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Parceria entre universidade e indústria estimula inovação

São vários os aspectos que colaboram para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras a partir de instituições universitárias. Isso inclui a qualidade do ensino, os investimentos públicos e a dedicação de professores e acadêmicos em projetos e pequisas. Mas um deles talvez seja especialmente determinante: a convergência de interesses e o trabalho conjunto entre universidades e empresas.

Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma pesquisa iniciada em 2009 está perto de ganhar resultados práticos, graças a essa união. Em 2013, a empresa Águia Sistemas veio até a UEPG em busca de ideias inovadoras para produtos que substituíssem as tradicionais placas de cimento denominadas Portland. Foi quando a pesquisa em geopolímero chamou a atenção.

Luiz Lima era um dos acadêmicos envolvidos na pesquisa da época. Atualmente, ele é funcionário na empresa, dá seguimento às pesquisas na UEPG em seu doutorado, e explica que o material, em forma de placa de cimento, preencheu os requisitos buscados pela Águia em sua produção: uso de matérias-primas locais, composição de pelo menos 50% em produtos reciclados, e menor gasto energético na elaboração.

“Mais de 90% da placa é composta por produtos que têm reaproveitamento. O restante são reagentes químicos”, explica Lima, que viu a ideia ganhar corpo a partir da parceria. O processo de desenvolvimento já levou os pesquisadores e empresa a patentear produtos no Japão, China, União Europeia e Estados Unidos. “Isso também foi possível porque essa parceria nos envolveu em congressos no exterior, incluindo França e Estados Unidos, trazendo ideias e melhorando o que já havíamos criado”, conta.

 

Rodrigo Covolan
LTestes realizados em laboratório s

 

O produto

As placas de cimento geopolimérico são, em sua base, uma espécie de cimento composto por vidro. Ao longo da pesquisa, mais de 300 variáveis com outros materiais somados à matéria-prima original já foram criadas para chegar mais perto da perfeição no que se refere a peso, durabilidade, absorção de umidade e resistência no uso prático. A pesquisa agora é de mão-dupla. No laboratório de síntese do Curso de Engenharia de Materiais da UEPG são feitos testes com placas que têm 10% do tamanho das comerciais. As placas que atingem qualidade mais expressiva são levadas para uma linha de produção piloto na fábrica, onde adquirem tamanho em aspecto comercial e passam por testes de uso prático. Em seguida, os resultados são trazidos, novamente, à Universidade, onde a equipe de pesquisa volta a implementar melhorias.

 

Interesse acadêmico

Carolina Teixeira Silveira é aluna do 5º ano de Graduação em Engenharia de Materiais, e há pouco mais de seis meses participa do projeto para produção de placas de cimento geopolimérico. “Fiz o estágio obrigatório, e agora vou continuar até o final do ano. Era um projeto do qual eu tinha ouvido falar, porque todo o curso comenta. Tanto que quatro ou cinco outros alunos procuraram o coordenador para fazer parte, depois de uma palestra falando sobre o assunto”, recorda.

Troca de informações

O professor Sidnei Pianaro, que coordena a pesquisa de geopolímeros, acredita que o Brasil ainda precisa ampliar suas parcerias em pesquisa. Mas ele não tem dúvidas dos benefícios que a soma entre teoria e prática proporciona. “É muito gratificante ver sua pesquisa em processo industrial. E a participação de acadêmicos num projeto em parceria com a indústria oferece contato com a realidade industrial, a qual muitas vezes é diferente da vivida na Universidade”, lembra.

 

Investimento industrial

O diretor da Águia Sistemas, Rogério Scheffer, explica que as placas de cimento geopolimérico estarão entre os produtos da nova fábrica da Águia Sistemas, a ser instalada no Distrito Industrial de Ponta Grossa. O investimento previsto é de R$ 90 milhões, e devem ser gerados mais de 200 empregos diretos e 580 indiretos. “Temos grande empolgação no projeto, que tem propósito de levar ao mercado um produto com valor econômico e com sustentabilidade, usando materiais reciclados em sua composição e liberando apenas vapor d’água na atmosfera”, comenta Scheffer.

 

Universidade além de recursos humanos

A UEPG possui uma agência voltada especialmente para a gestão da inovação e proteção dos direitos da propriedade intelectual, fruto de resultados de pesquisas desenvolvidas na Instituição. A Agipi atua há cerca de 10 anos e, embora o número de pesquisas seja grande, assim como o de empresas do setor de tecnologia é significativo, apenas a parceria com a Águia Sistemas foi efetivada. Uma está em fase de assinatura e outra em negociação. Para o gerente do Escritório de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia, Angelo Legat, as parcerias tendem a aumentar com o tempo.

“É uma questão cultural e faz parte do processo de desenvolvimento tecnológico e de integração Universidade + Empresa. A empresa precisa pensar que a Universidade está aqui também para ajudar tecnologicamente, e não só com a formação de recursos humanos de qualidade. Há todo um potencial de resultados de pesquisas que podem resultar em novo produto, novo processo ou resolução de problemas técnicos, mas a efetivação deste processo é lenta”, explica.

 

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