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Relato do século 19 é prenúncio de PG como uma Chicago

Foto: José Aldinan/DC

No final do século 19, Antônio Pedro da Silva Carvalho, filho do poderoso comerciante José Pedro da Silva Carvalho – o Juca Pedro, escreveu inspirada crônica sobre os tempos da Freguesia de Ponta Grossa. Ele estudava no Rio e estava de férias na cidade. Resolveu, daí, falar dos costumes simples dos pioneiros que se encontravam em declínio face à modernidade (luz elétrica, estrada de ferro, indústrias, imprensa, prédios). Então, vaticina que o burgo de sua infância estaria fadado a ser uma futura Chicago.

Crescimento de Ponta Grossa

Deixa interessante relato da vida local, não obstante vir a falecer em seguida de maneira trágica. Admirado das rápidas mudanças, constata que a maioria das coisas e dos acontecimentos que povoam sua lembrança não mais existiam e davam lugar a invenções ditadas pelo progresso e a costumes diferentes trazidos por outros povos. Pergunta onde estava a velha igreja “singela e sem torres, sem arquitetura nem arte, mas que tinha um não sei que de venerando na sua massa tosca?”. Ela era o símbolo da religiosidade do povo simples e sem luxo que assistia a missa tocada e cantada sob a batuta do maestro Camargo. 

Em lugar da humilde “cidade acocorada no cimo de um morro, espanta-se com novas ruas abertas que deram lugar a sobrados que substituíram as primeiras edificações portuguesas. E as festas “profanas” desapareceram? Onde estão as cavalhadas no pátio da Igreja entre mouros e cristãos, vestidos de cores fortes e aparência bizarra, que demonstravam perícia no combate e no manejo de seus fogosos corcéis. 

Não obstante essas perdas, a civilização e o progresso “não conseguiram apagar na alma das pessoas, o encanto primitivo das impressões que as emocionaram na infância, nem lhes subtraíra os sítios onde elas acariciaram os primeiros idílios, a volúpia do primeiro beijo ou o dissabor da primeira desilusão. Valia a pena o espantoso progresso que seria a porta de entrada para uma futura Chicago? Saudoso, o autor preferia voltar à adolescência para rever a antiga aldeia “naquela rusticidade gentil, ignorada do mundo, com vestidos de camponesa e ingenuidade de virgem”.

O nostálgico ponta-grossense não imaginaria que, cento e tantos anos depois, feitas as devidas adaptações, a cidade de seus primeiros sonhos continuaria a “mesma”: ao invés de carruagens trotando pelas ruas, custosos automóveis importados; em lugar da maria-fumaça, jatinhos e helicópteros; arranha-céus que tomaram conta dos espaços; Internet, televisão, telefone, que substituíram o tat-tat do código Morse. E mais de 1.600 empresas que fazem de Ponta Grossa um dos lugares mais pujantes do Brasil. Quiçá uma Chicago! 

*O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Josué Corrêa Fernandes é entusiasta da História, e autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”. Ainda, “Saga da Esperança – Trajetória do dr. Jean-Maurice Faivre”; “Ponta Grossa – História Mínima”; “Nossa História”; “O Alfanje e o Centeio – Crônicas da Imigração Eslava”; e “Prudentópolis – 100 Anos” (co-autor jornalista Francisco Guil).

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