em

Sonetos de Edmundo Schwab

C I D A D E L A

No fogo perenal da Poesia bela
inflamo o coração, da tristeza cativo,
e, deslumbrado e inquieto, erijo a cidadela
onde encontro, por fim, de enlevos um motivo.

E em noites de luar, quando Lucina vela,
procurando no céu talvez o amante esquivo,
minha imaginação profusa se revela
e histórias imortais nos meus sonhos revivo.

Ao intenso clarão da resplendente aurora
sinto que é meu destino o destino diverso
de um cavaleiro audaz dos combates de outrora.

E de louros sequioso os receios disperso
e convicto e feliz vou pelo mundo a fora
espalhar a beleza e o esplendor do meu verso.

D E V A N E I O

Na solidão da minha sala escura
fico ouvindo, no rádio à minha frente,
aconchegante voz que me murmura
palavras cheias de paixão ardente.

Palavras repassadas de ternura
que invadem a minha alma, docemente,
evocando lembranças e a ventura
que já me acalentou e hoje anda ausente…

E a voz que desse modo carinhoso
me vem falar e faz com que eu me esquive
até ao sono para ouvi-la, ansioso,

deve ser da saudade, que revive
o que um dia escrevi, louco e ditoso,
ao cantar o primeiro amor que tive.

D U A L I S M O

Sob a aparência calma e delicada trago
no fundo do meu ser um bestial instinto;
e assim, poeta, enquanto em sonhos me embriago
tudo o fauno destrói, de luxúria faminto.

Com  a mesma paixão ora esmurro, ora afago,
e logo após, num verso, extravaso o que sinto.
E se na face ostento a placidez de um lago
dentro de mim abrigo um vulcão não extinto…

Perverso Dorian Grei, diabólico e nefando.
sinto um demônio em mim que subjugar não posso:
arrasto-me na lama, obediente a seu mando.

E cada novo dia, em contínuo alvoroço,
sinto que a alma senil mais negra vai ficando
e o corpo cada vez vai ficando mais moço.

T É D I O

Tudo na vida um dia se esboroa
e cai no ramerrão do cotidiano;
cansam as coisas más, também a boa,
somente o tédio cresce, ano após ano…

Cansa o vadio de seguir à toa,
pois derrotar o tempo é jogo insano;
cansa o rei de ostentar, com o coroa,
o tolo emblema do poder humano…

Também eu já cansei de andar em frente:
exausto lavrador, à minha messe
já não me apego como antigamente.

Hoje em coisas banais já me emaranho,
protelo tudo (a morte se pudesse)
tenho preguiça até de tomar banho!…

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