Por Millena Sartori
A compra dos 33 produtos que compõem a cesta básica passou a custar R$ 663,08 em Ponta Grossa, na primeira semana de dezembro. Esse preço é 2,56% superior ao verificado um mês antes e 26,5% maior do que o de janeiro, quando o conjunto de produtos básicos custava R$ 138,96 menos do que atualmente. Os dados são do Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Nerepp/UEPG)
Essa inflação local de 26,5% nos produtos básicos é oito vezes superior ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é de 3,13% no mesmo período – porém, justamente por ser considerada a inflação oficial do país, o IPCA considera mais produtos do que a pesquisa local, como combustíveis, material escolar, médico, entre outros.
Segundo o autor do estudo, professor Alexandre Roberto Lages, esse aumento anual é histórico. “Desde o início do nosso levantamento, em 1996, nunca aconteceu um ano em que os preços subiram tanto quanto esse que a gente passou, é um fato bem fora da curva. Estamos em ano atípico em todos os aspectos”, destacou o economista em entrevista concedida ao vivo ao portal dcmais.
Motivos
O mestre em Economia atribui a alta inflação local a uma série de fatores, mais relacionadas a um plano “macro”. “É evidente que a pandemia foi o principal deles porque desajustou toda a economia, mas você vê um aumento muito forte no dólar nesse período, que permaneceu alto”, lembra ele, se referindo à cotação da moeda estrangeira que, considerando o fechamento no primeiro dia do ano e no último dia de novembro, cresceu 24,6%.
“Com o dólar alto o produtor prefere exportar do que vender internamente, mas como acaba-se pagando mais caro no insumo e na importação a tendencia é impactar na inflação”, citou Lages. “Houve também a demanda internacional por alimentos. O Brasil sempre foi referência mundial em exportação, mas por problemas pontuais em alguns países aconteceu uma corrida muito grande por produtos brasileiros, como soja, óleo e arroz, que impactaram muito nos últimos meses no bolso do consumidor”, complementou o especialista.
Oferta e demanda
Outro motivo que o professor da UEPG cita como impulsionador da inflação é a maior demanda pelos produtos básicos. “As famílias se voltaram para a refeição dentro de casa, o que impactou no varejo. Com essa demanda maior e também o subsídio do governo, que aumenta o poder de compra, há um desajusta na relação oferta e demanda”, cita o economista, referindo-se ao auxílio emergencial.
Flutuação de preços
Alexandre Roberto Lages lembra que durante todo o ano os alimentos são os produtos que mais têm pesado no bolso do consumidor. “Com os industrializados esse histórico é muito mais difícil ter aumento em curto prazo até por conta da competição: tem muita opção de compra e você pode trocar um produto de higiene por outro, mas não trocar um arroz, por exemplo”, ressalta.
Variação mensal
O índice atual, referente ao mês de novembro, aponta uma variação mensal de 2,56%, maior que o resultado ligeiramente anterior, mas menor do que a diferença encontrada de agosto para setembro (4,77%), por exemplo.
Entre os produtos que compõem a cesta básica, em 30 dias 21 encareceram, 11 ficaram mais baratos e 1 permaneceu constante. O item que mais aumentou foi o macarrão (24,21%) e o de maior queda foi o tomate (-34,19%). Dos cinco grupos, o que apresentou maior aumento em seus valores foi o de Alimentação Geral (3,82%), colaborando para o aumento no preço do mesmo, e o grupo de maior queda foi o de Limpeza (-1,20%).