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Perda de jovem caminhoneiro enluta a comunidade do Abapã

Geison foi sepultado às 11h da manhã desta quinta-feira (26). Foto: José Aldinan

O sepultamento do corpo do jovem de 22 anos do Distrito de Abapã, em Castro, nos Campos Gerais, comoveu boa parte dos 8 mil habitantes da comunidade rural no final da manhã desta quinta-feira (26). Geison Machado foi uma das 41 vítimas do trágico acidente ocorrido no interior de São Paulo, entre Taguaí e Taquarituba, na quarta-feira (25). Ele estava na carreta que foi atingida de frente por um ônibus cheio de trabalhadores. Doze pessoas sobreviveram, algumas com a vida ainda em risco.

O corpo de Geison, pai dos menininhos Miguel e Saulo, de 3 e 2 anos, respectivamente, foi para o mesmo jazigo do pai. Geraldo Machado também era caminhoneiro e morreu em outro acidente, há dois anos, a cerca de 70 km do local onde ocorreu o choque fatal de Geison.

Corpo de Geison foi colocado junto ao pai. Foto: José Aldinan

Um grupo de amigos fez questão de homenagear o jovem indo de caminhonete à missa de despedida e ao cemitério, que fica no alto de uma colina do Distrito permeado de pequenas estradas rurais. O assunto dominante nas conversas eram as paixões de Geison por caminhonetes e caminhões.

“Era o que ele mais gostava de fazer”, contou uma das tias à reportagem na saída do sepultamento. A paixão passou de pai para filho. Geraldo Machado era dono de uma empresa de transportes. Ele tinha a posse de ônibus e caminhões, mas ao longo do tempo passou a investir com mais afinco apenas nos caminhões.

Com a morte de Geraldo no acidente em Bernardino de Campos (SP), em julho de 2018, Geison não pensou duas vezes e quis como herança apenas os caminhões. “A família tentou uma época convencer o Geison a ficar mais tempo perto e parar um pouco, mas não tinha jeito”, relembra a tia. Atualmente, o jovem caminhoneiro tinha como endereço a casa de um dos tios, em Castro, mas sua morada de fato eram as imensas e perigosas estradas do Brasil.

Geison postava fotos dentro dos caminhões que comandava e que amava. Foto: Arquivo Pessoal

Nascido, crescido e sepultado no Distrito, o rapaz era conhecido na comunidade que fica no meio da Estrada do Cerne, a PR-090.

Abalo

“Puxa, quem não conhecia a família do Geraldo? Tenho uma filha com a mesma idade do Geison. Muito triste perder o menino dessa forma”, lamentou um colega da família que acompanhou o sepultamento à distância.

A despedida reuniu ao menos 30 amigos e familiares no Cemitério do Abapã. Muitos jovens. Naquele momento, nos pequenos comércios, os televisores estavam ligados nos noticiários sobre a tragédia nacional que abalou aquela comunidade.

Muitos jovens – amigos de Geison – estiveram presentes na despedida. Foto: José Aldinan

Aptidão

Nas ruas, Geison também era conhecido pela habilidade na boleia de caminhões e carretas. “Ele estacionava uma carreta em qualquer espaço”, disse um dos amigos durante o sepultamento.

Uma das tias dele contou que desde pequeno o sobrinho acompanhava o pai nos caminhões. A família tinha ao menos duas carretas. Uma delas a que envolvida no acidente em Taguaí.

O pai de Geison foi um dos que ajudou a criar fama ao filho. “O Seu Geraldo dizia – contou outro colega da família – que o menino era bom de boleia. Ele falava: ‘eu, às vezes, dou umas erradas, mas o menino dirige muito bem’”.

No entanto, houve versões adversas sobre quem estava no volante do bitrem no momento do acidente. Pelas informações colhidas no local, a polícia paulista afirma que era Geison. O fato do rapaz não possuir habilitação para conduzir aquele caminhão, de alguma forma, contribuiu para o desencontro de informações.

Mas não há dúvidas quanto a responsabilidade da tragédia: a carreta estava na sua faixa e o ônibus na contramão – o que também não exime a suposta infração. Geison tinha outros quatro irmãos e foi na caçamba da caminhonete de um deles que seu corpo foi transportado da igreja até o cemitério. Emoção, abraços e aplausos marcaram a solenidade nos fundos do local.

Itaí (SP) faz velório e enterro em série

Estadão Conteúdo

Às 3h45, em plena madrugada, Margarete Santos, de 39 anos, segurava um arranjo de flores e assistia em silêncio a terra encobrir o caixão do marido Claudinei Carlos Barboza, de 30. Acompanhando a viúva havia apenas uma tia e quatro coveiros, que, mesmo aparentando cansaço, se esforçaram para acabar o trabalho o quanto antes. Entre o corpo chegar ao cemitério e o fim do sepultamento passaram exatamente 15 minutos.

Aquela era sexta vez em poucas horas que a cena se repetia no Cemitério Municipal de Itaí, no interior de São Paulo, cidade onde moravam 37 dos 41 mortos no acidente.

Com muitos corpos a enterrar e orientação do Instituto Médico Legal (IML) para evitar o mau cheiro, os velórios duravam cerca de duas horas e os sepultamentos, feitos a toque de caixa e na presença de poucas pessoas, vararam a noite. Todos os caixões estavam fechados. Em alguns, havia apenas uma pequena foto da vítima.

Sem iluminação adequada, o cemitério precisou receber caminhões de luz emprestados de concessionárias de rodovias para realizar os velórios em série. Ainda assim, familiares e parentes das vítimas tiveram de usar a lanterna de celulares para guiar os passos até as covas abertas. Durante os enterros, o silêncio era mais comum do que o choro.

Antes da tragédia, os novos túmulos em Itaí variavam entre 12 e 15 por mês. Só nesta quinta-feira, no entanto, foram escavadas mais do que o dobro: 37. Os velórios foram realizados em três locais diferentes, com controle de acesso e distância de seis metros entre os caixões por causa da pandemia da covid-19.

O esforço exigiu uma força-tarefa, com a transferência de funcionários de outros setores da Prefeitura para atuar nos enterros, além da ajuda de voluntários e de cidades vizinhas, como Fartura e Taguaí, o local do acidente. Para os velórios, a cidade recebeu até suporte de caixão emprestado. As três funerárias do município, até então concorrentes, também juntaram as equipes para dar conta dos corpos.

Segundo o prefeito Thiago Michelin, a maioria das vítimas tinha até 27 anos. “São jovens que acabaram de entrar no mercado de trabalho e estavam no primeiro emprego. É o dia mais triste da história Itaí”, disse.

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