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Só com estabilidade política poderemos vencer a crise, diz Aliel

Danilo Kossoski

 

Fabio Matavelli
Acredito que precisamos ter estabilidade política para poder superar essa crise que está acontecendo, em grande parte, por causa dos próprios políticos”

 

O ano de 2016 foi, na visão do deputado federal Aliel Machado (REDE), um ano em que muitas personalidades do meio político se viram expostas, na maioria dos casos devido a práticas ilegais que minaram a política em si. Como consequência, veio um impeachment, resultado da esperança de que uma medida extrema devolvesse a relativa prosperidade que o País conheceu ao longo dos últimos anos.

Para Aliel, no entanto, o impeachment foi apenas uma faceta dos muitos acontecimentos deste ano, e o prenúncio de muitos outros fatos que preocuparam, e ainda preocupam, ainda no ano de 2017. Confira essa e outras análises do deputado nesta entrevista exclusiva ao DC:

 

Qual é a sua avaliação acerca da política nacional em 2016?

Foi um ano de exposição. Dá pra se dizer que é um ano em que as feridas ficaram expostas, porque se descobriu muita coisa ruim. Também foi um ano eleitoral, no qual a população teve oportunidade de debater, discutir os problemas dos municípios onde elas moram, e foi um momento turbulento em Brasília. Além do impeachment, teve a cassação e prisão do Cunha [ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha], entraves entre poderes legislativo e judiciário, votações polêmicas que trataram de corrupção e votações polêmicas que trataram da retirada de direitos muito ruins do povo brasileiro. Eu dou destaque a PEC 241 (que depois foi a PEC 55), que na minha opinião foi a maior retirada de direitos da história, após a redemocratização em nosso País. Nos próximos anos, ela trará impacto muito forte para as pessoas mais pobres. Agora tem proposta polêmica, novamente, que é a reforma da previdência, que é [uma medida] muito pesada contra os trabalhadores, principalmente os mais pobres, assalariados. Então, é um ano muito turbulento.

 

O próximo ano, na sua opinião, tem perspectiva de melhorias?

Acredito que precisamos ter estabilidade política para poder superar essa crise que está acontecendo, em grande parte, por causa dos próprios políticos. Essa delação da Odebrecht encurrala o governo federal. Michel Temer aparece dezenas de vezes nas delações. Os ministros mais fortes do governo estão todos envolvidos nessas delações. Então, não tem estabilidade. Eu confesso que tenho preocupação muito grande com 2017 também, porque não se tem legitimidade com um governo envolvido em corrupção, envolvido em pautas negativas que retiram direitos. E eu volto a defender meu discurso do início do ano de 2016: somente uma nova eleição presidencial traria uma estabilidade política, uma liderança para governar o País nesse momento de crise política,  financeira e moral. Quem não tem moral não tem condições de governar num momento como esse. Agora a situação se agrava porque tem processo no Tribunal Superior Eleitoral que já poderia ter cassado a “Chapa Dilma-Temer”. Mas, a partir de 31 de dezembro, havendo essa cassação, seja por qualquer meio, nós teríamos eleições indiretas. E, aí, eu já não sei o que seria pior… Deixar esse governo pífio que se encontra lá, ou ter uma eleição indireta em que o Congresso seria o responsável por fazer a escolha do novo presidente. Por isso, desde o início eu dizia que não era correto buscar um caminho alternativo sem a participação popular na escolha. E somente uma nova eleição – lá no impeachment eu defendi isso – somente assim nós criaríamos uma estabilidade política para nos recuperarmos dessa crise.

 

O que achou de sua participação como candidato a prefeito de Ponta Grossa?

Achei muito positiva. Não sou de família de político, minha campanha foi extremamente simples, com pouquíssimos recursos. Enfrentei a máquina pública, porque a Prefeitura colocou máquinas na cidade inteira para fazer obras. Tinha mais de 300 cargos comissionados trabalhando na campanha. Eram mais de 400 estagiários trabalhando em período eleitoral, e se vendeu uma realidade que não era verdadeira, na minha opinião. Tanto que a realidade está aí, as pessoas estão acompanhando. Temos corte de serviços públicos essenciais por falta de pagamento. Então, a Prefeitura concentrou a gestão em mostrar uma imagem perante a eleição. Mas, isso não é desculpa. Tivemos uma campanha bonita. Alcancei quase 80 mil votos, com 45% da população que optou pelo nosso projeto político. Respeito o resultado das urnas. Isso está superado, e agora temos que fazer com que a cidade sofra menos e se desenvolva.

 

De que forma o País poderá superar a crise financeira?

Com responsabilidade, parando de fazer política antiga. Os estados que mais sofrem com a crise são Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que elegeram seus governadores no ano de 2014. Mas o Paraná teve uma reeleição, e houve uma ajuste fiscal pesado no Estado, com aumento de impostos. Então, [a crise] não é justificativa porque o governo atual já era governo anterior. E existem estados que não estão nessa situação financeira. A própria Prefeitura de Ponta Grossa não pode usar isso como desculpa, por mais que estejamos em crise e os repasses não sejam de acordo com os anos anteriores, porque o aumento de arrecadação do Município fica claro. Basta observar o orçamento, que diminuiu em um único ano. E a Prefeitura teve aumento de impostos significativo. O problema é gastar de maneira irresponsável. O prefeito diz agora que vai cortar 30% dos cargos comissionados. Por que não fez antes? Por que criou tantos cargos comissionados? Esse é um exemplo, mas existem outros.

 

Estamos vendo diversas reformas a nível federal. Qual acha que será o resultado delas?

Essa reforma da previdência proposta pelo governo não tem outra palavra a nãos ser dizer que é uma “vergonha”, porque exclui os mais pobres e impossibilita a aposentadoria de vários setores, principalmente dos mais humildes. O governo não tem legitimidade para fazer isso, porque não é proposta nova, ela estava prevista no [Programa] Ponte Para o Futuro, do Sr. Michel Temer. É necessário que se tenha uma reforma, sim, tributária, trabalhista, da própria previdência, mas é preciso legitimidade, e não nos termos que estão sendo encaminhados pelo governo. Ainda não tive acesso a todo o teor da reforma trabalhista, mas já estou assustado com notícias às quais tive acesso. Novamente o texto tende a defender o lado do mais forte e enfraquece o mais fraco, que é o trabalhador. E a gente não pode partir da premissa que, no momento de dificuldade, quem tem que pagar a conta é lado mais fraco. O País paga bilhões de reais e grande parte de sua arrecadação com juros. O setor produtivo paga também. e governo toma medidas, na minha opinião, paliativas que não vão resolver o problema como deveria ser.

 

E a reforma política sairá do papel?

O Congresso não foi capaz nem de proibir o financiamento privado de campanhas. Quem fez isso foi o STF após um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil, com interpretação constitucional. Eu vejo uma pulverização muito grande em relação aos temas que envolvem a reforma política em muitos partidos, e isso dificulta avanços, porque sempre há um setor da política prejudicado lá dentro, e é difícil aos partidos votar contra regras que elegeram os mesmos partidos atualmente. Eles acabam pensando com o próprio umbigo. É uma autodefesa. E a reforma política, pra mim, seria a mãe de todas as reformas, mas que dependeria de uma constituinte exclusiva, chamando a população para fazer uma escolha, que poderia ser por plebiscito. Vejo que é importante o debate, e estaremos avançando em temas cruciais, mas não tenho muitas expectativas porque já foi tentado várias vezes, e com um governo extremamente frágil é mais difícil ainda.

 

O que a população pode esperar de seu mandato em 2017?

Continuaremos com um mandato popular, participativo, defendendo os direitos dos trabalhadores, o setor produtivo. Vamos continuar brigando para trazer recursos. Nos últimos dois anos, tivemos mais de R$ 8 milhões das emendas individuais empenhadas e várias já pagas, como do Pronto Socorro [Hospital Municipal Dr. Amadeu Puppi], com mais de R$ 1 milhão, e vamos lutar para que tudo isso continue acontecendo, mas não entregando o que temos de mais importante no mandato do legislativo, que é a independência, sem estar amarrado com o governo. Não participo de nenhum conchavo que me amarre e não me permita fazer o debate que as pessoas esperam. E vou continuar assim, com total independência para fazer a defesa do que a gente acha correto.

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