em

Grávida vence a covid e conhece a filha após 70 dias; veja

Camila, (centro) ainda não consegue segurar a pequena Maria Vitória e conta com o auxílio da família na recuperação. Foto: Fábio Matavelli

Dizem que quando a mãe pega o filho no colo pela primeira vez, nasce aí uma nova relação de maternidade. Mas esse momento que costuma ocorrer logo após o parto, no caso de Camila de Quadros, que mora no residencial Gralha Azul, em Ponta Grossa, demorou mais de dois meses.

Quando estava grávida da pequena Vitória Maria Hanyfy, sua primeira menina, a auxiliar de cozinha quase teve o sonho interrompido pela covid-19. Foram 70 dias entre o nascimento e o primeiro contato com a bebê. Cena que a família fez questão de registrar (Veja abaixo).

Os primeiros carinhos entre a mãe e a filha, que já tem quase três meses de idade, ainda são gradativos. Camila não consegue movimentar os braços e as pernas com firmeza. Sequelas que a doença causada pelo coronavírus deixou e que são tratadas com sessões rotineiras de fisioterapia.

Cada pequeno passo na recuperação de Camila é comemorado. A moça de 27 anos ficou perto da morte no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HU-UEPG). Familiares chegaram a ser chamados na instituição para o pior. “Os médicos sugeriram para nos despedirmos dela”, lembra a tia Renilda.

O drama começou ainda no início de abril – época em que a pandemia estava agravada em Ponta Grossa. Camila apresentou os primeiros sintomas, que rapidamente evoluíram para a forma mais grave da doença. Internada às pressas no sétimo mês de gestação, a forma mais eficaz de evitar a perda do bebê foi antecipar o parto. O procedimento foi realizado no dia 13 de abril.

Vitória permaneceu mais de um mês no hospital. Foto: Arquivo Pessoal

Vitória Maria veio ao mundo com complicações. A prematura recém-nascida passou por transfusão de sangue por apresentar quadro de anemia. Somente em 20 de maio recebeu alta hospitalar. No entanto, Camila não acompanhou as dificuldades passadas pela filha. Na Unidade de Terapia Intensiva, ela estava sedada e lutava pela própria vida.

A auxiliar de cozinha ficou quase dois meses intubada. Mesmo com os aparelhos retirados, permaneceu mais um mês em observação clínica. Chegou a ver a filha por chamada de vídeo, mas somente após 70 dias, em 22 de junho, teve chance de sentir Maria Vitória pela primeira vez.

O primeiro encontro de mãe e filha. Imagens: Arquivo Pessoal

Sequelas

Camila é, ao mesmo tempo, a figura da superação e também personagem dos males que a covid deixa nos pacientes mais graves. A jovem não consegue movimentar os braços normalmente, está voltando a andar aos poucos e tem dificuldades para respirar. Por consequência, a fala ainda está comprometida.

Antes de posar para as fotos desta reportagem, ela estava em sessão de fisioterapia. Também tem encontros periódicos com fonoaudiólogos e psicólogos. São o suporte médico para que chegue à plena recuperação, esperada para dentro de alguns meses.

Fisioterapia faz parte da rotina de recuperação de Camila. Foto: Arquivo Pessoal

Solidariedade

A história de Camila, do marido Jaime, do filho José Henrique (7 anos) e da pequena Maria Vitória tem continuação. E a sequência mostra a importância da união familiar. Enquanto Camila se recuperava no leito do hospital, a família agiu.

Os integrantes se juntaram e realizaram mutirão para reconstruir a casa de Camila no Gralha Azul. “Cada um ajudou um pouco”, conta Renilda. A obra feita com a junção de forças está em fase final. O novo espaço, mais amplo, vai estar à disposição para o crescimento de José Henrique e Maria Vitória.

Mortalidade de gestantes aumentou no agravamento da pandemia

A família usa a palavra ‘milagre’ para descrever o caso de Camila. Há razões suficientes no drama de quase três meses. E não é raro se deparar com histórias de mulheres que tiveram a gestação interrompida emergencialmente e depois não resistiram à covid. Michele Stec, de 25 anos, moradora de Irati, e a ponta-grossense Jéssica Rodrigues, de 29, fazem parte da triste estatística. A mortalidade de gestantes tem aumentado em 2021 no Paraná.

No ano passado ocorreram 80 óbitos maternos totais, sendo que 17 foram por covid, o que representa 21,2%. Já neste ano, até a primeira semana de junho conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde, foram 79 óbitos maternos, sendo 53 causados pelo coronavírus. Ou seja, 67%.

Vacinação

Diante desse contexto, a Secretaria avaliou a questão e decidiu pela retomada da vacinação das gestantes sem comorbidades utilizando vacinas que não contenham vetor viral. “A decisão do Governo do Estado considera que gestantes e puérperas são consideradas grupo de risco para a covid, especialmente no terceiro trimestre de gestação e período pós-parto”, afirmou o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, há um mês.

“O conhecimento adquirido no decorrer da pandemia evidencia o risco de internamento, desfechos maternos e neonatais desaforáveis e óbito materno tanto em gestantes e puérperas com comorbidades, como naquelas sem comorbidades, por isso nossa decisão em incluir este segundo grupo na vacinação”, acrescentou na oportunidade.

Ponta Grossa, por exemplo, aplicou 1.821 doses de vacina contra a covid neste público. Dessas, 1.807 receberam a primeira dose e somente 14 a segunda. Segundo a Fundação Municipal de Saúde, o público estimado é de 4.360 mulheres. Isso significa que mais da metade não recebeu qualquer imunização.

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.