em

O eugenol do dentista e as doenças tropicais

Fabio Anibal Goiris

 

Doenças como dengue, febre amarela e malária são transmitidas pela picada de mosquitos. Embora as três doenças tenham alguns sintomas semelhantes (febre, cansaço e dor muscular), apresentam muitas outras especificidades – desde a espécie de mosquito até o tipo de tratamento. A dengue, por exemplo, é transmitida pelo mosquito aedes aegypti sendo causada por um vírus que pode ter quatro subtipos. A febre amarela, por seu lado, é causada por um vírus denominado flavivírus (transmitida por dois tipos de vetores-mosquitos). Já a malária não é causada por vírus, mas por protozoários chamados plasmodium vivax e a transmissão ocorre pela picada do mosquito anopheles.

A dengue, atualmente, é a doença com maior número de casos no país. Isto porque o ciclo de vida do aedes aegypti – transmissor da dengue – é o que está mais adaptado ao modo de vida dos humanos em metrópoles e cidades (onde existe bastante água parada e limpa).  Contrariamente, os mosquitos de malária e febre amarela vivem em ambientes silvestres, razão pela qual são mais comuns nos Estados que possuem a floresta amazônica. As três doenças podem levar à morte em casos mais graves e, infelizmente, apenas a febre amarela possui vacina. O diagnóstico de dengue e febre amarela é feito por sorologia – exame de sangue que verifica anticorpos da doença -, enquanto a malária é verificada por exame de gota de sangue para tentar encontrar o plasmodium.

Como se sabe a dengue se desenvolve em águas paradas. No caso da malária, a prevenção é feita nas regiões de maior risco com o uso de repelentes, roupas que protegem pernas e braços e mosquiteiros. Recentemente vem sendo utilizada uma solução aquosa do cravo-da-índia (que está em qualquer supermercado nas prateleiras de temperos e condimentos). O cravo tem um cheiro bem característico por causa do eugenol, uma substância que tem se mostrado eficiente no combate às larvas do mosquito da dengue. O eugenol (ou óleo de cravo) é, pois, um forte antisséptico. Contém propriedades bactericidas, antivirais e é historicamente usado pelos cirurgiões-dentistas como anestésico e anti-séptico para o alívio de dores de dente. O cravo-da-índia, originado de um arbusto (syzygium aromaticum), são botões florais secos que se mastigados têm um efeito anestesiante sobre os tecidos da boca.

O eugenol é, pois, uma substância oleosa e aromática encontrada no cravo. Viajantes vindos da Arábia já vendiam cravos na Europa, ainda no império romano. O país que mais utiliza o cravo-da-índia é a Indonésia: alguns dizem que o país inteiro cheira um pouco o aroma do cravo. O pai da odontologia moderna Pierre Fauchard já utilizava em 1720 o líquido de eugenol misturado com o pó do óxido de zinco para aliviar as terríveis dores da polpa dos dentes.

Por fim, a etimologia lembra que a palavra grega aedes significa ‘odioso’ (o agente transmissor de doença que vem do Egito) e, quem diria, para enfrentar a este odioso e incômodo vetor de doenças existe o eugenol (ou óleo de cravo). Misturado à água parada o eugenol pode matar o mosquito que, para o bem da humanidade, irá passar por uma forma de eutanásia, morrendo anestesiado e cheirando incenso.

 

 

*O autor é cientista político e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.