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Péricles afirma lutar contra “retrocesso conservador”

Deputado estadual faz balanço de atividade política e entende que País está em período em que direitos assegurados estão sob riscos

Divulgação
Péricles: “O principal foco de nosso mandato, agora, será de mobilização e resistência de Ponta Grossa e dos Campos Gerais contra esse pacote federal de retrocesso”

 

O deputado estadual Péricles de Holleben Mello (PT) trabalhou em 2016 no que chama de “autocrítica” junto ao seu partido, buscando revisar formas de atuação e exposição que tacharam o PT como corrupto após as denúncias que resultaram no impeachment na presidenta Dilma e enfraquecimento da legenda. Péricles afirma que o impeachment foi injusto, uma cortina de fumaça para o que ele chama de “retrocesso conservador”, com a perda de garantias ao trabalhador e prejuízos à população brasileira mais pobre. Para ele, 2017 será um ano de luta contra essa transformação promovida a partir do governo federal de Michel Temer. Confira a entrevista concedida ao Diário dos Campos:

Diário dos Campos – Que avaliação você faz de 2016 para a política?

Péricles de Holleben Mello – O ano foi marcado na História do Brasil por conta do impeachment da presidenta Dilma. Uma de nossas principais ações foi lutar contra esse impeachment injusto, porque ela foi condenada por um crime que praticamente todos os governadores cometeram, que não é crime na verdade, as chamadas “pedaladas fiscais”. O que está por trás disso é um retrocesso conservador no Brasil, que está se concretizando agora. Conseguiram tirar uma presidente, contra a qual pesa a tragédia que aconteceu no PT, que foi a corrupção. Mas a Dilma é uma das poucas na política contra a qual não havia nenhuma acusação consistente, e justamente ela perdeu o mandato. Hoje, fica claro que a [Operação] Lava Jato atinge todo o universo político brasileiro, e mostra para o povo que temos uma política brasileira profundamente atrelada ao poder econômico. Enquanto não tiver uma reforma política profunda, com uma nova forma de votação, com participação popular, infelizmente, vai acontecer a Lava Jato e outros episódios de corrupção. Infelizmente, está havendo uma solução do Temer presidente, que é o que a gente chama de “retrocesso conservador” em todas as áreas. O guarda-chuva símbolo desse processo é a PEC 55, que congela gastos por 20 anos. Mesmo que o País cresça, o governo só vai poder gastar o que gastou no exercício anterior, mais a inflação, e o resto é usado para pagar a divida ativa. Mesmo que essa PEC não dure muito tempo, ela foi essencial porque, a partir dela, vão fazer as outras leis: a reforma da previdência, a terceirização radical do trabalho, a CLT vai ser, praticamente, rasgada.

DC – O trabalhador assalariado é o maior prejudicado?

Péricles – Sem dúvida! Direitos históricos do mundo do trabalho vão ser aniquilados! E temos a reforma da previdência, que vai afetar todo conjunto da população brasileira. O que vem acontecendo com o meio rural hoje? O que salva os pequenos agricultores é a aposentadoria, porque na agricultura familiar eles recebem um salário-mínimo, e isso vai acabar. Uma empregada doméstica viúva que recebe a pensão do marido, que trabalha muito e recebe pouco, que vive com dificuldade, terá que optar pela pensão ou aposentadoria. Na desvinculação dos benefícios de prestação continuada, pessoas muito pobres talvez deixem de receber o salário-mínimo. Um jovem vai ter que trabalhar 49 anos para se aposentar com o máximo do INSS. Não tem cabimento! Na construção civil, muitas vezes o pedreiro trabalha temporariamente, depois com carteira assinada. Com essa irregularidade, quando vai se aposentar? Vai haver muita luta social sobre isso.

DC- O que pautou seu mandato em 2016?

Péricles – O que pautou a nossa luta neste ano foi a resistência ao impeachment como deputado e a participação na autocrítica que o PT tem que fazer. Estamos preparando um congresso do PT para o mês de abril para ter mais clareza das consequências da Lava Jato, e também faremos o encontro municipal em março. Além disso, tivemos participação com o deputado Aliel Machado em sua candidatura para o cargo de prefeito de Ponta Grossa. Considerando todos os ataques que ele sofreu por votar contra o impeachment, sua candidatura e votação expressiva foram uma vitória política, e participei desse processo.

 

DC – Qual seu trabalho de destaque no ano que passou?

Péricles – Eu tenho trabalhado em 2016 comum tema que foi muito presente: a cultura de paz. E estou me aprofundando nessa questão moderna, do século 21, para promover uma transformação importante na sociedade brasileira e na humanidade que vive sob o código da violência. Isso ocorre em todos os aspectos: na intolerância religiosa, homofobia, preconceito com costumes, violência nas escolas, drogas, e está muito relacionado com novas formas de ação da chamada “justiça restaurativa”. Estamos agora organizando projetos de leis para implantar o processo de cultura de paz no Paraná. É uma discussão complexa para tentar promover essa ideia em todas as cidades do Estado.

DC – Você foi líder de movimento estudantil na década de 1970. Qual a diferença para as manifestações que ocorreram neste ano?

Péricles – Eu acho que, naquela época, havia uma unidade nacional em virtude do fim da ditadura militar, com foco muito grande na redemocratização do País, e em torno de grandes questões como desigualdade, concentração da terra, concentração da renda, reforma agrária, reforma tributária. Isso que estava em jogo naquela época, e pensávamos a política em termos de uma lógica de liberdade e justiça social. Progressivamente, a política começou a se despolitizar. Essas grandes causas não aparecem mais, e a grande bandeira passou a ser o combate à corrupção e uma negação da própria política. Essa é a mudança básica que existe. Mas isso não é restrito ao Brasil. Acontece na humanidade. A crise do capitalismo é muito mais profunda. A dominação do capital financeiro é muito maior que em minha época [da juventude]. Os governantes têm muito menos poder de transformação em seu País do que em minha época. Então, existe a crença de que, qualquer que seja o político, nada vai mudar. E isso tem um fundo de verdade, porque o poder do capital financeiro é muito grande.

DC – Quais seus planos para os próximos dois anos?

Péricles – Iremos continuar trabalhando com o eixo de cultura da paz e, como o que ocorre no Brasil em termos de retrocesso se repercute, quase mecanicamente, no Paraná, acho que o começo de 2017 vai ser pautado em muita luta e mobilização dos servidores públicos do Paraná, e da população brasileira contra a reforma da previdência. No Paraná o governador transformou os servidores públicos em bodes expiatórios de eventuais problemas financeiros. Mas, de 2011 para 2015, a receita do Paraná cresceu 75%, enquanto os gastos de pessoal tiveram o menor crescimento, apenas 52%. Então, não é o setor público o culpado pelos problemas que o Paraná possa ter, e o Estado não passou pela crise que o País passou, até por conta dos pacotes que o governador fez. Vamos estar ao lado dos professores e servidores para que consigam seus reajustes. O principal foco de nosso mandato, agora, será de mobilização e resistência de Ponta Grossa e dos Campos Gerais contra esse pacote federal de retrocesso que vai aumentar a desigualdade do Brasil, que já e brutal. Porque serão derrubados programas sociais de distribuição de renda, e a população mais pobre vai ser a mais atingida.

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