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Cerveja produz R$ 1 a cada R$ 5 das riquezas da indústria de Ponta Grossa

São R$ 1,4 bilhão por ano, e o setor ainda projeta mais R$ 4,23 bilhões de investimentos na cidade

Quem chega em Ponta Grossa por qualquer um dos lados da BR-376 já pode imaginar que a cidade tem uma vocação cervejeira – afinal, as duas maiores cervejarias do mundo possuem indústrias nestes locais. Porém, a produção local da bebida queridinha dos brasileiros não se restringe às multinacionais: assim como as gigantes, as microcervejarias, presentes há uma década na cidade, estão investindo em ampliações e novos empreendimentos estão sendo projetados para a cidade, como uma maltaria e uma fábrica de garrafas, por exemplo – Ponta Grossa já possui a produção de latas através da Crown.

Dados da Secretaria Municipal da Fazenda apontam que no ano passado toda a indústria ponta-grossense produziu R$ 6,49 bilhões em riquezas. Deste valor, mais de R$ 1 a cada R$ 5 (21,5%) é proveniente da fabricação de cerveja, que somou R$ 1,4 bilhão em valor adicionado – indicador que, segundo o secretário da pasta, compõe o PIB.

“O valor adicionado é a diferença do que a empresa comprou/utilizou na sua produção em relação à venda do seu produto. Ou seja, o lucro bruto desconsiderando os custos diretos e indiretos, como pessoal e transportes, por exemplo”, explica Cláudio Grokoviski.

Considerando a soma do valor adicionado de todos os setores, as cervejarias representam 13% do total de riquezas produzidas em Ponta Grossa. Depois de muitos anos, em 2020 a Heineken ultrapassou a Ambev em geração de valor adicionado, sendo responsável por 58,88% das riquezas produzidas por cervejarias de Ponta Grossa, enquanto que a segunda representa uma parcela de 41,08%.

Gigantes do setor

Ponta Grossa se aproxima de ter um ciclo completo de fabricação da cerveja: planta uma das suas matérias-primas, a cevada, que é transformada em malte através de maltarias (tipo de indústria que a cidade vai passar a contar dentro de dois anos). Após a fabricação da bebida, ela pode ser envasada em latas (que aqui são produzidas pela Crown; são cerca de 2 bilhões de latas fabricadas por ano), garrafas (indústria que é sondada há anos pelo município) ou outros tipos de materiais.

Sobre novos investimentos, tanto a Heineken quanto a Ambev estão ampliando as suas produções na cidade: enquanto que entre 2020 e 2021 a Heineken aplicou R$ 865 milhões para ampliar em 75% a capacidade de produção da planta, no início deste ano a Ambev também anunciou que iria ampliar a sua unidade local, destinando R$ 370 milhões para isso.

Ao mesmo tempo, seis cooperativas se reuniram para construir uma maltaria, que deve ter as obras iniciadas ainda neste ano. Serão R$ 3 bilhões investidos em duas fases, sendo que a primeira deve ficar pronta em dois anos.

Microcervejarias se destacam pela qualidade e crescimento

Há 10 anos Ponta Grossa ganhava a sua primeira microcervejaria. Atualmente, são seis empresas na cidade, que utilizam cinco estruturas fabris: Partner, Palais, Schultz, OAK, Strasburger e Steudel. As cinco primeiras formam a Associação de Microcervejarias da cidade e, segundo o seu presidente, Rogério Garcia, todas passaram recentemente ou estão passando por ampliações.

“Juntos, hoje temos capacidade de produzir cerca de 200 mil litros por mês. Com os novos investimentos, devemos chegar a pelo menos 240 mil litros/mês”, estima ele, que é empresário da Partner. Sobre o seu negócio, Garcia afirma que durante a pandemia foi feito um investimento para ampliar em 40% a sua capacidade produtiva.

Outra microprodutora de cerveja de Ponta Grossa que também apostou na expansão do seu negócio foi a Koch Bier, que no último fim de semana inaugurou um investimento de R$ 1 milhão. “Ampliamos a nossa capacidade em quatro vezes, chegando agora à capacidade de 70 mil litros/mês. Temos 12 tipos de chopp, que comercializamos em growler, barril e lata, e atendemos os Campos Gerais, Curitiba, São Paulo e Mato Grosso do Sul, por exemplo”, conta Roberto Wasilewski.

Schultz e Strasburger

A Brauerei Schultz, primeira microcervejaria de Ponta Grossa, está deixando não só a cidade, mas o país. O mestre-cervejeiro Herus Schultz conta que ele e sua esposa decidiram construir uma cervejaria no Tennessee, nos Estados Unidos, após uma longa análise.

“Sempre tivemos a vontade de montar algo fora do país. Buscamos por países em que a tributação não fosse tão alta, já que pagamos 56% de impostos no Brasil. Surgiram cinco opções: Paraguai, Argentina, Chile, Canadá e Estados Unidos, o qual escolhemos. Lá é onde se concentra se não o maior número de cervejarias, pelo menos o mercado global, onde há as melhores matérias-primas e tecnologias”, afirma ele. “Fizemos a última produção no dia 5 de outubro e vamos ficar em Ponta Grossa até janeiro, para terminar nosso estoque e nos mudar em fevereiro”, conta Herus.

Porém, a fábrica que hoje abriga a Schultz, no bairro Contorno, não ficará vazia: os equipamentos foram comprados pela Strasburger, que está investindo R$ 2 milhões na sua ampliação – de produção e de locais.

“Hoje temos uma fábrica, bar e restaurante no centro. Estamos transferindo a fabricação dela para uma nova unidade, próxima ao Lago de Olarias, onde também inauguraremos um bar na segunda quinzena de novembro. No centro, o bar e restaurante seguem ativos, e agora tomamos posse também da estrutura da Schultz. Com tudo isso, nossa produção vai passar de 8 mil litros por mês para 48 mil”, conta Trajano Dória Jorge , sócio-proprietário da Strasburger.

“Estamos trabalhando com 13 rótulos e até talvez até o início do próximo ano teremos mais um ou dois”, complementa ele.

História da cerveja em Ponta Grossa iniciou em 1864

A chamada cervejaria Adriática é a mais nova unidade fabril da Ambev e soma seis anos de funcionamento em Ponta Grossa; porém, sua história iniciou no final do século XIX. Em 1864 Henrique Thielen, alemão radicado no Brasil, veio ao principal município dos Campos Gerais para abrir uma filial de uma cervejaria curitibana pertencente a George Grossel. Em 1906 ele comprou a empresa e a nomeou de Fábrica Adriática de Cervejas – neste momento o empreendimento já ocupava o lugar de maior indústria da cidade.

Misturando-se ao patrimônio cultural local, em 1926 o filho de Henrique, Alberto Thielen, construiu a Mansão Vila Hilda, que tornou-se a residência oficial da família até a década de 1970. Em 1944 o controle acionário da Adriática passou para a Companhia Antarctica Paulista e a cervejaria funcionou até 1992, quando foi desativada – para, então, ser (re)inaugurada em 2015 agora com o nome “Ambev Adriática”.

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