primoroso da Amanda Vital, que cuidou da edição, e o projeto gráfico do Alessandro Romio.

O livro tem um colofão diferente. Por que você escolheu a frase que aparece no final? “Autografo, amorosamente, este volume a Ninguém”.

A Amanda Vital pediu uma frase para colocar na última página. Como a coletânea inédita se chama “A ninguém”, referência ao público cada vez mais restrito para poetas contemporâneos, imaginei uma frase em que este Ninguém, grafado com maiúscula, fosse uma figura real, um nome próprio. Ninguém é este leitor anônimo de poesia, uma homenagem que faço à pessoa que mantém viva a tradição poética. É um Ninguém que é o grande Leitor, a grande Leitora.

Como você definiria a sua poesia?

É uma poesia com alta carga emocional, que quer tocar o leitor. Evito as formas de hermetismo, buscando sempre temas que, mesmo quando são relacionados à minha vida, podem despertar o interesse dos outros. É uma poesia sobre o espanto de estar vivo, sobre a grandeza das pequenas experiências, uma poesia nascida da memória e da observação do cotidiano, vazada em uma linguagem na medida do humano. Uma poesia que não quer afastar as pessoas, mas congregá-las pelo uso das palavras.

Em paralelo ao lançamento, que ocorrerá no SESC Estação Saudade, haverá uma exposição de haicais ilustrados, é isso?

Sim. Faz alguns anos que o artista plástico Massaharu Fukushima, que ilustrou muitos textos literários, principalmente os textos do Jamil Snege, está traduzindo como imagens, com um cuidado oriental, alguns haicais meus. No lançamento, haverá a exposição de 18 haicais ilustrados pelo mestre Massaharu. É um encontro entre a poesia de imagem, o haicai, e a sensibilidade de um grande artista paranaense.

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