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Seca x coronavírus: falta de chuvas contribui para o aumento da propagação do vírus

Ponta Grossa vive a pior seca dos últimos 23 anos, com acúmulo de chuvas de 24 milímetros, quando a média é de 120 milímetros nos meses de março. Os dados preocupantes, no entanto, vão além da estiagem que reduz o nível da água nos rios, mas revela um risco ainda maior para a saúde da população, principalmente, neste período de enfrentamento e combate do novo coronavírus. Isso porque os períodos de seca e estiagem que o município enfrenta podem favorecer ainda mais a propagação do vírus Sars-CoV-2 causador da doença covid-19.

O médico pneumologista, Pedro Compasso, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e do Centro Médico Super Dr. Saúde Integrada, Pedro Compasso, explica que a seca prolongada, principalmente quando vem associada às baixas temperaturas, favorece que as pessoas tenham mais sintomas de problemas respiratórios.  

“As pessoas tossem mais com o ar seco, desenvolvem sintomas alérgicos de tosse, chio no peito e fazem asma sazonal. Como o coronavírus se propaga mediante projeção de partículas respiratórias, quanto mais tosse na população, mesmo que seja em razão do clima, mais eu terei proliferação das gotículas da tosse e, portanto do vírus. Se considerarmos que boa parte da população pode ser portadora do vírus de forma assintomática – sem sintomas – ou portadora com sintomas mínimos – as pessoas vão tossir mais e vão projetar mais e disseminar mais o vírus”, diz o especialista.

No tempo seco, segundo Compasso, ocorrem as enfermidades sazonais. A região dos Campos Gerais, por exemplo, têm algumas doenças bem definidas por conta da estação do ano aliada ao tempo seco. “Eu posso ter clima seco e frio juntamente com a polinização. Esse fator pode aumentar as doenças alérgicas de forma geral como renite, conjuntivite, laringite, nariz trancado e tosse frequente. Mas, se o paciente não for tratado, aumenta a produção de secreções inflamatórias. Quando aumentam as secreções, aumentam as chances de infecções oportunistas, como a faringite infecciosa, amidalite, as traqueobronquites infecciosas e as pneumonias”.

Já com relação a gripe, o pneumologista comenta que ela não aumenta durante o tempo seco. “Os vírus responsáveis vão estar mais prevalentes durante o frio e de acordo com o comportamento social das pessoas. Se acrescentar o frio com o tempo seco dai sim é relação para as doenças virais como resfriados, gripes normais, a H1N1, insuficiência respiratória por pneumonia viral e dai sim entra também a condição da covid-19”, ressalta Compasso.

 

Coronavírus x temperaturas

Ainda segundo o pneumologista, a membrana do vírus Sars-CoV-2 é lipoproteica e a camada que existe na membrana do vírus possui duas características. “A primeira é a de que a gordura isola a água dentro do vírus, pois gordura e água não se misturam e isso evita que em temperaturas normais ela evapore. Então o vírus é resistente a diferentes temperaturas. A quantidade de líquido que tem na estrutura viral fica protegida dentro do vírus mediante essa membrana que é gordurosa. E essa mesma membrana é que é o nosso caminho para destruir o vírus mediante a higiene. Quanto mais lavarmos as nossas mãos com água e sabão, mais chances teremos de remover o vírus na superfície das nossas mãos. O mesmo vale para usar as soluções assépticas com álcool em gel para os ambientes”, destaca.

Porém, segundo Compasso, ainda não existem estudos que comprovem que o coronavírus não consiga sobreviver ao sol. “Não existe qualquer estudo que comprove isso, nem tampouco exista algo em andamento”, finaliza o médico.

 

Período de seca

De acordo com o meteorologista do Simepar, Fernando Mendonça Mendes, o mês de fevereiro foi bastante interessante para Ponta Grossa em termos de chuvas com médias diárias registradas de 27,8 milímetros a 13,6 milímetros. Mas os meses de março e abril foram bastante escassos onde choveu 60 milímetros a menos do que estimado para a média desse período.

“Nesse período de outono tivemos deslocamento de frentes frias com poucas atuações que é o principal fator que traz condições de chuvas. Tivemos, portanto, massas de ar com características mais secas. Então essa foi uma das razões que tivemos o regime de chuvas diminuído”, explica.
 

Previsão

Para os próximos dias, estão previstas chuvas nos dias 5 e 6 de abril em Ponta Grossa. “Uma frente fria terá deslocamento na região onde haverá recuperação de umidade e aumentará a formação de nuvens. A média de chuvas deverá ser de 30 a 40 milímetros no dia 5 e de 5 milímetros no dia 6. Mas temos que levar em consideração que essa previsão foi baseada na simulação de hoje (29) e poderá mudar”, aponta o meteorologista.

 

Rio Pitangui está com vazão reduzida em 70%

A Sanepar informou, na manhã de quarta-feira (29), que, por conta do longo período de seca, o Rio Pitangui, onde fica segunda captação de água da companhia, está com a sua vazão reduzida em torno de 70%. Já a represa do Alagados está com 32% do seu volume útil e uma lâmina de água de 7,25 metros. Para a empresa, o valor é considerado abaixo do estimado. “Fora da estiagem, a lâmina de água na represa do Alagados varia entre 9 e 10 metros de altura”, informou.

Questionada pela reportagem sobre a possibilidade de racionamento na cidade, a Sanepar informou que, por enquanto, não há previsão de implantar o racionamento em Ponta Grossa. “A Sanepar estima ainda conseguir atender a demanda por cerca de 30 dias, caso não chova em volume considerável na região. Se isso não ocorrer, vai estudar medidas alternativas para manter o abastecimento na cidade”.

De todo modo, de acordo com a Sanepar, é imprescindível a colaboração de toda a população no uso consciente da água tratada para ajudar a manter o abastecimento no município. “A Sanepar orienta para que os moradores façam uso racional da água, priorizando a higiene pessoal, principalmente para a prevenção da covid-19 e a alimentação. Outras atividades, como lavar carros, calçadas, regar jardins, devem ser adiadas para quando passar o período de estiagem”, finalizou a companhia. (L.S.)

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