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Ambientalistas defendem importância do Parque Nacional

Uma discussão por 14 anos ainda é motivo de impasse quando o assunto é o Parque Nacional dos Campos Gerais. A principal questão levantada era a de que o projeto ainda estava no papel, após anos, e a desapropriação das terras agrícolas que estão dentro dos 21,3 mil hectares de terras que compõem a área preservada nos municípios de Ponta Grossa, Castro e Carambeí.

No entanto, o assunto voltou ao debate após um ofício enviado em abril deste ano ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O documento, assinado pela deputada federal, Aline Sleutjes (PSD), solicita a revogação do decreto de 23 de março de 2006 que estabelece a criação do Parque Nacional. Salles chegou a vir a Ponta Grossa, sobrevoou toda a extensão do parque e ainda conversou com os proprietários sobre a questão.

Ao final do encontro, o ministro destacou que um novo estudo deverá ser realizado nos próximos meses. O assunto gerou debate entre produtores e ambientalistas que destacam pontos negativos caso o decreto seja revogado.

"Já em 2004, uma equipe de trabalho do Ministério do Meio Ambiente deu início aos trabalhos para identificar, no sul do Brasil, as áreas potenciais para a criação de unidades de conservação da floresta com araucária. O país conta com vários biomas e nesses esforços foram identificados diversas áreas nos Campos Gerais com florestas araucárias e campos nativos, vegetação típica da região", explica o professor de Agronomia da UEPG e consultor da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Carlos Hugo Rocha.

Rocha explica que o Parque Nacional é importante globalmente, principalmente, por conta da sua biodiversidade, com belas paisagens. "São paisagens magníficas, que estão entre as mais espetaculares do mundo. Elas têm um valor inestimável, no entanto, com um triste potencial de transformação por conta das plantações de soja e pinus nestas regiões", aponta o professor.

Manancial

O Parque Nacional, de acordo com o especialista, abrange o manancial de água associado ao Rio Pitangui, onde 20% da bacia do Alagados está dentro do parque. "E é esta vegetação nativa que contribui para a produção e qualidade da água. Porém, um estudo colocado em evidência no Brasil mostrou a grande presença dos agrotóxicos na água. Foram pesquisados 27 produtos químicos na água em todas as cidades do Paraná. Por isso, preservar o Parque Nacional é no mínimo sensato e inteligente para a saúde da população", destaca.

Preservação

Carlos Hugo explica que apenas algumas áreas do Parque Nacional estão preservadas. "Alguns proprietários de terras merecem ser elogiados pelos cuidados que foram tomados, no entanto, desde 2006, muitas áreas agrícolas cresceram dentro dos campos nativos. E são estes produtores que são os principais articuladores para que o parque deixe de existir", diz.

Aumento de área

Regiões como a do Rio São Jorge, por exemplo, já sofrem com assoreamento que, segundo o especialista, é por conta do uso inadequado do solo. "A atividade agrícola e agropecuária tem causado o aumento da erosão. Durante todos estes anos já tivemos quase mil hectares de reflorestamento e, em poucos anos, lugares que são verdadeiras dádivas da natureza estarão completamente assoreados", ressalta o professor.

Problemas

A utilização das áreas, para Carlos Hugo, além de causar problemas de erosão, poderá contaminar a água. "Se não temos cuidado, vamos acabar perdendo uma região muito importante. O desafio então é criar soluções, seja forçar politicamente para que haja desapropriação destas áreas, algo sensato à sociedade".

Outra alternativa seria a compensação da Reserva Legal, mecanismo pelo qual o proprietário ou possuidor pode regularizar sua Reserva Legal adquirindo áreas equivalentes em outro imóvel rural, em vez de destinar áreas de uso produtivo para regeneração natural ou recomposição. "Mas é preciso que lideranças se unam para que isso possa acontecer sem a utilização de recursos diretos da União".

Desapropriação

Com relação ao valor de R$ 1,5 bilhão para desapropriar as áreas, valor informado pelo ofício ao Ministério do Meio Ambiente, Carlos Hugo alega que o valor não procede. "Cerca de 16 hectares de terras são de baixo potencial e considerando um valor acima do parque, podemos dizer que com R$ 300 milhões nós conseguimos desapropriar 80% da região", aponta.

Já com relação aos empregos, o especialista destaca que apenas 1,8 mil estão ligados à agricultura contra 5 mil na área do turismo em toda a região. "Nós temos um aeroporto muito próximo ao Parque Nacional e aos atrativos, fator que facilita muito o turismo, porém, isso se perderá com a revogação do decreto", lamenta.

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