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Saiba como identificar e trabalhar a ansiedade durante a quarentena

A ansiedade é um transtorno que afeta boa parte da população, mas como trabalhar com ela durante o período em que as pessoas estão mais isoladas, devido a pandemia do coronavírus, fator que se soma ao medo e a angústia de contrair a covid-19? Para esclarecer estas dúvidas, a psicóloga e neuropsicóloga, Lílian Gomes, conversou com a reportagem do Diário dos Campos e orientou para alguns sintomas que precisam ser analisados, principalmente nas crianças, jovens e idosos.

“O que estamos vivendo é uma situação inédita. Quem iria imaginar que nós iríamos passar por uma questão como essa. O Brasil sempre foi privilegiado sem guerras e terremotos, por exemplo, mas hoje temos um inimigo invisível que se instalou mundialmente. E isso é um choque, pois as pessoas perderam a sua autonomia, o direito de tomar decisões, estavam acostumadas a ir para a academia, a ter encontros sociais e de uma hora para a outra se deparam com esta situação”, contextualiza a psicóloga.

A privação de liberdade onde as pessoas estão impedidas de determinar as suas próprias decisões geram o sentimento da frustração. “Nas primeiras semanas nos envolvemos em outras atividades que não eram realizadas por conta dos nossos compromissos externos. Voltamos a cozinhar, lemos aquele livro, organizamos a casa. Porém, chega em um momento que isso se esgota e nessa hora a pessoa começa a sentir algo que nunca havia sentido antes, mas não consegue identificar. Ela só sabe que algo não está funcionando de maneira tranquila e que nem ela mesmo sabe explicar. É nessa hora que é preciso agir para identificar o problema”, comenta.

A especialista explica que a ansiedade é uma sensação que todos carregam ao estabelecer desejos de uma viagem, um projeto, um novo emprego, por exemplo. Mas ela pode vir a se tornar patológica durante esta pandemia. “São perguntas que surgem de como será que será nossa vida daqui em diante, considerando que o inimigo invisível está aqui. E aí sim a necessidade de dialogar e se manifestar verbalmente para tirar de dentro de si esse sentimento e medo”.

 

Como identificar?

Um dos principais sintomas da ansiedade é a mudança de comportamento no sentido de analisar se a pessoa era mais calma, mais tolerante e de repente muda radicalmente, ficando mais agressiva, e começa a se isolar. “A ansiedade e a depressão caminham juntas. É preciso analisar algumas atitudes, como não querer se arrumar, não querer se alimentar ou não querer conversar mesmo que virtualmente com os amigos e familiares. Estar em quarentena não significa passar o dia de pijama. É preciso cuidar da casa, da aparência. O choro fácil e aquele medo de que não vai passar também são sintomas. A incerteza que todos estamos vivendo é que está dando o norte e determinando o nosso estado emocional, por isso, é importante fazermos a nossa parte”.

 

O que fazer?

Primeiramente, segundo Lílian, é preciso identificar como a pessoa está se sentindo, olhando para dentro e analisar a forma como ela agia antes da pandemia se instalar. “Após olhar para si, é importante trabalhar a respiração, a concentração e a meditação. Fazer terapias ou continuar com elas caso a pessoa já fazia. Escrever o que sente também um muito importante”.

“Ajudar outras pessoas, colaborando e lembrando do seu histórico positivo, e fazer algo que para si seja prazeroso, pode ser em termos virtuais, conversando com outras pessoas também ajudam nesse controle emocional”, complementa.

 

Ansiedade x Jovens

A orientação para os jovens, que estão acostumados a sair, é estabelecer redes de contato e participar de videoconferências com os amigos durante a quarentena. “É preciso montar novas estratégias de convívio. O jovem precisa gastar muita energia, fazendo exercícios coletivos, fazer o estudo de uma língua estrangeira, trocando sua própria preocupação com um amigo. E não deixar que o próprio imaginário tome conta. É preciso viver o hoje”.

 

Ansiedade x Idosos

Para os idosos, a orientação da psicóloga é ter calma, paciência, companheirismo e tolerância. “Se for um casal, é importante haver a troca e compartilhamento das atividades domésticas. Fazer este intercâmbio e estabelecer atividades em comum. Contemplar o sol e a natureza. Fazer uma leitura e assistir bons filmes. Não é fácil. A forma como as pessoas conviviam foi quebrado. Aceitação, paciência, compreensão e empatia são os segredos”.

 

Ansiedade x Crianças

Algumas crianças não entenderam o motivo de não poder ir mais para a escola e se relacionar com os coleguinhas. Por este motivo, os pais devem ficar atentos para que os filhos não desenvolvam a ansiedade ainda crianças.

“Os pais devem ficar atentos se a criança se isola, se elas têm dificuldades de sono, de alimentação e mudança no comportamento no sentido da relação com os pais e irmãos. É preciso reparar se elas choram muito. Os pais devem envolver as crianças em brincadeiras e atividades lúdicas para que fiquem passivas. Também mudar no sentido de não ficar somente com brinquedos eletrônicos. Os celulares podem ser utilizados desde que haja um controle para ver o que estão vendo e jogando para que não aumente esse nível de ansiedade nas crianças”.  

 

Riscos para a saúde

O principal risco é perceber as oscilações de humor que ocorrem considerando esse confinamento. “Se a pessoa nunca percebeu esse nível de ansiedade e se isso está prejudicando, surgindo sentimentos de frustrações e medo do futuro. Sentimentos de que ela não vai dar conta dos seus sonhos e projetos que foram cortados devido a pandemia. É importante melhorar a qualidade de vida percebendo os seus reais valores. Essa situação é uma grande oportunidade para saber como estamos nos sentindo e sendo mais solidários, enxergando o outro que está do nosso lado, respeitando”.

 

Medicamentos

“Quando a ansiedade faz com que a pessoa se sinta sem força de vontade e tenha reações agressivas, é preciso procurar tratamento psicoterápico ou com um psiquiatra. É necessário quando os pensamentos negativos são tão grandes por medo do receio por conta do alto número de preocupações. Então ela precisa ser medicada para fazer o alto controle dessa sensação”, destaca a neuropsicóloga.

 

Tratamento com terapia

A terapia, de acordo com Lílian, é indicada quando a pessoa sente que não tem vontade de mais nada, não quer conversar com ninguém ou quando quer ficar totalmente isolada. “Na psicoterapia ela terá oportunidade de se colocar sem censura e sem julgamentos. Muitas vezes, conforme o estado emocional, precisamos fazer um trabalho em conjunto com o psiquiatra para sair da crise. Quando os dois tratamentos caminham juntos, a possibilidade de sair da crise é maior. Porém, para fazer terapia não precisamos estar adoecidos e é importante para podermos entender algumas questões que nos preocupam”, finaliza. 

 

 

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